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Austeridade e símbolo do começo de Evandro
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Austeridade e símbolo do começo de Evandro

É preciso que o símbolo reflita a realidade. Se o prefeito reduz o próprio salário e o do primeiro escalão, isso precisa ser a vitrine de uma gestão austera. Se, por trás da aparência, houver um governo perdulário, a medida se torna populismo puro e simples
Tipo Opinião
PREFEITO Evandro Leitão anuncia arrocho  (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal PREFEITO Evandro Leitão anuncia arrocho

O prefeito Evandro Leitão (PT) cumpre um script clássico para quem assume uma administração à qual fazia oposição. Depois de muitas queixas sobre as dívidas encontradas, anuncia enxugamento da máquina, corte, contenção de gastos. É ainda mais importante porque a primeira medida que ele adotou foi a renúncia de uma receita significativa — a Taxa do Lixo — suja ausência ele precisará demonstrar que não afetará a sustentabilidade financeira, sob pena de o Município ter problemas graves.

Financeiramente, o maior impacto está em medidas como cortes de terceirizados, comissionados, redução dos gastos com contratos e cooperativas, suspensão de diárias e horas extras. Porém, na política a imagem é fundamental.

Cortes de terceirizados são impactantes, mas não são vistos necessariamente como positivos — principalmente para quem perde o emprego e para as famílias. Suspensão de diárias e horas extras são iniciativas que têm lá seu nível de aprovação. Mas, do ponto de vista marqueteiro, aquilo que tem maior efeito simbólico é mesmo a redução do salário do prefeito, da vice-prefeita e dos secretários.

Não é isso que vai resolver o problema financeiro da Prefeitura. Mas, se haverá medidas de contenção e que exigirão sacrifícios da máquina pública, quem comanda precisa dar exemplo. Politicamente, é inteligente a estratégia de Evandro de, como parte do pacote, anunciar em destaque a redução do salário dele, da vice, Gabriella Aguiar, e dos secretários. É preciso dar o exemplo. O impacto é também financeiro, mas é, principalmente, simbólico.

No todo de uma máquina bilionária, não são o salário dos governantes e algumas dezenas de auxiliares que irão fazer diferença financeira real. Por isso, políticos muitas vezes se dão o luxo de aumentar salários e desfrutar de mordomias que, por mais que não quebram a máquina pública, oferecem imagem muito negativa e errada.

Esse era o problema — que o hoje senador Cid Gomes (PSB) nunca entendeu — em governador levar sogra em viagem à Europa, ou quando palácios compram itens sofisticados, sejam comidas ou móveis. Esse é o problema de ostentação com dinheiro público.

É preciso, porém, que o símbolo reflita algo real. Se o prefeito reduz o próprio salário e o do primeiro escalão, isso precisa ser a vitrine de uma gestão austera. Se, por trás da aparência, houver um governo perdulário, a medida se torna populismo puro e simples.

Modo de governar

Evandro segue uma receita clássica. Corta gastos ao assumir e economiza, para gastar mais nos anos seguintes, principalmente perto da eleição seguinte. Era uma prática na era Tasso Jereissati (PSDB) e seguiu no ciclo iniciado por Cid Gomes (PSB). Na Prefeitura, Roberto Cláudio e José Sarto agiram assim. E Camilo Santana (PT) no Governo do Estado. Não é tanto o método de Elmano de Freitas, assim como não foi o de Luizianne Lins na Prefeitura. O PT é menos adepto da lógica de austeridade, visto como arrocho fiscal.

A lógica é de que, ao longo do tempo, a máquina vai naturalmente inchando e acumulando gordura. Ao estabelecer cortes em certas despesas, é possível depois liberar uma expansão com base naquilo que se mostrar realmente necessário, a partir das diretrizes de uma nova administração. Ainda economiza dinheiro para quando será politicamente mais relevante.

Recado aos servidores

Na semana em que anunciou redução salarial dele e da equipe, Evandro recebeu da frente de sindicatos que representam servidores municipais a reivindicação de 12,84% de reajuste salarial. O gesto do prefeito indica que a negociação não será simples com o funcionalismo.

Foto do Érico Firmo

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