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A vitória imaginária e o barulho real
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A vitória imaginária e o barulho real

Tipo Opinião
0612gualter (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos 0612gualter

Há sentido estratégico no comportamento de Ciro Gomes no pós-eleição, investindo contra o presidente Bolsonaro, o PT, Lula, Flávio Dino e Guilherme Boulos e adotando o estilo metralhadora giratória na maratona de entrevistas de que participou ao longo de toda a semana. Seu olho está no tal espaço por ocupar no coração do eleitor brasileiro, permitindo-lhe fugir dos extremos nos quais estariam instalados, hoje, numa ponta o bolsonarismo e na outra o lulopetismo e seus derivados.

O mais questionável é vê-lo, com sua personalidade política e pessoal sobejamente conhecida, insinuando-se entre os disponíveis no momento para ocupar um espaço em aberto que se imagina destinado a alguém que serene o ambiente, acalme os ânimos. Ciro Gomes?? Suas próprias declarações na ressaca das urnas, mal os resultados apareceram e antes de qualquer esforço de uma análise mais refinada, considerando características próprias de uma disputa municipal, confirmam sua condição mais de incendiário do que de pacificador.

Aliás, primeiro se deve fazer uma análise mais criteriosa do que aconteceu no processo porque está equivocada a conclusão que vejo posta aqui e ali que aponta o PDT, e na esteira dele Ciro Gomes, como um dos vencedores de 2020. Pergunto, então: onde? Quais os números ou o grande exemplo, daqueles simbólicos mesmo, que permitem apontar algo nesse sentido? Aponte-se uma performance pedetista que tenha chamado atenção numa cidade politicamente importante, do tipo São Paulo, Rio, Porto Alegre ou Belo Horizonte para ficar nas quatro mais referenciais.

Mesmo o caso de Fortaleza é preciso ser visto com seus aspectos relativos. Primeiro porque o adversário Capitão Wagner, do Pros, deu uma canseira nos pedetistas, apesar de ter ido ao segundo turno quase que sem alianças novas em relação àquelas que já trazia da etapa anterior. Depois, fator até mais importante à apreciação, a estratégia da campanha de Sarto o levou a esconder Ciro Gomes, que veio a aparecer de fato ao lado do candidato apenas nas imagens das comemorações privadas pela vitória.

Tira-se Fortaleza do balanço que parece dar força à voz de Ciro e sobra o quê? Nada, o que torna incompreensível esse ar de vitorioso nas entrevistas que dá desde o fim das eleições. Comprar essa ideia é, no essencial, brigar com os números e os fatos.

"Já ganhou" quase vira quase

Era mesmo de "já ganhou" o clima na cúpula da campanha de José Sarto, do PDT, no domingo de eleição em Fortaleza. Os convites para comemoração em restaurante de elite da cidade começaram a circular pelos grupos de whatsapp já a partir das 14 horas e, na chegada ao local às 16h, com as urnas abertas e o povo ainda votando, portanto, Élcio Batista foi recebido aos gritos de "vice-prefeito". É flagrante que o final apertado de apuração surpreendeu muito a articulação da campanha pedetista.

A volta de Genoíno

O cearense José Genoíno está sendo resgatado como uma das vozes importantes do PT, após longo silêncio relacionado à condenação e ao fato de ter estado preso por um tempo, porque, na época ocupando a presidência nacional da sigla, terminou arrastado para o caso do "mensalão", primeiro dos grandes escândalos que atingiu o partido durante sua estada no poder. Detalhe é que não se conseguiu uma só prova de que Genoino tenha se beneficiado pessoalmente dos tais desvios.

Em defesa de Lula

Em várias entrevistas na semana a veículos da, chamada, mídia progressista, Genoino defendeu uma grande articulação das esquerdas para enfrentar o que denomina de "governo do Capitão". Também coube a ele um dos mais enfáticos contrapontos à entrevista do senador petista Jaques Wagner, na qual o baiano meio que defendeu que está na hora de o PT largar o o ex-presidente Lula na estrada. Para o político cearense, que é irmão do deputado José Guimarães, "não se aposenta uma utopia".

Ao lado dele, um governista

Gledson Bezerra, eleito prefeito de Juazeiro do Norte pelo Podemos, é apresentado como um dos trunfos da oposição no mapa político novo do Ceará que as urnas formataram. No entanto, quem estava ao seu lado abrindo portas em Brasília na quinta-feira, no primeiro périplo dele pela capital do País depois de eleito, era o presidente do PSD no Ceará, Domingos Filho, até onde se sabe, figura de proa na base de sustentação do governo Camilo Santana. Numa dessas a balança muda de lado.

Os novos atores que se movem

Nome forte para suceder José Sarto na presidência da Assembleia Legislativa, pelo menos naquilo que depender apenas dos colegas deputados, o pedetista Evandro Leitão aos poucos vai mudando de status na política cearense. Por exemplo, elegeu bem agora em 2020 como vereador de Fortaleza um dos seus mais próximos aliados, desde quando atuava apenas como dirigente do Ceará Sporting: Eudes Bringel, também vice-presidente da Federação Cearense de Futebol. Assim é que as coisas começam.

De empresário a senador

Tudo pronto para abrir espaço no final do ano de 2020 e começo de 2021 à esperada chegada de Júlio Ventura ao Senado Federal. Cid Ferreira Gomes, do PDT, caminha para uma nova licença do mandato, acerta-se com o 1º suplente, Prisco Bezerra, que deve apresentar razões pessoais para não assumir e, enfim, a vaga fica aberta para o 2º suplente, que vem a ser o empresário. Legítimo, mas meio ruim que se faça tanta ginástica para satisfazer, basicamente, uma vontade pessoal.

 

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