Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: Andressa Anholete/Agência Senado
Flávio Bolsonaro foi indicado pelo pai como pré-candidato
Flávio Bolsonaro (PL-RJ) lançou uma pré-candidatura a presidente que, em princípio, não foi levada muito a sério. Ele mesmo a tratou como moeda de troca, mas depois mudou o discurso. A pesquisa Quaest mostrou a competitividade dele em comparação com outras alternativas do campo conservador. Para o centrão, foi um tonel de água gelada. Desde então, Flávio caiu na estrada em busca de se consolidar. Uma das investidas centrais é no mercado financeiro.
O apoio dos meios empresariais é um dos grandes diferenciais competitivos da direita. A esquerda não é bem vista nos segmentos. Criticar o capitalismo e os donos de empresas e defender direito dos trabalhadores costuma não ser muito popular nessas rodas. Nas administrações petistas, houve momentos de maior ortodoxia, como com Antonio Palocci, e outros mais desenvolvimentistas, sob condução de Guido Mantega. O primeiro foi abraçado pelo grande capital — a despeito de escândalos cabeludos com os quais se envolveu. O outro era bastante rejeitado nos setores econômicos.
Apesar das ideias heterodoxas, o bolsonarismo é mais bem aceito no empresariado. Não chega a ser um Tarcísio de Freitas (Republicanos) ou um Geraldo Alckmin (PSB). Não alcança, para esse público-alvo, o sex appeal do velho PSDB, monótono, previsível e sem surpresas. O bolsonarismo, por sua vez, é radical, produz turbulência em escala industrial e alimenta-se das polêmicas. Não é a melhor coisa do mundo para o ambiente de negócios, mas, em comparação com o PT, é mais palatável.
A receita de Jair Bolsonaro (PL) foi terceirizar a economia. Entregou o comando ao “Posto Ipiranga” Paulo Guedes, um tubarão do setor bancário. Ele conferiu a credibilidade perante o mercado, deixando o então presidente livre para coisas pelas quais se interessa: questões de costumes, enfrentamento ideológico e as confusões de que gosta.
Flávio busca seguir pela mesma linha. Quer anunciar ministros antecipadamente. E, em conversas com empresários, fala em retomar o que foi feito pelo pai na economia. Aí a coisa se complica.
Aquele governo tinha um programa de reformas que apenas começou. Paulo Guedes falava em “mais Brasil, menos Brasília”, o que não se concretizou. Houve a renúncia de algumas receitas — mas o impacto foi maior para estados e municípios que para a União. O teto de gastos foi ultrapassado cinco vezes. Havia um discurso contra programas de transferência de renda, mas, no fim das contas, a marca que Bolsonaro mais alardeou na campanha foi o Auxílio Brasil, o Bolsa Família dele. Às vésperas das eleições de 2022, foi aprovado um pacote de benefícios sociais, com aumento de auxílios, incluindo vale gás e voucher para caminhoneiros e taxistas.
Aquele governo tinha um argumento bom para explicar tudo isso: a pandemia de Covid-19. É válido. Mas não dá para falar em retornar a algo que o mandato do ex-presidente não foi. No máximo, o que pretendia e não conseguiu. Falhou por causa da Covid-19? Pode ser. Sem dúvida, atrapalhou bastante. Teria conseguido sem a pandemia? Nunca saberemos. Só se pode especular.
Hegemonia bolsonarista
O mercado, a rigor, quer um conservador na Presidência, mas adoraria se livrar da inconstância e da permanente adrenalina do bolsonarismo. Mas, mostrou a pesquisa Quaest, dificilmente alguma força na direita irá se criar sem o apoio da família. Eles podem até não ganhar, mas são a principal referência desse campo político, com folga. Do mesmo jeito que ocorre com o PT na esquerda. Viu-se em 2018. Fernando Haddad (PT) não teve votos para vencer, mas recebeu mais que o dobro da votação de Ciro Gomes (PSDB), o outro candidato que, na época, encenava posição política parecida.
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