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Articulações levam "pratos feitos" ao eleitor no Ceará
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Articulações levam "pratos feitos" ao eleitor no Ceará

O objetivo é, nos bastidores, já tentar resolver a eleição. O prato já chega feito ao eleitor. Está dentro das regras. Mas não é bom, nem muito democrático
Tipo Opinião
CID e Camilo tiveram Eunício como opositor em 2014, mas se recompuseram para 2018. Eunício depois se disse traído pelos Ferreira Gomes (Foto: Divulgação/coligação Camilo 2018)
Foto: Divulgação/coligação Camilo 2018 CID e Camilo tiveram Eunício como opositor em 2014, mas se recompuseram para 2018. Eunício depois se disse traído pelos Ferreira Gomes

Tratei nas duas colunas anteriores sobre a força das hegemonias políticas e a fragilidade das oposições (leia aqui e aqui). Há uma deturpação da política cearense. Cada um tenta ter o máximo de apoios possíveis. É do jogo, até certo ponto. Em tese, seria de se esperar que os partidos defendessem programas, bandeiras e as eleições confrontassem as diferentes visões. Na vida real, vencer e conquistar governo viraram fins em si. Diferenças são atropeladas para fechar acordos. Nas últimas décadas, passou-se a buscar com mais afinco maneiras de compor para agradar forças adversárias e atrair quem oferecer o mínimo de competitividade. O objetivo é, nos bastidores, já tentar resolver a eleição. O prato chega feito ao eleitor. Está dentro das regras. Mas não é bom, nem muito democrático.

Como oposições são esvaziadas

O governo tem capacidade atrativa quase irresistível para prefeitos do Interior e parlamentares. A pobreza, sobretudo no semiárido, pesa. Elites têm dificuldade de se estabelecer de forma duradoura. Restringem-se a grupos pequenos e frágeis. Ter espaço relevante e longevo acaba dependendo da máquina pública. Uma vez que alguém chega ao poder estadual, é difícil tirar. Outro fator é a elasticidade ideológica, a disposição para o entendimento e a adesão e a maleabilidade de princípios.

Os traços se manifestam em maior ou menor grau em cada ciclo. Na época dos coronéis, era ditadura mesmo. Já Tasso Jereissati alcançou ampla hegemonia no Interior, mas acumulava derrotas na Capital. O poder era concentrado no PSDB. A oposição era pequena, mas barulhenta. Com Cid Gomes, vários partidos dividiram os espaços, fazendo a oposição ficar muito menor que na era Tasso, até porque a esquerda virou poder.

Transições de poder costumam ter certo nível de competitividade. Quando Gonzaga Mota rompeu com os coronéis, a Assembleia Legislativa rachou ao meio. (A eleição para presidente, pelas projeções, terminaria empatada e o desempate seria por idade. No fim, Castelo de Castro teve controversa vitória por dois votos. Murilo Aguiar, o mais velho, teve infarto e acabou morrendo.) Tasso foi eleito com apoio de Mota e seguiu com dificuldades em todo o primeiro mandato. A Assembleia que se seguiu, para o governo Ciro Gomes, aí teve maioria folgada, que seria a marca ao longo de uma década.

Quando o poder se desgasta, maiorias também se fragilizam. Foi assim no fim do governo Tasso, quando Welington Landim, presidente da Assembleia, rompeu. E na segunda metade do governo Lúcio Alcântara, quando Cid Gomes (PSB) avançou para ser candidato, a base também se fragilizou. Quando Cid tomou posse, mesmo sendo adversário do antecessor, o PSDB, antigo partido governista, aderiu. No fim do mandato, foi a vez de Cid enfrentar um aliado que rompeu, Eunício Oliveira (MDB). O governista Camilo Santana (PT) venceu uma eleição disputada, mas a perspectiva de uma oposição que desse mais trabalho não se confirmou.

Até porque o próprio Eunício aderiu no penúltimo ano de mandato. Aliás, talvez uma boa mostra do quanto é duro ser oposição no Ceará. Após derrotado, Eunício se elegeu presidente do Senado. Um dos homens mais poderosos do Brasil. Mas, não sustentou ser oposição no Estado. (Buscou a reeleição com apoio de Camilo, perdeu e culpou Ciro e Roberto Cláudio, supostamente aliados na época).

O papel do governante

A oposição talvez nunca tenha sido tão pequena quanto na época de Cid Gomes. Ele era questionado, e dava boa resposta: não era ele que tinha de fomentar a oposição a si mesmo.

A postura de Camilo

Camilo, por sete anos de mandato, parecia dar pouca atenção à política. Mergulhou de cabeça em 2022. Ainda mais quando já não era governador. Foi mesmo bem agressivo. A articulação com aliados implodiu o PSDB. Bagunçou até o Psol, que retirou a candidatura ao governo, mas queria manter para o Senado, o que não era possível, mas causou muita discussão interna.

Camilo também foi incisivo para atrair deputados e prefeitos do PDT para apoiar Elmano de Freitas (PT). Verdade, eles já eram governistas e foram pegos de surpresa pelo rompimento. Então, ficaram do lado do poder, não do partido.

Como tantas forças que vieram antes, há hoje esforço para ampliar maiorias e concentrar o máximo de poder. Tal qual ocorreu das outras vezes, não é algo que se faça sem insatisfações.

Foto do Érico Firmo

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