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A aliança de oposição acabou?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A aliança de oposição acabou?

André Fernandes não gostou do que Ciro Gomes falou sobre Bolsonaro na manhã em que o ex-presidente foi alvo de operação da Polícia Federal
Tipo Opinião
ANDRÉ Fernandes descartou apoiar candidato fora do PL (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal ANDRÉ Fernandes descartou apoiar candidato fora do PL

André Fernandes disse que o PL terá candidato próprio e não irá apoiar Ciro Gomes ou Roberto Cláudio a governador. Nos últimos meses, toda a articulação entre PL, União Brasil e os dissidentes do PDT tem sido para formar uma chapa unificada. Em princípio, o PL lançaria Alcides Fernandes a senador. Essa seria a cota do partido. A vaga de governador tinha como cotados, até agora, o ex-prefeito Roberto Cláudio, a caminho do União Brasil; o ex-ministro Ciro, aparentemente de saída do PDT, provavelmente rumo ao PSDB, e Eduardo Girão (Novo). Para a outra vaga de senador, personagens do PL se lançaram e o Novo apresentou o general Guilherme Theophilo. Mas, na sexta-feira, 18, André disse que o PL disputa o governo. Ele quer unir a oposição. Mas com o PL na cabeça. Sem abrir mão da candidatura de Alcides.

O deputado federal não disse com todas as letras o motivo, mas jogou água na fervura das conversas com aliados porque não gostou do que Ciro falou sobre Bolsonaro. Na manhã daquela sexta, o ex-governador e ex-ministro divulgou o vídeo no qual, pela primeira vez, que eu tenha visto, falou sobre a taxação de Donald Trump ao Brasil. Criticou tanto petistas quanto bolsonaristas. Entre esses últimos, a gravação não caiu bem. Ainda mais naquela manhã em que Jair Bolsonaro (PL) recebia visita da Polícia Federal, que o levou para colocar a tornozeleira eletrônica.

É óbvio que o bolsonarismo, naquele momento, não se dedicava a assunto algum que não fosse a situação do ex-presidente. Não estava, em meio ao maior terremoto a atingir o grupo, conversando sobre as eleições do próximo ano no Ceará. O estopim do que se anuncia como fim do bloco de oposição foi a operação contra Bolsonaro — e o que Ciro falou naquele momento.

Está na casa do sem jeito? Não acredito e acho que dependerá da condução do assunto e das conversas de agora em diante. Vale lembrar, no impulso inicial para unir a oposição, em fevereiro, André Fernandes já fez a articulação andar para trás muitas casas ao dizer para o colega Carlos Mazza que o PL teria candidato a governador e dois candidatos a senador. Era um recado para os aliados, que achavam que o partido, a principal força eleitoral do bloco, estava a reboque de Roberto Cláudio e Capitão Wagner (União Brasil). Depois a coisa evoluiu e houve até elogios a Ciro por parte do mesmo parlamentar que agora descarta apoiá-lo.

Agora, ele pode ter mandado uma mensagem ao que pode vir a ser um bloco. Com a retomada dos entendimentos, a oposição pode voltar aos eixos. Porém, a depender de reações, pode ser que a coisa azede de vez.

Ciro foi mais duro com Lula que com Bolsonaro

No vídeo em questão, Ciro bate muito mais em Lula que em Bolsonaro. Em resumo, chamou o governo de corrupto e que estaria "desastrando o nosso país". Falou que há manipulação de um "patriotismo de goela" por Lula e pelo PT. E completou: "É indisfarçável que Lula está comemorando essa perigosa situação. Isso quer dizer que nós devemos aceitar passivamente a violência econômica imposta a nós pelo estrangeiro? Claro, óbvio que não. Mas daí a celebrar como Lula está fazendo, os benefícios eleitorais de curto prazo que a soma da injustiça da medida ianque com a tremenda burrice dos Bolsonaros, vai um enorme e intransponível distância." Veja se o alvo principal não é Lula. Bolsonaro entra quase como dano colateral.

Mesmo assim, a manifestação, num momento delicado para o campo político como nenhum outro até agora, foi mal recebida.

O ainda pedetista, ao se encontrar com a oposição, buscou centrar a discussão num debate sobre o Ceará e nada mais. Falou em diferenças nacionais "inconciliáveis". Mas a mensagem enviada é a de que não terá o apoio deles no Estado se seguir fazendo críticas nacionalmente. Se quiser tê-los no palanque — parece-me ser o recado — pode até se não se transformar em bolsonarista desde criancinha. Mas ao menos parar de criticar o líder será uma condição a ser cobrada.

Foto do Érico Firmo

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