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Os primeiros passos da era Sarto
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Os primeiros passos da era Sarto

Tipo Análise
Sarto recebe de Roberto Cláudio a faixa de prefeito de Fortaleza (Foto: AURÉLIO ALVES/O POVO)
Foto: AURÉLIO ALVES/O POVO Sarto recebe de Roberto Cláudio a faixa de prefeito de Fortaleza

Até não parece, considerados os aspectos naturais a um processo em que a continuidade venceu e do esforço que precisará ser feito por quem chega desde o momento inicial para mostrar que está tudo sob controle, mas a missão que José Sarto abraçou, dois dias atrás, assumindo a prefeitura de Fortaleza, lhe será profundamente desafiadora. Seria para quem quer que viesse a vencer a disputa, diante das circunstâncias históricas e conjunturais, embora fosse muito mais cômoda àquele ou àquela que viesse da oposição e, portanto, dispondo de alguma paciência das pessoas para um tempo de arrumação da casa.

Quando candidato, o pedetista passou o tempo todo sustentando que não há casa para arrumar. Representa, portanto, a continuação da gestão Roberto Cláudio, com o detalhe de que Roberto Cláudio não estará mais nela. Nesse sentido, a equipe que acompanha o novo prefeito nos passos iniciais de sua caminhada representaria o quê, exatamente? Na minha cabeça, pelas escolhas feitas, uma ideia muito precisa de que o novo prefeito quer mesmo chegar com cuidado e sem gerar barulho no primeiros passos de sua trajetória.

Na transição mais quieta da história, sem burburinhos, até mesmo quase que sem especulações, Sarto foi mantido à vontade, considerado o ambiente externo que se cria nessas horas, para montar uma equipe à sua feição. E, vendo-se a lista de nomes, é o que fez. Como característica forte do secretariado que inicia agora o trabalho com o novo prefeito, aponta-se a inexistência de "estrelas", daquela figura com o peso de notável. Não há.

Mesmo em áreas sensíveis e que pressionam muito Sarto já a partir desses primeiros dias, como as pastas de Saúde e Educação, o caminho acertado foi o de buscar saídas técnicas, quando não a simples opção pela continudade. O elo entre as duas situações é o fato do prefeito haver escolhido mulheres, talvez uma coincidência, apenas. O certo é que serão áreas nas quais precisará, especialmente nos momentos de chegada, de uma política mínima para sustentar como acertado o que vinha sendo feito e impor as mudanças necessárias, porque elas existem, sem criar problemas de interpretação, o que parece sempre ruim quando a ideia é manter um projeto em execução.

A outra curiosidade que o novo tempo da política abre é em relação ao papel que terá o vice-prefeito Élcio Batista, anunciado como novo titular do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor). Talentoso e jovem, sabia-se já que a função quase decorativa que lhe garante estabilidade na gestão seria insuficiente para segurar o seu ímpeto fazedor, mas, ao mesmo tempo, por estratégia, talvez ainda não fosse o caso de lhe dar uma missão de grande visibilidade executiva. Ei-lo, então, trabalhando um olhar sobre o futuro da cidade, talvez algo mais alinhado às perspectivas amplas de trajetória que se abrem para ele. Porém, este é um tema para outra coluna, deixemos que a era Sarto comece a ganhar formas para abordá-lo com melhor compreensão das coisas e do que está em jogo.

IVO Gomes foi reeleito e reempossado em Sobral
Foto: Divulgação
IVO Gomes foi reeleito e reempossado em Sobral

Secretários e secretárias

Reeleito e reempossado prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT) quase que consegue paridade efetiva entre homens e mulheres no seu secretariado. Do total de 16 postos de primeiro escalão, sete estarão ocupados por representantes femininas, incluindo pastas estratégias como Orçamento e Finanças e Saúde, entregues, respectivamente, a Socorro Oliveira e Regina Carvalho. Conte-se, ainda, que Ivo terá uma mulher como vice, a petista Christianne Coelho.

