Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O Heitor Férrer (Solidariedade) que abriu ontem a série de entrevistas na rádio O POVO CBN com os pré-candidatos a prefeito de Fortaleza não parecia o mais contumaz opositor dos Ferreira Gomes. Ele fez elogios ao prefeito Roberto Cláudio (PDT). Parecia mais daqueles candidatos que integram a base aliada, mas se lançam para demarcar espaço político do partido. Afirmou que, do ponto de vista das obras, RC fez até mais que Juraci Magalhães. Admitiu que, nesse aspecto, a população de Fortaleza está muito bem contemplada. Verdade que cobrou mais intervenções na periferia. Também defendeu mais "sentimento". Propôs como palavras de ordem "menos cimento e mais sentimento" ou, "cimento com sentimento".
Heitor vai para sua quarta candidatura a prefeito. Em 2004 ficou em sexto. Em 2008, disputou com Patrícia Saboya a indicação do PDT para concorrer e perdeu. Em 2012, passou muito perto de ir ao segundo turno. Em 2016, ficou em quarto lugar, com 7% dos votos, pouco mais de um terço dos mais de 20% que teve quatro anos antes.
O Heitor de 2012 quase deixa RC fora do segundo turno. Surfou no discurso de independência numa campanha polarizada entre o candidato da prefeita e o do governador. Em 2016, sem o contraponto dos Ferreira Gomes no governo, murchou. O governo Camilo Santana (PT) fez mal a ele. Apostou na crítica aos fotosensores, que promete replicar agora. Há quatro anos não colou o discurso bem ao gosto da classe média motorizada que gera multas em Fortaleza. Com mais de um milhão de ônibus por dia, ninguém vai se eleger em Fortaleza com campanha voltada para quem tem veículo particular.
O discurso do Heitor 2020 sinaliza para alguém que reconhecerá os méritos do atual prefeito, mas irá propor mudanças nas ações. Não será um Heitor de ruptura "contra tudo que está aí", mas alguém que dará continuidade ao que está bom.
Na base aliada, a candidatura de Roberto Cláudio, seja quem for o escolhido, irá na linha de dar continuidade às ações. Apostará na aprovação à gestão. Heitor indica caminho parecido, de que a população não quer mudar tudo, mas melhorar. Opositores que disputam contra governos bem avaliados adotam esse caminho. Vale lembrar o próprio José Serra (PSDB) quando disputou contra Dilma Rousseff (PT) a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Perdeu. Invariavelmente, eleitores costumam achar que governistas são as melhores alternativas para dar continuidade aos governos de plantão.
Hoje o entrevistado será Capitão Wagner (Pros) veremos se o tom será de ruptura com o prefeito que o derrotou há quatro anos.
O Oscar mexe com a política brasileira
A semana política começa agitada por causa de Hollywood. Democracia em Vertigem foi indicado ao Oscar de melhor documentário, o que agitou a política brasileira como nunca antes na história da Academia.
O filme bate duro no processo de impeachment - e com isso se torna a mais poderosa arma de que o PT poderia dispor para divulgar a visão de que houve um golpe. Como se contrapor a isso? Do ponto de vista artístico, o Oscar é questionado e questionável desde 1929. Muita coisa discutível já ganhou e obras-primas já foram ignoradas. Nunca foi o melhor termômetro da qualidade artística. Porém, seus prestígio e repercussão são inegáveis. Então, pode-se vociferar, ficar indignado, mas isso não fará com que deixe de ser o prêmio mais desejado e valorizado da indústria.
Fala-se do "viés ideológico" do meio do cinema. É verdade que há uma hegemonia progressista no meio cultural, daí ser difícil para o bolsonarismo fazer frente ao mesmo tempo em que vive às turras com artistas. Mas, daí a colocar pecha de petista no Oscar vai um pouco demais. Não cola o argumento usado para rebater tantos e tantos argumentos. Mas, de fato, estivesse Hollywood preocupada com a micropolítica partidária brasileira, seria de esperar que tomasse as dores do governo.
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