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O espetáculo dos interrogatórios
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O espetáculo dos interrogatórios

Juridicamente não sei, mas como entretenimento, houve grandes momentos
Tipo Opinião
BOLSONARO bebe água em sessão no STF (Foto: Evaristo Sá/AFP)
Foto: Evaristo Sá/AFP BOLSONARO bebe água em sessão no STF

Não sei se os interrogatórios dos réus pela denúncia de plano de golpe de Estado trouxeram grandes novidades ao processo. Juridicamente, não percebi grandes contradições, mudanças de versões. Há alguns lapsos, talvez sincericídios, que não sei se mudam o rumo que o processo vinha tomando. Quem sabe apenas os réus não tenham como negar as evidências. Para as defesas, a peça mais importante pode acabar sendo a fala do tenente-coronel Mauro Cid. Ele confirmou o que havia falado, mas há intenções declaradas de explorar o que consideram contradições e mentiras. Hoje mais que nunca, porém, o aspecto jurídico envolve enorme peso político e os atores sabem disso. Daí os dois dias de interrogatório terem sido um grande espetáculo midiático, como acho que a política brasileira não produzia talvez desde a CPI da Covid.

Juridicamente não sei, mas como entretenimento, houve grandes momentos. Como quando o advogado do general Augusto Heleno, Matheus Milanez, pediu para a sessão de terça-feira começar um pouco mais tarde, porque ele queria mais tempo para jantar, porque na segunda-feira já era tarde. O horário marcado para o dia seguinte era 9 horas, mas Alexandre de Moraes foi inflexível. “Nove e dois”, foi o máximo que ele cedeu, brincando. Coitado do Matheus, sou solidário. Estou escrevendo esta coluna e também ainda não jantei. O assunto rendeu brincadeiras no dia seguinte, entre Moraes e o próprio advogado, e até de Jair Bolsonaro (PL).

Menos lúdico, mas sem deixar de ter lá seu humor, foi quando o advogado indagou Heleno se ele havia coordenado a elaboração de relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com informações falsas sobre a eleição.

- De maneira nenhuma. Não havia clima. O clima da Abin era muito bom", respondeu o general.

- A pergunta é só 'sim' ou 'não', desculpa, interveio o advogado diante do excesso de franqueza.

- Porra, desculpa, corrigiu-se o general.

Moraes então brincou:

- Não fui eu, general Heleno, que fique nos anais aqui do Supremo, foi o seu advogado.

Outro momento de descontração foi quando Bolsonaro convidou Moraes para ser vice dele em 2026. O ministro declinou. Mas o que me divertiu mesmo foi o preâmbulo:

- Posso fazer uma brincadeira?, perguntou o ex-presidente.

- Eu perguntaria a seus advogados antes, respondeu o ministro.

Mais um grande momento foi quando Moraes fez pergunta de praxe ao general Braga Netto:

- O senhor já foi preso alguma vez?

- Eu estou preso, senhor presidente.

- Fora essa vez.

- Fora essa vez, não, senhor.

- Eu sei que o senhor está preso, eu que decretei.

Chegar é uma coisa, passar é outra

Na coluna de ontem, ao citar o impacto da polarização em 2024, mencionei que os candidatos que fizeram o segundo turno em 2020 “mal passaram dos dois dígitos”. Como José Sarto (PDT) e Capitão Wagner (União Brasil) ficaram na casa de 11%, eles mal chegaram aos dois dígitos. Agradeço ao leitor que apontou meu lapso.

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