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Fortaleza progressista? Às vezes, mas não tem medo de ousar e gosta de novidade
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Fortaleza progressista? Às vezes, mas não tem medo de ousar e gosta de novidade

O mesmo eleitor que elegeu Maria Luiza e Luizianne, no intervalo entre elas, acostumou-se a votar em Juraci Magalhães, um populista de centro-direita
Tipo Opinião
ELEITOR de Fortaleza é capaz de votos tão distintos quanto em Luizianne e Juraci Magalhães (Foto: Fco Fontenele, em 1º/1/2005)
Foto: Fco Fontenele, em 1º/1/2005 ELEITOR de Fortaleza é capaz de votos tão distintos quanto em Luizianne e Juraci Magalhães

Costuma-se dizer que Fortaleza é uma cidade progressista e de esquerda. A história é antiga. Remonta pelo menos a 1947, quando se elegeu Acrísio Moreira da Rocha, mais marcante governante da Capital no breve período democrático entre a ditadura de Getúlio Vargas e a dos generais. Numa época de hegemonia disputada por UDN, PSD e PTB, Acrísio se elegeu pelo pequeno Partido Republicano (PR), com apoio dos comunistas recém-lançados na clandestinidade. Ainda foi eleito de novo em 1954. A imagem de progressismo se consolidou nacionalmente em 1985. Maria Luiza Fontenele foi a primeira prefeita do PT em capital e a primeira mulher — ao lado de Gardênia Gonçalves (PDS), em São Luís. A impressão foi reforçada em 2004, com a eleição de Luizianne Lins (PT) à revelia do próprio partido e do então e novamente presidente Lula.

Obviamente, eleitorados mudam. Não sei se alguém que votou em 1947 irá às urnas este ano. Muitos eleitores de 1985 votarão, mas outros não mais, e muitos outros surgiram, eu inclusive. De 2004 para cá, o eleitorado mudou a valer. E a cabeça de quem votava lá não necessariamente é igual a de quem votará cá.

Mesmo naquele tempo, não sei se dá para dizer que Fortaleza deu votos de esquerda, progressistas. Acrísio Moreira da Rocha era populista e pouco ortodoxo. Em campanha, promoveu “passeata das carroças”, que fez sucesso. Sem dúvida era um voto ousado. Mas, não sei se ideológico.

Maria foi eleita numa época em que não havia segundo turno. Se houvesse, não sei se venceria — precisaria dos votos de Lúcio Alcântara. Talvez conseguisse, pois, embora de um grupo radical de esquerda, a campanha e a candidata eram leves, alegres e traziam novidade. E Paes de Andrade era alvo de maior rancor do grupo dos coronéis. Luizianne é também uma marxista, mas igualmente fez uma campanha abrangente.

O mesmo eleitor que elegeu Maria e Luizianne, no intervalo entre elas, acostumou-se a votar em Juraci Magalhães. Era um populismo de centro-direita. E havia componente de contestação, pois era um contraponto ao grupo de Tasso Jereissati (PSDB), que controlava o Governo do Estado.

Até 2004, definiria o voto do fortalezense não como progressista, de esquerda. Mas, um voto muitas vezes ousado, contra a corrente e talvez surpreendente. Um eleitor sem medo de ousar, arriscar. E que gosta de novidades. De 2008 para cá, a característica tem mudado. Nas últimas quatro eleições, venceu quem tinha o apoio do governador — mesmo que informal, casos de Camilo Santana (PT) na reeleição de Roberto Cláudio (2016) e na eleição de José Sarto (PDT). Salvo em 2012, tem vencido a situação municipal.

Na história política, o eleitor de Fortaleza também deu mostra, em vários momentos, de ser suscetível a populismos, de esquerda ou direita.

Caminhos possíveis

A saber o que irá prevalecer. O perfil pró-status quo das últimas décadas pode beneficiar Sarto ou Evandro. Wagner busca personificar o voto contestador, que dá recado aos poderosos — algo já visto tantas vezes. Se prevalecer a veia ousada, em busca de novidade e que gosta de surpreender, é capaz de André Fernandes se beneficiar.

Disputa para além do campo

André representa desafio para Wagner não apenas ao dividir a direita. Em 2016 e 2020, o Capitão simbolizava o contraponto e a possibilidade de mudança e renovação. Hoje, o candidato do União Brasil não é mais a novidade O rival do PL assumiu o posto.

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