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O papel federal e o grande erro de Lula e Lewandowski
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O papel federal e o grande erro de Lula e Lewandowski

As polícias militares e as polícias civis estão subordinadas aos governadores, mas os estados não são os únicos responsáveis pelo assunto
Tipo Opinião
MINISTRO Ricardo Lewandowski na Assembleia, onde recebeu título de cidadão cearense (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS MINISTRO Ricardo Lewandowski na Assembleia, onde recebeu título de cidadão cearense

No dia em que eclodiu a operação desastrosa e desastrada no Rio de Janeiro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, estava no Ceará, onde recebeu título de cidadão. Ele, obviamente, foi questionado e comentou a operação em território carioca. E cometeu pelo menos um grande equívoco. “Agora, a responsabilidade é sim, exclusivamente, dos governadores no que diz respeito à segurança pública dos respectivos estados”. O ministro se referiu a um formalismo ao repetir uma máxima que tem sido um repetido equívoco da União.

As polícias militares e as polícias civis estão subordinadas aos governadores, mas os estados não são os únicos responsáveis pelo assunto. Esse argumento tradicionalmente serviu para presidentes e prefeitos se esquivarem. Cada vez menos o eleitor aceita a omissão.

Ninguém quer se meter nesse assunto porque traz muito desgaste e pouco voto. Entretanto, os estados não dão conta do tamanho do problema que são as facções. Eles têm atuação multinacional e não respeitam divisas. Como o governador vai resolver sozinho? Eles podem e devem se articular, mas o Governo Federal precisa ser o coordenador. E muito mais que isso.

Os governadores de oposição ensaiam uma união que tem jeito de prévia eleitoral. É do jogo. Veremos o efeito prático que terá, mas o alcance sem suporte federal é bem limitado.

No segundo mandato de Lula, Tarso Genro foi ministro da Justiça e formulou o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). Já ouvi de gente que estava no governo na época que a proposta foi desidratada até desaparecer. O motivo: perceberam que estavam puxando para si uma questão sobre a qual a cobrança principal não caía sobre a cabeça deles.

Porém, é interesse público e da população que a União entre de cabeça no tema, com protagonismo, responsabilidade e satisfação a dar.

Obviamente há obstáculos. Foi apresentada a proposta de emenda à Constituição (PEC) que os governistas apresentam como se fosse a panaceia. Não é. Porém, limitada que seja, enfrenta resistência de chefes de Executivos estaduais da oposição, que acham que perderão poder. Se fosse Jair Bolsonaro (PL) o presidente, era capaz de os mesmos gestores aplaudirem, e os que são a favor ficarem contra. Não é fácil.

Os governantes não parecem entender que os governos — deles próprios, de aliados ou de adversários — não duram para sempre, graças a Deus. E os estados e a União continuam. Ao menos é o que esperamos.

Rio não ficou mais seguro, nem o Ceará

O que houve nas comunidades cariocas foi tão extremo que pode fazer parecer até pouco o que se passou em Canindé, no término da mesma semana. As circunstâncias são diferentes, embora não haja nada a comemorar em nenhuma delas.

Alguém acha que a situação está melhor agora? A organização criminosa — a mesma envolvida nos dois episódios — possui grande potencial de regeneração. Um exemplo, que muita gente comemorou na época: o massacre de 111 presos no Carandiru, em 1992, teve como consequência a formação do Primeiro Comando da Capital (PCC), em 1993. É a maior facção do Brasil. Foi bom?

Dou exemplo de uma situação diferente, mas com a qual penso haver paralelo. Em setembro, na mesma Assembleia Geral da ONU na qual “pintou um clima” entre Lula e Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos se reuniu com o colega francês Emmanuel Macron. Eles falaram sobre a incursão de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza.

“Mas depois de quase dois anos de guerra, qual é o resultado? Mais uma vez, eles matam os principais líderes do Hamas. Funciona. É uma grande conquista, mas, ao mesmo tempo, você tem tantos combatentes do Hamas quanto no primeiro dia. Portanto, não funciona desmantelar o Hamas. Esta não é a maneira certa de proceder”, disse Macron.

A capacidade de repor os presos e mortos é muito grande nos dois casos. Imaginar que vai vencer essa guerra com força bruta desmedida, sem foco e com alcance irrestrito é tolice.

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