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Movimentos da oposição não são simples
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Movimentos da oposição não são simples

Acomodar os interesses tem complicações agora e ainda mais em caso de uma vitória eleitoral
Tipo Opinião
OPOSIÇÃO está bem articulada, mas união é complicada (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA OPOSIÇÃO está bem articulada, mas união é complicada

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A oposição, espertamente e não sem alguma razão, explora o quanto há gente na base governista que deseja ser candidato, bem além das vagas disponíveis. Mas os opositores têm seus próprios problemas e acomodações a fazer. Os movimentos começaram pela saída de Roberto Cláudio do PDT rumo ao União Brasil. Partido que, por sua vez, tem suas questões internas e na federação com o governista PP. Já comentei das resistências de Eduardo Girão (Novo). Há ainda o fator Ciro Gomes, desejado pelo PSDB. E o PL não é uma complicação menor. Trata-se da maior força, e a troca de comando em andamento, com Carmelo Neto rifado, não é pacífica ou tranquila.

Acomodar os interesses na oposição, contra o adversário em comum, não é tão complexo quanto se torna no caso de uma eventual vitória eleitoral, com necessidade de compartilhar o poder.

Lula, Galípolo e Campos Neto

A taxa de juros de 15% é a mais elevada desde 2006, quando Lula estava no fim do primeiro mandato. Para a economia, é um horror. Torna-se mais caro captar recursos, investir. A dívida pública cresce mais e deixar o dinheiro parado e rendendo se torna mais atrativo do que produzir. É também um golpe no discurso do presidente da República, que passou a primeira metade do mandato se queixando do Banco Central e do então dirigente Roberto Campos Neto. Tratava-se, sim, de um apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), herança do recente modelo de autonomia do BC, que o PT tanto critica. As reclamações eram sobre a Selic. No fim de 2024, o mandato do ex-gestor terminou e Lula pôde enfim indicar quem queria. Nenhum presidente teve antes tanto tempo para pensar em quem escolher para comandar a autoridade monetária. Desde que Gabriel Galípolo assumiu, houve aumento da taxa em todas as reuniões. Está em nível nunca alcançado sob Campos Neto.

Não digo que o semestre transcorrido deu razão ao ex-presidente do BC nas decisões técnicas, mas certamente o referendou do ponto de vista político. Pois fica difícil sustentar que era por perseguição que ele mantinha os juros altos. Já era antes, quando diretores indicados já pela administração petista chancelavam as decisões. Ao mesmo tempo, fica evidente a politização quando Lula não reclama agora, embora a taxa esteja ainda mais elevada. E os petistas, quando o fazem, adotam tom bem mais comedido do que na época do antecessor do atual chefe do BC.

Problema na economia e a decisão adiada

O governo enfrenta momento complicado na economia apesar de dois dos principais indicadores serem muito positivos. O Brasil cresce e o desemprego está em baixa. Isso, em condições normais, garante a popularidade de qualquer político. Mas há outro elemento a ser considerado, que desequilibra tudo: a inflação. Ela empurra a taxa de juros para cima e afeta principalmente os mais pobres. São muitos os fatores para a inflação, alguns longe do controle do governante, vide o petróleo e as guerras no Oriente Médio. Não é o mais importante, mas o controle das contas públicas é um deles. A Fazenda busca equilíbrio fiscal por um caminho que a política e o mercado já demonstraram que não irão mais aceitar: aumento de tributação. Será difícil ir por esse caminho. A opção precisará ser pelo corte de gastos, algo que o governo nem quer nem sabe fazer. Não precisa ser de gasto social, mas há de onde tirar da máquina federal.

Vale lembrar: no início deste mandato de Lula, Fernando Haddad (PT) queria promover contenção de gastos, mas houve muita pressão contrária e o argumento de que era necessário dar sinal no começo do mandato, uma demarcação em relação à época de Bolsonaro. Houve então expansão de despesas para retomada de investimentos e obras e para atender o funcionalismo, que se queixava de anos de arrocho. Tudo muito legítimo, mas Haddad apontava o óbvio: se não os cortasse no início, quando faria isso? No segundo ano, com eleições municipais? No terceiro, que antecede uma possível reeleição? A crise com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é a tentativa de fechar essa conta que não foi resolvida quando seria politicamente mais viável. O ajuste fica para quando? Para o ano eleitoral de 2026? Ninguém acredita.

Foto do Érico Firmo

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