Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
As críticas da oposição incomodam o governo, mas são mais do que óbvias. Não haveria de se esperar aplauso. Seria ridículo se, diante de tal situação, não houvesse políticos para cobrar e contestar
Foto: FCO FONTENELE
FORÇAS de segurança enfrentam desafios
Às facções não basta cometer crimes, é preciso tripudiar. De uma ponta a outra de Fortaleza, o assunto da noite de segunda-feira, 15, foi o foguetório dos traficantes. Trata-se de um gesto de intimidação, tanto contra grupos rivais quanto em relação à própria população. É uma demonstração de força. Desse modo, expõe fragilidades governamentais. É uma afronta à autoridade estatal.
A insólita comemoração teria relação com a conquista de territórios. No início do mês, reportagem do colega Lucas Barbosa já indicava o que estava prestes a acontecer.
Em fevereiro deste ano, tratei das informações sobre a trégua nacional entre as maiores organizações criminosas. Esse tipo de situação embute grandes riscos. Costuma ter um efeito benéfico nas estatísticas, pois o número de mortes violentas cai — eles param de se enfrentar.
Esse filme é repetido. No começo de 2016, quando houve outra “pacificação” nacional, eu saía do expediente e, ao passar pelo Dionísio Torres, houve um foguetório parecido. Já era tarde da noite, mas muita gente saiu para a calçada para ver o que se passava. Naquele ano, os homicídios caíram significativamente. Em 2017, o Ceará teve o ano mais violento da história.
O processo agora é diferente — e espero que o resultado também. Naquela ocasião, após a trégua de nove anos atrás, as organizações entraram em guerra. O que se passa neste momento não seria um armistício, mas a conquista de territórios. Não deixa de haver uma conveniência teórica em haver uma única facção no domínio. Os lugares mais violentos costumam ser aqueles nos quais há forças inimigas se digladiando. Todavia, é a pior paz possível, sob a égide de um grupo criminoso cujo poder se tornou grande demais para ser combatido.
Politização
Na base palaciana, a reclamação foi sobre a politização do episódio pela oposição. O incômodo é natural, mas a crítica é mais do que óbvia. Ela é necessária. Não haveria de se esperar aplauso. Seria ridículo se, diante de tal situação, não houvesse políticos para cobrar o governo, não houvesse vozes no Legislativo para contestar.
Há de se discutir aspectos diversos sobre o debate travado. O governador elenca ações e investimentos, mas isso precisa dar resultado. Claro que não é do dia para a noite, mas o projeto político está para completar 20 anos no poder. Longe de melhorar, o problema muito piorou nesse período.
Todavia, reduzir o fenômeno ao PT e à administração estadual é um raciocínio que tem falhas. Roberto Cláudio, José Sarto, Ciro Gomes e os deputados que os apoiam eram parte desse mesmo consórcio eleitoral quando as facções já estavam muito bem assentadas, em 2016, 2017, 2018, 2019, 2020 e 2021.
O campo do bolsonarismo não tem culpa pelo que ocorre no Ceará, mas vale observar o que se passa nos estados geridos por eles. O Rio de Janeiro, centro de comando da facção hegemônica no Ceará, é administrado pelo PL.
A estrela da vez do bolsonarismo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), comanda São Paulo, que enfrenta dificuldades graves. Agora com a morte do ex-delegado-geral. Em julho, com onda de crimes na qual houve aproximadamente 800 ataques a ônibus em um mês e meio. No fim de agosto, a média caiu para 3,6 ataques por dia — e isso é considerado por eles como sob controle. Isso enquanto o governador dedica as principais energias para articulações em Brasília pela anistia a condenados.
O papel da oposição é cobrar e criticar mesmo, e a munição para isso é farta. O Estado precisa dar respostas. Não é obrigação de quem está fora da gestão dizer o que pode ser feito, embora seja um ingrediente para obter credibilidade.
Por outro lado, atrapalha o argumento atribuir toda a culpa aos adversários, enquanto já se esteve do lado de lá e quando aliados enfrentam situações que guardam similaridade.
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