Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Entendo que alguém ache necessária uma operação tão violenta quanto se viu no Rio. A criminalidade avançou tanto que sou capaz de entender, embora discorde. Mas o sujeito se alegrar e aplaudir o que aconteceu só percebo como ato de gente sádica e macabra
Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP
CORPOS enfileirados em Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro
O número de mortos na operação policial no Rio de Janeiro é uma calamidade. Não é para isso que existe o poder público. É inocência acreditar que as coisas ficarão melhores. Elas já estão piores.
São tantas vidas humanas perdidas, de policiais, de criminosos, mas também de pessoas sobre as quais não há acusação alguma. A morte de servidores públicos no exercício das funções é sempre grave e sintoma de fracasso. Assim como a dos possíveis inocentes. No mínimo, a ação foi temerária.
Muitos estavam realmente envolvidos com o crime. Mereciam ser punidos, mas mediante julgamento e sob as regras da lei. Vários deles entraram em confronto — policiais foram recebidos a balas e bombas, lançadas inclusive por drones. Obviamente, as forças de segurança deveriam se defender. São compreensíveis e justificáveis as perdas de vidas em tal circunstância.
Alguns números dimensionam o fiasco da operação. Houve 17 vítimas sobre as quais não há antecedentes criminais. Foram 17 vidas tiradas de jovens que talvez sejam inocentes. O Estado não possui elementos de culpa contra eles, embora as redes sociais estejam tomadas por gente que já os julgou e condenou mesmo sem saber sequer os nomes. Além disso, conforme a CNN, nenhum dos 117 civis mortos estava na lista de alvos denunciados pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Compreendo que, diante de situação tão extrema na segurança pública, alguém, de entendimento mais limitado, ache que era necessária a ação da forma como ocorreu. A violência hoje é tão grande, há tanta desesperança, a falta de perspectiva é tal que as pessoas podem achar que a situação passou a exigir uma ação de força desmedida do Estado. Não concordo, mas sou capaz de entender que alguém ache necessário.
Há algo, todavia, que não consigo conceber. Correram o mundo as imagens da fileira de cadáveres, indivíduos que não foram julgados, não foram qualificados como réus.
Viu-se o mais absoluto horror, a dor das famílias abraçadas aos corpos das pessoas queridas dispostas no chão. Perante esse cenário, um político, um sujeito com mandato eletivo, ser capaz de se alegrar, de comemorar, de ficar feliz. Capaz de aplaudir e pedir que aplaudam.
Isso eu não consigo entender. Apenas percebo que se trata de alguém sádico, macabro, que encontra a satisfação, o gozo, na dor alheia. Sente prazer com o sofrimento.
Trata-se do pior tipo de ser humano. Mais grave ainda quando ingressa na política. Mais preocupante quando ambiciona poder. Se consegue, tanto mais perigoso.
Às vezes o sadismo é teatro e oportunismo, instrumento para ganhar o voto de uma gente que não sabe o que faz ou é igualmente cruel.
Mas há alguns tão convincentes que não parecem fazer uso meramente instrumental do próprio sadismo. Estão plenos de regozijo.
Transição pedetista
A presença do governador Elmano de Freitas (PT) e do prefeito Evandro Leitão (PT) na primeira convenção do PDT após as saídas de Ciro Gomes (PSDB) e de Roberto Cláudio (prestes a se filiar ao União Brasil) é o resumo do que ocorreu no partido tão combalido pelas crises desde 2022. O partido assumiu o Governo do Estado, com Izolda Cela, e tinha compromisso de apoio do PT. Mas a questão esbarrou na escolha do candidato. Perdeu governo, quase todos os prefeitos, a maioria da bancada, a Prefeitura de Fortaleza. E perderá mais parlamentares na janela.
Após 2022, a maior parte dos líderes pedetistas saiu. Depois de 2024, saiu a outra banda. Os poucos remanescentes buscam a reconstrução no lado oposto àquele a que se alinharam os mais recentes dissidentes.
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