Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Uma coisa não tem necessariamente a ver com a outra quando se tenta montar um mapa geopolítico atualizado da América do Sul, mas, de alguma forma, as realidades locais acabam se comunicando entre os países. Aliás, como ficou claro recentemente numa espontânea iniciativa da candidata de direita à Presidência do Peru, Keiko Fujimori, emplacando um "fora Lula" no meio de uma entrevista em que atacava o adversário de esquerda no segundo turno, Pedro Castillo, pela ameaça que representaria de implantação do comunismo no país. Fora Lula?
A questão é: entre 2021 e 2022 haverá eleições presidenciais no Equador, Peru, Colômbia, Chile e Brasil. São processos que até acontecem sem influências diretas entre si e aspectos internos é que terminam sendo efetivamente determinantes dos resultados, o que torna meio sem sentido o grito da Fujimori contra o ex-presidente brasileiro. Sequer o adversário dela há feito menção a Lula ou qualquer coisa que o represente na campanha, que terá o segundo turno acontecendo no começo de junho. A preço de momento, com amplo favoritismo de Castillo e até 20 pontos de diferença em seu favor nas pesquisas.
Imaginando-se uma linha comum, que não está dada pela realidade dos fatos, um passeio por esses países nos quais os processos eleitorais aconteceram, acontecem ou estão no calendário para breve as candidaturas identificadas como progressistas apresentam uma certa vantagem. A exceção acaba sendo, até agora, o caso equatoriano, onde a eleição já ocorreu e foi vitorioso o conservador banqueiro Guillermo Lasso. Detalhe: beneficiando-se de uma divisão irreparável entre dois candidatos de esquerda, ao ponto de Yaku Pérez, liderança indígena progressista que ficou fora do segundo turno, assumir uma posição que fez dobrar o número de votos nulos de uma etapa para outra (cada um tem sua versão de "vou ali a Paris"). Com isso, Andrés Araus, pupilo do ex-presidente Rafael Correia que esteve perto de ganhar no primeiro turno, acabou derrotado.
Sobre o assunto:
Talvez esteja na Colômbia o caso mais emblemático e útil à discussão. A exemplo do Brasil, falta pouco mais de um ano para a data efetiva das eleições e o favorito absoluto de agora é o senador de esquerda Gustavo Petro. Aqui sim, o exemplo Bolsonaro tem sido utilizado à exaustão, negativamente, e há chances disso estar impulsionando o discurso contra um governo local, comandado pelo uribista (do grupo do ex-presidente conservador Álvaro Uribe) Ivan Duque, que sequencia gestões liberais, num ciclo que pode estar se encerrando.
Agregando-se os casos do Chile, onde dois candidatos de esquerda brigam pela primeira posição (um deles até do Partido Comunista), e da Bolívia, onde o grupo de Evo Morales retomou o controle da presidência no ano passado, através de Luis Arce, a verdade é que o desenho político que se forma para a região aponta, sim, para uma nova fase de predominância de governos progressistas, ou, pelo menos, não conservadores clássicos. Paraguai e Uruguai, com os direitistas Mário Abdo Benitez e Luis Alberto Lacalle Pou, ajudariam a manter o equilíbrio, pelo outro lado.
Caberia ainda discutir a Argentina, do peronista Alberto Fernandes, e a Venezuela, de Nicolás Maduro com sua situação mal resolvida, além de misturar um pouco o quadro brasileiro com seus detalhes muito específicos, para formar o cenário político regional completo. Estes últimos temas, de tão fortes, exigiriam mais espaço do que ainda resta disponível, portanto, oportunamente voltaremos a eles. Deixemos que as pedras se acomodem melhor por mais algum tempo.
O ex-prefeito Roberto Cláudio e o senador Eduardo Girão (dois potenciais candidatos ao governo do Ceará em 2022) trocam sopapos políticos pelas redes sociais e quem anuncia que assiste tudo de camarote? Ele, o ex-senador Eunício Oliveira, que responsabiliza os aliados pedetistas, numa lista em que coloca RC na fileira da frente, por sua derrota de quatro anos atrás ao tentar reeleição. Com ares até divertidos e citação ao genial Cartola, diz que o ex-prefeito de Fortaleza criou o próprio algoz com a atitude de 2018.
