Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: Fábio Lima/Enviado a Canindé
CASAS de Canindé marcadas por siglas de facção
Depois da ação que matou 121 pessoas no Rio de Janeiro, nova operação foi realizada nesta terça-feira, 4, desta vez pela Polícia Civil da Bahia, com importante desdobramento no Ceará. O alvo é o mesmo: a facção criminosa Comando Vermelho. Foram cumpridos 90 mandados e houve pelo menos 37 prisões. Duas prisões ocorreram no Ceará. Um membro graduado da organização em território baiano foi preso com a companheira no Eusébio. Na semana passada, um dos chefes na Bahia foi preso no Rio.
Para o CV, como dizem os íntimos, as divisas estaduais só existem quando usadas em próprio favor, como barreira à ação das forças estaduais. Enquanto isso, não há informação sobre algum nível de integração entre as operações desta semana e a da semana passada. Apenas declarações genéricas sobre troca de informações entre as polícias estaduais. Já o crime atua como um só. Agir apenas em um estado não trará solução. A impressão é de que os estados estão agindo cada um por si, com cooperações esporádicas.
Em maio, houve operação na Rocinha, no Rio de Janeiro, direcionada a criminosos do Ceará que estão lá escondidos. Perceba: cearenses e baianos na Rocinha, baiano no Ceará. Nenhum estado resolverá o assunto sozinho. Pode matar cem, mil, dez mil. Se houver integração e trabalho em conjunto, ainda será uma trabalheira enorme.
O poder público brasileiro está muito atrasado, obsoleto, na estrutura para esse enfrentamento. As facções são flexíveis, estruturam-se em rede e com hierarquias fluidas. Toda semana, em todo canto, tem chefe sendo preso. Parecem a hidra da mitologia, corta-se a cabeça e crescem sei lá quantas no lugar. Quando esse assunto vira briga política e exploração eleitoral, como tem sido regra no Brasil e ainda mais desde a operação nos complexos da Penha e do Alemão, o problema fica pior. Independentemente das diferenças de concepção, em momentos de crise tão extrema, as esferas de governo têm obrigação de trabalhar juntas. O Governo Federal tem sido omisso nessa coordenação.
Vazio de ideias
Líderes da oposição fazem uma crítica correta ao governo Elmano de Freitas (PT). Falta inovação no enfrentamento ao crime. O discurso que ele repete é o mesmo usado por Cid Gomes (PSB) e Camilo Santana (PT). Mais e mais policiais na rua. Tudo bem, mas qual a estratégia? Qual o objetivo do aumento de contingente? Apenas colocar não resolve. Os governadores, sucessivamente, também apontam quanto dinheiro investiram na área. É verdade. Já escrevi: se você tem goteira em casa, você tem um problema. Se você gastou muito dinheiro e a goteira continua, são dois problemas.
Por outro lado, também na oposição não percebo nada de diferente ou original. Roberto Cláudio e Capitão Wagner (ambos agora do União Brasil) concorreram a governador em 2022 e não notei nada de muito novo ou original. Coisa alguma que passasse a convicção de que poderia resolver a questão. Ciro recentemente falou em tecnologia e inteligência. O mesmo discurso genérico feito em toda parte. Lula mesmo se manifestou nessa direção agora. Ciro falou também em atacar os vínculos políticos e aproveitou para bater no PSB e nos prefeitos afastados, um preso, outro foragido. A crítica é correta, mas não expõe o como fazer. Serve mais para fustigar os adversários.
Até porque os anos mais violentos da história do Ceará foram 2017 e 2018. Nessa época, Camilo, Cid, Ciro e Roberto Cláudio estavam todos juntos, aliados e de braços dados.
Não vejo ideias factíveis para atacar a questão. O pior da exploração política neste momento é alguém querer vender a ideia de que existe solução fácil.
É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.