Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O triste episódio é uma das situações em que o confuso governo Lula mais teve razão, em três anos e cinco meses de mandato. Em que ficou mais evidente a virulência adversária e no qual a representante da administração federal se colocou de forma mais correta e com mais altivez
Foto: Lula Marques/ Agência Brasil
MINISTRA do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva
A forma como Marina Silva (Rede) foi agredida na Comissão de Infraestrutura do Senado é um reflexo do nível a que chegou a prática política. Não apenas por parlamentares da oposição, mas inclusive por aliado do governo. Os parlamentares expuseram violência e grosseria, mas não só isso.
São tantos os ingredientes presentes: a tentativa de colocar uma mulher com a história de Marina “no seu lugar”, pela força, pela truculência. O microfone dela foi cortado pelo presidente várias vezes, para que não respondesse aos críticos. Um senador da República disse, com todas as letras, que não respeita uma ministra de Estado. O mesmo sujeito que, num evento no Amazonas em março, falou: “Imagine o que é tolerar a Marina seis horas e dez minutos sem enforcá-la”. Intolerável.
A exasperação dos senadores é sintoma dos pesados interesses econômicos envolvidos na exploração econômica da região amazônica. Ficou feio para eles e pegou muito mal, mas a gravidade do que ocorreu foi além da forma, além do que aparece na superfície.
Pode-se gostar ou não de Marina Silva. Na esquerda mesmo, ela já foi admirada e execrada, agora foi aceita de novo na tentativa de “frente ampla” do terceiro governo Lula (PT). Porém, é inegável que ela tem história. É inequívoco se tratar de uma das grandes autoridades do mundo em matéria ambiental. Nem isso eles respeitam.
Obviamente agiram como agiram por Marina ser mulher. Não aceitaram que ela os enfrentasse. Mas há um contexto em que a ministra se tornou obstáculo a ambições predatórias de muita gente.
O plano de intimidação deu terrivelmente errado para eles. Marina saiu maior e deu visibilidade a um assunto sério e que não viraliza.
Sozinha na briga sobre licenciamento
Muita gente do governo prestou solidariedade a ela, inclusive Janja e Lula. Infelizmente, no embate contra o desmonte do licenciamento ambiental no País, Marina tem estado isolada. O governo não encampa a briga contra o projeto aprovado no Senado na semana passada e que retornou à Câmara. A equipe está dividida e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), defendeu a proposta. Lula não se manifestou sobre o assunto. O PT votou contra, mas grande parte da base ajudou a dar uma votação esmagadora ao texto.
O triste episódio é uma das situações em que este confuso governo mais teve razão, em dois anos e cinco meses de mandato. Em que ficou mais evidente a virulência adversária — inclusive os adversários internos. E no qual a representante da administração federal se colocou de forma mais correta e com mais altivez. É uma pena que, no fundamento daquilo pelo que ela luta, o governo não esteja decididamente ao lado dela e haja gente manifestamente contra.
A vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro (PL) em 2022 foi saudada internacionalmente por causa, sobretudo, da visão ambiental do ex-presidente e da expectativa de que o atual recolocasse o País em sintonia com o tempo presente. Marina vinha de desentendimentos graves com o PT. Quando ela aceitou se tornar ministra, o governo ganhou capital internacional.
Como foi nos primeiros mandatos de Lula e também nos de Dilma Rousseff (PT), a política ambiental do governo é objeto de disputa e a natureza perde mais que ganha da pressão econômica. Para o próprio bem, o governo Lula ganharia ao respaldar a ministra.
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