Para lembrar: Eunício acusa os pedetistas de terem, na reta final de campanha, orientado o voto em Eduardo Girão, que terminaria vencedor da disputa com a decisiva e surpreendente votação obtida em Fortaleza. Segundo o emedebista, com direito até a reuniões de mobilização na noite de sexta-feira anterior ao domingo da eleição na qual deu-se a ordem para votar no candidato, então do Pros, um neófito na política e que protagonizou, na época, uma das maiores surpresas do País.
Eduardo Girão, aliás, que agiu de maneira prática para tirar de cima de si o carimbo de "bolsonarista" que o noticiário sobre a CPI da Covid tenta lhe cravar o tempo todo. O Palácio do Planalto não gostou e ainda tenta entender as razões do requerimento de sua autoria que pede esclarecimentos sobre os passeios de Jair Bolsonaro por Brasília, sem máscaras e causando aglomerações. Não é coisa de aliado, mesmo, porque é material com potencial para dar muita dor de cabeça ao presidente.
Há certa estranheza de gente de dentro do governo, que não será expressa publicamente por enquanto, com a história de Eudoro Santana, pai do governador Camilo, aparecer defendendo o nome do filho como opção nas esquerdas para disputar a presidência da República. Experiente como é, na política há tanto tempo, sabe ele que um dos efeitos pode ser colocar Camilo como "alvo" numa hora de CPI no Congresso que tem tudo para monopolizar a atenção política nacional.
A vistosa e brilhosa camisa azul de Ciro Gomes na entrevista durante a semana a Glenn Greenwald, agora no time da Carta Capital, fez tanto sucesso quanto os novos ataques ao lulopetismo. Há quem veja no detalhe um sinal de que o recém contratado marqueteiro João Santana, que durante muito tempo deu o tom nas estratégias petistas, até ser preso, vai querer mudanças também na forma, e não somente no conteúdo, para viabilizar os planos do provável candidato do PDT à presidência em 2022.
É matemática, mas não parece técnica, a principal tese de defesa da chapa Glêdson Bezerra/Geovanni Sampaio no discurso de contestação à decisão do TRE que cassou a aliança vitoriosa ano passado em Juazeiro do Norte. O que eles dizem? O fato de os partidos aos quais pertencem, Podemos e PSD, terem eleito apenas dois vereadores, um de cada, demonstraria que não houve abuso de poder econômico na campanha. É um bom argumento para abrir a conversa, mas não parece bastar para encerrá-la com peso de convencimento.
O ano de 2022 não será fácil para muita gente no meio político considerando o processo eleitoral que se avizinha. Acredita-se que a área jurídica esteja entre as mais demandadas, como efeito de um cenário polarizado (caso aconteça), ou, de qualquer forma, da disposição já manifestada pelo atual presidente da República de ir à campanha de reeleição disposto a animar o debate com todas aquelas dúvidas vazias sobre a segurança das urnas eletrônicas utilizadas no Brasil. Até 2018, sem qualquer contestação ou polêmica.
O Instituto Cearense de Direito Eleitoral (Icede) prepara-se para um cenário nesse nível e, nos meses de maio e junho, organizará uma discussão em série como preparação para o que está por vir. O presidente, André Costa, diz que a ideia é trazer parlamentares, autoridades e políticos para debates semanais sobre o novo Código Eleitoral, cujo texto está em fase de discussão e elaboração pela Câmara dos Deputados. É uma tentativa de atualizar a lei que tem o apoio quase unânime da classe jurídica, de advogados a magistrados.
Uma das primeiras convidadas será a deputada federal piauiense Margareth Coelho, do Progressistas, relatora designada pelo Grupo de Trabalho da Câmara que vai apresentar as sugestões de mudanças que o processo eleitoral efetivamente exige e cujo texto deve ser apreciado ainda em maio. O projeto do Icede se chamará "Diálogos Eleitorais" e os eventos poderão ser acompanhados pelas redes sociais da entidade, sempre às segundas-feiras, a partir de 20 horas.
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