A pauta do senador

Tema forte na agenda do senador cearense Eduardo Girão (Podemos), a legalização do aborto na Argentina foi acompanhada por ele com atenção. E, apreensão. Chegou a encaminhar uma carta aos parlamentares do vizinho país pedindo para rejeitarem a proposta, mas a vitória relativamente folgada do sim (38 votos a favor e 29 contra, além de uma abstenção) mostra que os argumentos dele não sensibilizaram muito os colegas do Senado de lá. A luta, agora, é impedir que a situação contamine o ambiente brasileiro.

Política, religião e família

Roberto Pessoa começa o terceiro mandato como prefeito de Maracanaú com novidades e extravagâncias. Na primeira categoria, criou a Secretaria de Assistência Religiosa; na segunda, chama atenção a forte presença da família Camurça no secretariado, Firmo (prefeito anterior), o filho dele, Ítalo, e a irmã, Vládia.

É oposição, sem apelidos

Oposição não pede ou exige um adjetivo para se explicar como tal. É ou não é, simples assim. Portanto, a bancada do PT na Câmara será oposiconista em relação ao governo José Sarto e esqueçamos o papo lá de "qualificada". É pobre a discussão que se faz sobre o comportamento a adorar diante de uma proposta boa do prefeito, garantindo-se que terão apoio dos vereadores petistas, como se o fato de ser oposição lhes obrigasse a ser contra inclusive as boas iniciativas. Não são.

Preparativos para volta

Quem promete um retorno firme ao cenário político em 2021 é o ex-senador Eunício Oliveira, ainda presidente do MDB cearense. Finaliza uma ideia de promover uma espécie de caravana pelo Interior, animando debates internos para decidir como será sua participação no processo eleitoral do próximo ano. No discurso em fase de montagem, tende a entrar no bloco dos que vão apelar ao eleitor para que fuja dos extremos, ou seja, olhe para quem não é de direita e nem de esquerda. Mais MDB, impossível.

  

Presidente há, o que falta é governo

A verdade é uma só: o ano de 2020 fechou-se e o de 2021 abriu-se em cenário que expõe um Brasil sem governo. Há um presidente, um vice, inclusive, ministros nomeados e trabalhando, dirigentes de órgãos federais tocando suas vidas e tomando as medidas que a área onde atua eventualmente exija, mas, não temos um governo. Os últimos 12 meses denunciaram a situação na medida em que exigiram uma coordenação federal para melhor alinhar as ações no combate à pandemia, um problema de repercussão mundial, e ela simplesmente não aconteceu. O que mais assusta e preocupa, de verdade, é que se trata de uma opção, não é que houve uma tentativa de articular as ações e ela não deu certo.

Louve-se, diante de tudo, o comportamento que tiveram governadores e prefeitos, quase sem exceção, mesmo aqueles mais próximos a um presidente que apresentou-se alheio ao problema e à sua dimensão todo o tempo. Inclusive agora. Medidas que seriam melhor executáveis se entregues à coordenação de um poder central, com sua capilaridade e vocação natural para aproximar os diferentes, acabaram sendo adotadas estado a estado, município a município, por isso, claro, ampliando e fortalecendo a má vontade de setores que agarram-se a uma voz influenciadora como um motivador objetivo para suas resistências.

Olhar para frente mudará pouco. O presidente da República continuará sendo o que ele é, restando às instituições que integram nosso arcabouço de Estado permanecerem vigilantes e dispostas a agir, como, reconheça-se, têm feito. Até com excessos, é preciso admitir, embora a extravagância de quem comanda o País nesse momento ajude um pouco a explicá-los, o que dimensiona bem o problema que temos diante de nós. Vislumbram-se dias e meses difíceis, infelizmente. Não há outra forma de desejar Feliz Ano Novo no Brasil da conjuntura de hoje.

 

Vamos descansar?

Caro leitor: veja o que é possível fazer sem as minhas opiniões pelos próximos 30 dias porque estarei de férias. Caso possível, longe das confusões que a labuta me exige o sacríficio, muitas vezes, de acompanhar de perto. Até a volta.

Foto do Guálter George

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