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O perigo por trás da trégua entre facções
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O perigo por trás da trégua entre facções

Com o acordo, provavelmente a criminalidade terá queda no primeiro momento. Para o médio prazo, episódios nem tão distantes mostram que o problema pode ser grande
Tipo Opinião
POLICIAMENTO em área em que houve conflito de facções (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS POLICIAMENTO em área em que houve conflito de facções

Negociações entre as duas maiores facções criminosas do Brasil podem ter grande e perigoso impacto para a segurança pública no País, e no Ceará em particular. Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) articulam trégua, com objetivo de pressionar por regras mais brandas nas penitenciárias federais, além de parcerias nos negócios, como compartilhamento de rotas. Grande parte da violência que existe no Ceará é hoje atribuída a conflito de facções.

Ao comentar o assunto, na semana passada, o governador Elmano de Freitas (PT) disse, com razão: “Em disputa ou eles unidos, o fato é que são nossos inimigos”.

Com o acordo, provavelmente a criminalidade terá queda no primeiro momento. Para o médio prazo, episódios nem tão distantes mostram que o problema pode ser grande.

A armadilha é que os índices de criminalidade irão cair. Para o poder público, isso pode soar positivo. Porém, enquanto dão um tempo na guerra, as facções se armam e se fortalecem. Basta ver o que ocorreu quase uma década atrás.

Em 2016, houve uma trégua entre facções. O resultado, ao final do ano, foi a redução de 15,2% dos homicídios no Ceará. Em Fortaleza, a queda foi de 39%. O governo comemorou.

Quando se perguntava ao então governador Camilo Santana (PT) sobre a relação entre a diminuição dos homicídios e o pacto entre organizações criminosas, ele se incomodava. Perguntava se nada significava o trabalho e os investimentos do governo. Foram dois anos de redução da violência nas estatísticas. O que veio a seguir?

Quando a trégua chegou ao fim, o Ceará teve o ano mais violento da história até hoje, em 2017. Em 2018, foi o segundo mais violento. Em 2019, as facções voltaram a se unir na onda de ataques de janeiro daquele ano.

Afronta ao Estado

Não que 2016 tenha sido período de absoluta harmonia. Um temor que existe agora tem fundamento no que se observou há nove anos. As facções, em trégua, passaram a agir em conjunto contra o poder público. O ápice do atrevimento foi quando carro repleto de explosivos foi colocado ao lado da Assembleia Legislativa, em abril daquele ano. No mesmo mês, o próprio governador revelou ter sofrido ameaças. Em março, disparos tinham sido realizados contra o prédio da Secretaria da Justiça, então responsável por gerir o sistema penitenciário. Em julho de 2016, foi realizada uma onda de ataques, com ônibus incendiados e policiais baleados.

Com vigilância e sem se empolgar

O poder público precisa estar alerta aos movimentos e não ceder à tentação da empolgação. Num estado com décadas de estatísticas tenebrosas de criminalidade, é difícil conter a euforia de políticos e marqueteiros. A tendência, como escrevi, é haver redução da violência. Aí o governo não vai comemorar? Ainda mais se for até o ano (re)eleitoral? Mas, também mencionado acima, é o risco do que virá ainda durante a trégua, com potenciais ataques ao Estado. E o que pode vir depois, quando o pacto chegar ao fim e organizações potencialmente fortalecidas entrarem em guerra.

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