Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O eleitor do Interior se acostumou a votar muito em Ciro e Tasso. A candidatura de um com apoio de outro teria maior potencial que qualquer outro na oposição. Porém, Ciro é um crítico e adversário do bolsonarismo em nível nacional. O PDT foi autor da ação que tornou Bolsonaro inelegível. A aproximação de André Fernandes com ele causou reações
Foto: MAURO PIMENTEL / AFP
CIRO Gomes, Jair Bolsonaro e Padre Kelmon em 2022
Quando Ciro Gomes (PDT) disse que, embora não seja a intenção dele, está aberto à possibilidade de ser candidato a governador, recebeu piscadelas de volta do campo bolsonarista mais entusiasmadas do que se poderia imaginar. O mais significativo aceno partiu do deputado federal André Fernandes (PL), principal líder conservador do Ceará desde a eleição municipal do ano passado, quando perdeu a Prefeitura de Fortaleza para Evandro Leitão (PT) por muito pouco, no que poderia ter sido a mais significativa vitória eleitoral do bolsonarismo puro-sangue em 2024.
A oposição no Ceará sabe que a base governista é favorita em eleições estaduais. É diferente do cenário de Fortaleza, com enorme carga de imprevisibilidade. Eleger governador sempre demandou, até hoje, apoio de prefeitos, de grandes bases parlamentares. Não precisa nem fazer uma grande administração para se reeleger ou emplacar sucessor. As características da política estadual envolvem grande peso da política.
Vai fazer 20 anos da última vez em que a oposição elegeu governador do Ceará. Foi em 2006, com Cid Gomes (PSB) — irmão de Ciro. E olha que a família havia sido apoiadora e tinha indicados no governo até três meses antes da campanha. Se for buscar na história quando a oposição venceu uma eleição antes no Ceará, chega-se a Parsifal Barroso, em 1958.
Porém, Ciro acendeu uma esperança. Dos nomes disponíveis da oposição, Tasso Jereissati (PSDB) e ele são, de muito longe, aqueles com trajetória mais significativa, embora ambos já estejam longe do auge eleitoral. Tasso inclusive fala em não concorrer mais — aparentemente com mais convicção que Ciro. Mas, ambos caminham para estar novamente juntos, provavelmente no mesmo partido. Os encontros têm sido frequentes.
O eleitor do Interior, principalmente acima dos 40 anos, acostumou-se a votar muito em Ciro e Tasso. Não se vislumbra uma chapa com ambos, mas uma candidatura de um com apoio de outro teria potencial de fazer estrago. Provavelmente mais que qualquer outro na oposição.
Porém, Ciro é um crítico e adversário do bolsonarismo em nível nacional. O PDT foi autor da ação que tornou Jair Bolsonaro (PL) inelegível. As diferenças nesse plano, ele mesmo definiu como talvez incontornáveis. E as manifestações — principalmente de forma tão explícita, e partindo de alguém com o tamanho que adquiriu André Fernandes — causaram incômodo na cúpula do bolsonarismo, como mostrou o repórter Guilherme Gonsalves.
Ao correspondente do O POVO em Brasília, João Paulo Biage, o senador Rogério Marinho, um dos principais líderes nacionais do PL, descartou o apoio do partido a Ciro. Disse, com razão, que a falta de afinidade é mútua. Porém, nem faz tanto tempo assim, Bolsonaro dizia que aceitaria conversar com Ciro, mas não sabia se o interesse era mútuo. Ciro fez um aceno, mas circunscrito ao Ceará. A oposição vislumbrou chance de ser competitiva no Ceará. Isso é muito sedutor para todos eles. Todavia, os palanques nacionais são uma questão.
O palanque do candidato bolsonarista
A oposição busca se entender sobre o Ceará, mas há eleição nacional. O bolsonarismo prioriza eleger senadores, e nesse sentido a composição com Ciro pode ajudar. Mas o campo terá candidato a presidente — com chances consideráveis, mostram as pesquisas. A eleição nacional é uma prioridade. Qual será o palanque bolsonarista no Ceará? Ciro? Com Tarcísio de Freitas (Republicanos), parece-me bem factível. Com Michelle Bolsonaro (PL) ou Eduardo Bolsonaro (PL)? Bem, seria curioso.
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