Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: JÚLIO CAESAR
PICHAÇÕES de facções são parte da paisagem pelo Ceará
Já se sabia das bem fundamentadas denúncias de interferência de facção criminosa na eleição em Santa Quitéria, tanto que o prefeito reeleito, José Braga Barrozo, o Braguinha (PSB), foi preso e está afastado. Porém, a dimensão do que o Ministério Público do Ceará (MPCE) revelou esta semana é assustadora, por indicar o quanto pode permanecer escondido e ainda negligenciado.
Investigações apontaram que a facção expulsava moradores, proibia atos de campanha e propaganda política afixada nas casas. Comprava apoio político com dinheiro do tráfico. Chegou a ameaçar incendiar o cartório eleitoral.
As informações divulgadas até agora não deixaram claro para mim o quanto há de relação de proximidade entre a facção e os políticos envolvidos e até que ponto a facção foi contratada por candidato para influenciar no pleito. Ambas as coisas são muito graves e possivelmente há um pouco de cada.
Os indicativos sugerem que, para além da infiltração do crime no processo político, ao lançar candidatos e eleger representantes e aliados, os grupos organizados podem “prestar serviço” a contratantes. Mediante pagamento, ameaçam, confrontam, constrangem, proíbem, cerceiam o direito de voto.
Qual o alcance das facções na política?
O que se descobriu sobre a capacidade de criminosos interferirem e praticamente definirem o resultado de uma eleição levanta a preocupação sobre o quanto não se sabe ainda, ou ao menos não se comprovou nem puniu. Não há nenhuma razão para acreditar que Santa Quitéria é situação isolada. Antes da eleição do ano passado, O POVO já listava casos em pelo menos seis municípios e regiões do Ceará. Mas, 2024 parece ter sido a apoteose da presença eleitoral das facções no Ceará; Agora mesmo há notícias sobre investigações em curso sobre Iguatu e Martinópole. Em Fortaleza houve denúncias de intimidação ou ações violentas. No segundo maior município cearense, Caucaia, foram dezenas de pessoas presas e denunciadas.
São raros os lugares de Fortaleza nos quais não se encontram sinais visíveis da presença de facções além do raio de cinco quarteirões. Não sei se há município do Ceará onde elas estejam presentes. A capacidade de amedrontar eleitores e impedir a presença da campanha de candidatos é muito grande.
O peso eleitoral das facções foi recorde em 2024 e tende a crescer em 2026 e 2028. O poder público precisa agir rápido. Não dá para isolar a política. Ou se enfrenta a presença das facções de forma integral ou não será possível blindar a política. Com presença cada vez maior nos espaços de poder, será cada vez mais difícil combatê-las. Tendem a se enraizar, fortalecer e expandir. Nota o tamanho do buraco? Quando se perceber, as facções terão tomado de conta.
Presunção da inocência é a fronteira da civilização
A presunção de inocência é muito popular quando é a favor de um aliado, mas se torna inconveniente quando um adversário é acusado. Foi preso na semana passada o homem identificado como o verdadeiro “maníaco da moto”, a quem são atribuídos estupros cometidos no bairro Parangaba em 2014. Na época, outro homem foi preso apontado como responsável. Passou cinco anos na cadeia até provar a inocência. É uma tragédia. Sem culpa, teve a vida marcada para sempre. O direito à ampla defesa é um dos pilares da vida em sociedade. O clamor por punição faz com que muitas injustiças sejam cometidas. Mas, o princípio da inocência até que se prove o contrário é a fronteira entre civilização e barbárie. Cautela necessária, inclusive, em relação àquele apontado agora como “verdadeiro maníaco”.
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