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Os falsos defensores da Polícia
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Os falsos defensores da Polícia

Tipo Análise
Juan Ferreira dos Santos, 14 anos, foi morto com tiro na cabeça (Foto: Reprodução/ Facebook)
Foto: Reprodução/ Facebook Juan Ferreira dos Santos, 14 anos, foi morto com tiro na cabeça

Policiais são uma categoria grande, relativamente organizada e unida pelas condições que enfrenta e pela solidariedade mútua diante do perigo. Por isso, atrair a simpatia do segmento é poderosa arma política, constantemente explorada, com mais ou menos mérito a depender do caso. Ocorre o seguinte: tem gente que se passa de defensora da Polícia e não está defendendo coisa nenhuma. Está defendendo justamente os problemas e desvios da Polícia - que existem em qualquer categoria. Isso não é defender a Polícia.

Do mesmo jeito que não é defender o jornalismo passar a mão na cabeça de profissionais venais, ou dos chapas-brancas. Quando se comete erro no jornalismo - e isso acontece todo dia - o correto é reparar o erro. Não é fingir que não existiu ou sustentar que o errado é o certo.

Estou dizendo isso porque, de volta à Polícia, o assassinato de uma criança de 8 anos, com tiro pelas costas, é um erro, um absurdo completo, inaceitável.

Quem defende assassinato pela Polícia não defende a Polícia. Quem passa a mão em erro tão evidente não contribui para a corporação. Uma coisa é o policial se defender em situação de risco. Jamais defenderei que o policial se permita matar sem reagir ao criminoso. O número de mortes de policiais é outro absurdo. Porém, Ágatha Félix não era um risco para os policiais. Juan Ferreira dos Santos, de 14 anos, morto por tiro disparado por policial no Vicente Pinzon, tampouco era ameaça.

Ouça podcast sobre o caso Juan:

Listen to "#146 - A história do jovem de periferia morto em abordagem policial" on Spreaker.

Quem defende tais crimes age cegamente, por interesse ou conveniência. Defende de verdade a Polícia, como a qualquer instituição, quem aponta os problemas e cobra a correção. Não quem aplaude absurdos e assim contribui para perpetuá-lo. Conheço policiais muito sérios e nenhum acha parte do trabalho, nem contingência inescapável, matar criança pelas costas.

Não defende a Polícia quem diz que é normal policial matar criança. Como não defende quem diz que é normal Polícia matar pedreiro ou frentista. Dizer que esse tipo de situação é aceitável dentro do trabalho da Polícia não é ficar a favor dela. Defender a Polícia é dizer que isso é inaceitável. Isso é proteger a Polícia, é resguardá-la. Dizer que isso é um óbvio erro, desvio de conduta, responsabilidade que precisa ser apurada. Do contrário, dizer que isso é normal é tirar o episódio da esfera do erro individual e lançá-lo ao patamar de política institucional.

A cruel política sobre

o uso medicinal da maconha

A Comissão de Direitos Humanos do Senado vota hoje a regulamentação do uso da cannabis medicinal. O senador cearense Eduardo Girão (Podemos) apresentou voto em separado para rejeitar a proposta. Ele defende que, de cerca de 500 substâncias presentes na maconha, apenas o canabidiol (CBD) tem efeitos exclusivamente benéficos. Ele é a favor da liberação apenas dos medicamentos que tenham exclusivamente o CBD.

"Está cientificamente comprovado que das 500 substâncias da maconha apenas uma, o CBD, tem efeitos exclusivamente benéficos para a saúde humana. Defendemos a utilização exclusiva do CBD nos tratamentos médicos, através de medicamentos submetidos os protocolos de testes necessários. Afinal não é justo que uma criança tenha que consumir 499 outras substâncias da maconha para se beneficiar de apenas uma delas" Eduardo Girão

Bom, são muitos os medicamentos e terapias que produzem efeitos que não são exclusivamente benéficos. Vejam quantos remédios não têm contraindicações ou efeitos colaterais. Tratamentos como quimioterapias são profundamente agressivos para o organismo.

O paciente deve ser submetido a esse medicamento? Acho que essa decisão é do médico, não dos senhores congressistas. Se a avaliação dos profissionais de saúde for contrária à liberação do medicamento por razões técnicas, tudo bem. Mas, se políticos têm oposição moral ao uso da substância, façam-me o favor.

Sabe o mais cruel na proibição do uso medicinal da maconha? Quem quer usar a droga consegue hoje na segunda esquina. Mas, para um pai ou uma mãe conseguir o medicamento, não encontra em boca de fumo. O produto precisa ser industrializado, passar por processos rígidos de controle.

O senador Eduardo Girão tem uma virtude sobre a maioria dos políticos: defende o que acredita, não as conveniências. Por vezes, todavia, acredita que as políticas públicas devem ser subordinadas às crenças e convicções pessoais dele.

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