Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: AURÉLIO ALVES
PALÁCIO da Abolição, sede do Governo do Ceará
Independentemente dos reflexos eleitorais, a articulação da oposição no Ceará é politicamente relevante. Em um cenário de supremacia política, com Governo Federal, Governo do Estado e a quase totalidade das prefeituras alinhadas no mesmo projeto, é bom para a política, para a sociedade, que exista uma oposição. Que seja qualificada, movida por espirito público. Mas, é necessário haver vozes dissonantes. Até para o governo errar menos. Na política, a falta de críticas não é resultado da falta de erros, mas da falta de críticos. Nunca, em tempo algum, poder demais fez bem. Muito menos poder absoluto.
No caso do Ceará, existe a particularidade de as forças mais representativas da oposição atualmente serem muito fortes nacionalmente. Se a eleição para presidente fosse hoje — e não é — haveria possibilidade real de vitória do campo conservador, mesmo com o principal líder, Jair Bolsonaro (PL), inelegível e mais enrolado com a Justiça do que nunca. A adesão de políticos é orientada pela perspectiva de poder. Movem-se na direção de quem acreditam ter mais chances de se eleger.
Diferentemente do quadro nacional, hoje não se pode dizer que as chances de um candidato conservador ao governo do Ceará sejam grandes. Nem é por o governo Elmano de Freitas (PT) ser maravilhoso. Para eleger um governador, no Ceará, o governo ser bom não é imprescindível. Pelas características políticas do Estado, há algumas necessidades maiores: apoio de deputados e prefeitos. Dos primeiros a oposição tem poucos. Dos últimos, menos ainda. Se apertar, talvez um, quem sabe nenhum.
Tendência à continuidade
O Ceará tem tendência histórica à manutenção de poder. Desde a redemocratização, só em 2006, com Cid Gomes, houve vitória de um candidato de oposição. Antes disso, a anterior havia sido em 1958, com Parsifal Barroso — entre ambas houve duas décadas de ditadura militar.
Com uma particularidade. Tanto Cid Gomes quanto Parsifal haviam apoiado o governador eleito na eleição anterior. Eram base governista, mas romperam em determinado momento. Erram uma dissidência do poder. Faz 70 anos da última vez em que foi eleito um governador de um grupo político que havia perdido a eleição anterior, havia sido colocado na oposição pelo resultado das urnas, passou os quatro anos fora do governo, contrapondo-se ao governador que estava no poder. Foi em 1954, quando Paulo Sarasate foi eleito para suceder Raul Barbosa. Ou seja: não é algo comum por aqui.
Cenário federal impulsiona oposição no Ceará
A perspectiva eleitoral promissora para o campo conservador no plano nacional pode impulsionar esse campo político no Ceará. Propiciar a atratividade que não conseguiria pelo cenário cearense, isoladamente. O raciocínio é simples: um deputado pode se alinhar ao PL no Ceará por acreditar nas chances de o partido eleger presidente da República, mesmo que não creia na vitória para governador.
Por isso, o desempenho e a popularidade do presidente Lula é tão importante para Elmano. Não basta ele estar forte no Ceará para ajudar o governador. É relevante, para o governador, que o presidente demonstre perspectivas sólidas de reeleição. Para ajudar na reeleição e, ainda mais, para um eventual segundo mandato estadual.
Quanto à oposição, um grande desafio é conseguir se unir. O problema é que a fatia mais relevante da oposição — o PL e André Fernandes — não está muito interessada.
Além disso, o mesmo cenário nacional que pode apresentar expectativa de poder é elemento de desunião. Pois PL, União Brasil e ainda mais o PDT caminham em direções diferentes, quando não opostas.
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