Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tira o governador Camilo Santana (PT) do sério. Isso vai ficando muito evidente à medida em que o cearense avança nos espaços do debate político nacional, como, por exemplo, aconteceu ontem na entrevista ao programa Roda Viva, da Rede Cultura, onde o único sotaque que lhe soava familiar era o do colega Érico Firmo, aqui da casa. Até o tom de voz de Camilo se altera quando a situação exige que se refira a Bolsonaro.
Ao longo dos 90 minutos do programa, em vários momentos, lá estava o governador cearense sendo chamado a analisar alguma coisa relacionada à quadra difícil do País e, em cima disso, abordar o comportamento do presidente Bolsonaro. "Inaceitável" foi o termo utilizado à exaustão por Camilo, que conhecemos aqui marcado pela calma e a mansidão desde quando viu-se alçado a uma condição de protagonismo na política. Coisa rara, sua voz se altera, eleva-se, e é visível o seu desconforto.
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Por outro lado, Camilo gastou às sobras o jeitão sossegado para safar-se de questionamentos incômodos sobre a crise da segurança que o atormenta desde o começo do segundo governo, mesmo que no momento pareça melhor controlada, ou acerca da falta de conversa, com sinais de briga, entre Ciro Gomes e Luiz Inácio Lula da Silva, líderes dos quais é aliado, se diz admirador e que voltou a dizer que vai trabalhar para tentar juntá-los mais uma vez. Sobre essas questões, espinhosas tanto quanto o quadro dramático do Ceará com os números da Covid-19, tirou tudo de letra, com a modulação de sempre.
Agora, quando o tema era Bolsonaro, fosse pelo comportamento na crise da pandemia, pelas suas atitudes que lançam dúvidas sobre a própria estabilidade no País ou até pelas bandeiras da área da segurança, como a ideia de armar geral a população, um outro Camilo surgia. Mais incisivo, pouco paciente e defendendo que as forças democráticas precisam estar juntas, Ciro e Lula, inclusive, para defender as nossas instituições de qualquer aventura, a despeito do cuidado em dizer que as considera, hoje, bem estabelecidas e seguras.
O resumo da história, ao meu ver, é que Camilo já se sente, sim, atraído pela ideia de um projeto nacional. Quem assistiu a entrevista de ontem inadvertidamente e, por exemplo, nunca ouvira falar daquele político colocado no centro (simbólico) do Roda Viva, encontrou uma voz interessada em se posicionar de maneira contrária e firme ao que representa o atual presidente da República. Talvez comece a prestar mais atenção nela.
Há muita água por rolar, tem uma pandemia e uma eleição municipal ainda em 2020 como desafios a serem superados no imediato, mas o nome de Camilo Santana vai galgando seus espaços. Ontem, pode ter avançado mais algumas casas dentro de um jogo que precisa de paciência para ser jogado e ele já mostrou que a tem. Exceto quando é, hoje, para falar de Jair Bolsonaro.
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