Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O possível e talvez provável fim do partido representa o encerramento do ciclo político que marcou a consolidação do País após a redemocratização, com a polarização entre PSDB e PT
Foto: AURÉLIO ALVES
TASSO Jereissati e Élcio Batista
O PSDB caminha para o fim. O presidente nacional do partido, Marconi Perillo, projeta para os próximos meses a fusão ou incorporação por outra legenda — o PSD ou o MDB. Numa situação ou outra, o PSDB deixa de existir. Ou para dar origem a uma nova sigla, a partir da fusão, ou para ser parte de outra legenda já existente. O iminente fim do PSDB é um marco na política brasileira e, particularmente, no Ceará.
Foi anunciado nesta segunda-feira, 10, que o presidente estadual, Élcio Batista, deixou a função para ser coordenador no Instituto de Ensino e Pesquisa Insper, em São Paulo. Provisoriamente, o presidente será Ozires Pontes, prefeito de Massapê, na Zona Norte. Com o partido do jeito que está, nem sei se vão atrás de efetivar alguém ou vão deixando Ozires enquanto a situação se resolve nacionalmente.
O PSDB foi o maior partido do Ceará por uma década e meia. A partir de quando Tasso Jereissati e Ciro Gomes se aliaram, em 16 de janeiro de 1990. De cara, recebeu prefeito e governador, ambos egressos do PMDB — hoje sem o “P” e ao qual o PSDB cogita se unir. Ou retornar, pois o PSDB foi uma dissidência mais progressista. Em abril daquele ano, Ciro saiu da Prefeitura para se eleger governador. Só voltou a haver alinhamento similar, com prefeito e governador no mesmo partido, quando Evandro Leitão (PT) tomou posse, no início deste ano.
O nível de poder estadual que o PSDB teve na segunda metade da década de 1990 até o começo dos anos 2000 não tem paralelo. Verdade que, salvo por dois meses e meio em 1990, não voltou a ter a Prefeitura da Capital nunca mais. O poder do PT de Camilo Santana e Elmano de Freitas, hoje, é maior nesse sentido. Mas, a hegemonia estadual era mais impressionante.
De 1995 a 2001, o PSDB tinha os três senadores do Ceará. O PT, por exemplo, hoje tem um. Os tucanos tinham governo e presidência da Assembleia Legislativa — algo que Elmano ensaiou, com Fernando Santana, mas teve de recuar por reação dos aliados. O comando é hoje do PSB. Em 2000, o PSDB elegeu 83 dos 184 prefeitos. Hoje, o partido com mais prefeitos é o PSB, que elegeu 65.
A maior bancada de deputados federais hoje é do PDT, com 5 dos 22 parlamentares. Em 1998, o PSDB elegeu 11. Na Assembleia Legislativa, com as mudanças na semana passada, PT e PSB ficaram com as maiores bancadas, cada um com nove deputados estaduais. Em 1998, o PSDB elegeu 21.
Lenta agonia
O declínio começou em 2006. O então governador Lúcio Alcântara e Tasso Jereissati bateram de frente. Lúcio foi para a reeleição sem apoio de Tasso. Perdeu para Cid Gomes no primeiro turno. Porém, aderiu ao governo Cid, seguiu como maior bancada na Assembleia e, em 2008, ainda elegeu o maior número de prefeitos. Em 2010, Tasso rompeu com Cid. O partido ficou com a segunda bancada estadual, com oito deputados. Federal, elegeu só um. Em 2011, naquilo que dirigentes nacionais chamaram de “ataque especulativo da família Gomes”, o PSDB sofreu debandada de prefeitos e deputados, até gradualmente se tornar um nanico.
Quando Lúcio perdeu a eleição, em 2006, perguntei a Tasso, no dia da eleição, sobre o fim das duas décadas de poder. “Tem aspectos positivos. O PSDB esteve esses 20 anos no poder e foi muito inflado por oportunistas e dá uma purificada agora para voltar a ser o PSDB que era”. Tasso não imaginava, certamente, que os oportunistas eram tantos e que ficaria tão pouco do partido. Verdade que ainda durou quase 20 anos.
O PSDB foi uma potência no Ceará e mudou a história do Brasil, na década de 1990. Em 2014, quase voltou à Presidência. O possível e talvez provável fim do partido representa o encerramento do ciclo político que marcou a consolidação do País após a redemocratização, com a polarização entre PSDB e PT. Com todos os problemas, um período bem mais estável e moderado que o marcado pelo binômio PT-bolsonarismo.
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