Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Se Trump fosse vilão de filme, seria caricato, exagerado
O começo de governo Donald Trump foi talvez a maior apoteose do extremismo conservador no mundo desde… desde muito tempo. Digno de cinema, na cena da chegada ao poder de um vilão com muita perversidade e pouco juízo.
Como se saído do fim do século XIX, o presidente fez apologia dos combustíveis fósseis e prometeu fim às regulamentações ambientais, num discurso que receberia aplausos entre certos integrantes da Câmara Municipal de Fortaleza. Afirmou que os Estados Unidos terão “maior quantidade de petróleo e gás do que qualquer outro país”. “Seremos novamente uma nação rica com o ouro negro que está sob nossos pés”. E mais: “Vamos pôr fim a acordos verdes”. Para começar, retirou os Estados Unidos do acordo climático de Paris, firmado em 2015. O pacto foi firmado por quase 200 países com objetivo de conter o aumento da temperatura global e as emissões de gases que contribuem para o efeito estufa. Nunca foi algo muito rigoroso. É vago, frágil, não estabelece data, ano ou período para o pico de emissões. Os compromissos são voluntários, os próprios países definiram objetivos e dizem o que pretendem fazer para alcançá-los. Trump achou demais, uma coisa absurda e pulou fora. É talvez o que de mais grave ele anunciou até agora, com efeitos de longo prazo e prejuízos globais.
Não ficou por aí, é claro. Assim como fez no auge da pandemia de Covid-19, anunciou pretensão de retirar os Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Alegou críticas à postura da entidade no combate à Covid-19 e reclamou do que considera proximidade demais com a China. Aqui o negacionismo climático se une ao negacionismo na saúde e em relação às vacinas, algo manifesto nas ideias e na equipe do novamente ocupante da Casa Branca.
Impressiona que Trump tenha a pachorra de apontar o dedo em relação à postura de alguém na pandemia. Ele puxou a apologia mundial, acompanhada por imitadores replicados pelo mundo — inclusive no Brasil — a terapias sem eficácia, como a hidroxicloroquina, cuja farsa estava desmascarada há muito tempo, mas ficou comprovada de forma inequívoca no fim de 2024.
A atitude tresloucada de Trump ao deixar a OMS representará a retirada de bilhões de dólares do combate a doenças como poliomielite, aids e mpox. Muitos morrerão por isso.
Não, não é possível aplaudir Trump e pretender ser alguém ponderado, equilibrado, razoável. O que ele anuncia vai de encontro à ciência, a humanidade.
Cardápio tresloucado
Sobre os imigrantes, a promessa de deportações em massa e tratamento implacável violenta os direitos humanos. O presidente falou em usar uma lei de 1708 para usar “toda a força de segurança pública” com objetivo de “eliminar” o que classificou de “gangues criminosas”.
Ainda há arroubos estapafúrdios sobre Canadá, Groenlândia, Panamá. Medidas transfóbicas. Não faltou nem gesto que, se não era o sieg heil, usado para saudar Adolf Hitler, ficou bem parecido, e compatível.
Na economia, evidencia que pouco liga para o resto do mundo e se volta para o que considera interesse dos Estados Unidos. Que tenha o aplauso do eleitorado interno eu entendo. A aprovação a tais atitudes, por exemplo, de brasileiros é que me chama atenção. A propósito, é muito intrigante ver gente tão revoltada com atitudes do Ministério da Fazenda, que reclama do ministro “Taxad”. Mas acham lindo quando Trump promete uma guerra tarifária, que tem o Brasil como possível alvo.
Os patriotas brasileiros são engraçados.
Quanto a Trump, se fosse vilão de filme, seria caricato, exagerado. Sendo de verdade é muito pior.
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