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Encontro improvável deve dar a Roberto Cláudio tempo robusto
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Encontro improvável deve dar a Roberto Cláudio tempo robusto

Alianças políticas costumam ser movidas ou para estar junto do poder ou para enfrentá-lo. Já citei uma frase do ex-secretário de governo Arthur Silva Filho: "A coalizão política é mais um pacto entre adversários do que um acordo entre amigos"
Tipo Opinião
ROBERTO Cláudio com Wagner e a bancada de oposição (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA ROBERTO Cláudio com Wagner e a bancada de oposição

Se três anos atrás alguém dissesse que Roberto Cláudio e Capitão Wagner estariam no mesmo partido, seria causa de espanto. O primeiro era presidente da Assembleia Legislativa na virada de 2011 para 2012, quando o segundo liderou a maior paralisação de policiais militares no Ceará — até aquele momento. Em 2012 mesmo, Roberto se elegeu prefeito e Wagner entrou na campanha de cabeça a favor do hoje governador Elmano de Freitas (PT).

O petista perdeu no segundo turno e Wagner se elegeu o vereador mais votado. Deu trabalho a RC na Câmara Municipal por dois anos, até se eleger deputado estadual. E mais ainda na eleição de 2016, quando enfrentou Roberto Cláudio, reeleito num difícil segundo turno. Em 2020, Wagner bateu muito no balanço final da gestão Roberto Cláudio, ao enfrentar o candidato de situação, José Sarto, mais uma vez pela Prefeitura. Naquele ano, os policiais militares se amotinaram mais uma vez e, embora Wagner tenha evitado se envolver, o fato foi fartamente usado por Roberto — e pelo então aliado Camilo Santana (PT) — contra Wagner. Os confrontos eram agressivos. Mas, gradualmente, foi construído certo nível de cordialidade.

Era perceptível principalmente ao se encontrarem nos debates em 2022, quando voltaram a se enfrentar, pelo Governo do Estado. A derrota de ambos para Elmano de Freitas os aproximou. Após aquela eleição, eles passaram a ter conversas políticas.

Diferenças programáticas? Bem, Wagner já foi aliado do PT. Não há contradições tão grandes quanto havia entre RC e o bolsonarismo . Também não é uma aproximação diferente de muitas já vistas na política. Estão aí na base governista Eunício Oliveira (MDB) e Domingos Filho (PSD) — ou, no plano federal, Lula e Geraldo Alckmin (PSB) — para demonstrar.

Alianças políticas não são normalmente construídas em cima de programas. Costumam ser movidas ou para estar junto do poder ou para enfrentá-lo. Não faz muito tempo, citei uma frase do ex-secretário de Governo de Ciro Gomes, Arthur Silva Filho. Encontrei publicada num jornal de mais de duas décadas atrás, na coluna que ocupava este espaço, do jornalista Fernando Maia. Silva Filho dizia: “A coalizão política é mais um pacto entre adversários do que um acordo entre amigos”.

No caso de Wagner e Roberto Cláudio, a coalizão construída por eles é poderosa.

Tempo de rádio e televisão

O PL foi o partido que mais elegeu deputados federais na eleição passada. O segundo colocado foi o PT. Terceiro e quarto colocados foram União Brasil e PP, que formaram federação. Uma aliança que reúna PL e União Brasil-PP, nos cálculos dos envolvidos, poderá ter o maior tempo de rádio e televisão. Não é fator desprezível. Em 2022, Wagner, com a força do União Brasil, já teve tempo maior que o de Elmano.

Alianças incertas

A força da aliança que Roberto Cláudio pode construir valoriza o peso de partidos em situação indefinida. Particularmente o PSD, que hoje é governista, tem a vice-prefeita de Fortaleza, Gabriella Aguiar, mas não sinaliza nada sobre 2026.

Também cresce a importância de PSDB e Podemos, que caminham para a fusão, cada um puxando para um lado no Ceará.

Voltas que o mundo dá

A aproximação de Wagner e Roberto Cláudio torna mais interessante o que disse três anos atrás Ciro Gomes (PDT), ainda um dos maiores aliados deste último: “Pode ser que esteja na hora de a gente entregar para o Capitão Wagner lá, o cara do Bolsonaro. Quem sabe a gente aprende a dar valor ao que tem. Se não, ok”. A declaração foi feita no programa Roda Viva, em 15 de agosto.

Ciro ainda falou que Roberto Cláudio foi escolhido como candidato pelo PDT, e não Izolda Cela, por ser o mais competitivo, segundo ele, contra Wagner. “Entramos numa dinâmica de tentar enfrentar o candidato do Bolsonaro, que é muito forte”.

Três anos depois, está Roberto ao lado de Wagner e de Bolsonaro.

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