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O diplomata que não nasceu para ser chanceler
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O diplomata que não nasceu para ser chanceler

Tipo Opinião
Ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM); relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).
 (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado Ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM); relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Um amigo com quem costumo dividir opiniões sobre a geopolítica internacional, matéria na qual é craque, fala há tempos do que tem ouvido das fontes do Palácio Itamaraty com as quais se acostumou a conversar frequentemente após anos de convivência. O que ele tem ouvido do que aconteceu na era Ernesto Araújo é um indicativo do retrocesso que o País experimentou como resultado de dois anos e alguns meses de um Chanceler que, sabia-se desde sempre, não estava apto ao cargo quando chamado a exercê-lo.

A relação de pessoas com as quais conversou a fonte ao longo dos anos de 2019 e 2020 envolve, inclusive, embaixadores atualmente em missão no exterior, ocupando cargos importantes nas representações brasileiras. Vários deles lhe informaram estar evitando atender as ligações do (então) ministro Ernesto Araújo, por se sentirem constrangidos, em muitas situações, para levarem adiante suas ordens. Confesso que ouvia tais histórias, até recentemente, imaginando haver ali um certo exagero e um pouco de influência política da parte de alguém que se posiciona, hoje, numa linha antibolsonarista muito clara.

Acontece que o País pôde conhecer ontem, na transmissão da TV Senado de mais uma sessão da CPI da Covid, Ernesto Araújo em seu estado puro. E foi assustador perceber que alguém que liderou a estratégica política internacional do Brasil durante tanto tempo não parece capaz de elaborar uma frase compreensível, ainda desconsiderando o aspecto em que se atropela quando tenta pensar e falar ao mesmo tempo e, também, o ponto em que não consegue sustentar uma verdade. Durante uma conversa de horas.

Imagina-se que a solução Ernesto Araújo tenha saído de uma avaliação feita por Bolsonaro e seu grupo, lá no início do governo, de que o ideal para o cargo de Chanceler seria escolher um representante do qualificado corpo técnico do Itamaraty. Na sua amplíssima maioria o é, estamos diante daquele tipo de exceção que serve para confirmar uma regra. Acontece que para encontrar alguém disposto a tocar a política ideologizada e antiestratégica que estava pensada para a área teria que ser um diplomata, mesmo de carreira, sem currículo a preservar e, como era o caso do escolhido, com uma vida funcional marcada por tarefas e missões irrelevantes. Mesmo assim, o espetáculo dessa terça no Senado foi vergonhoso, embora didático como explicação para o fato de termos chegado à condição, que hoje ostentamos sem orgulho, de pária internacional.

Ciro Gomes anuncia João Santana como marqueteiro do PDT
Foto: Reprodução/Twitter
Ciro Gomes anuncia João Santana como marqueteiro do PDT

CIRO QUER UM ACENO À CLASSE MÉDIA

O momento de pré-campanha de Ciro Gomes, do PDT, não é feito apenas de lives, ataques a Lula e conversas/reuniões com o marqueteiro João Santana. A equipe econômica que o acompanha, alguns deles integrantes de longa data do time, está debruçada sobre uma missão a ela entregue e que a estratégia política considera fundamental para o momento: formalizar uma proposta tributária focada na classe média. Alguma coisa começa a ser esboçada.

Um ponto de partida que ganha corpo é a ampliação da faixa de isentos, que nos números sob estudo passariam dos atuais R$ 2 mil, aproximadamente, para R$ 5 mil. Medida, claro, altamente simpática e que pode ajudar o pedetista na conquista de um segmento em disputa dentro do quadro atual de acomodação política que levará ao desenho final do cenário eleitoral de 2022. Para se ter uma ideia, desde 2015 que a tabela permanece sem qualquer alteração. A dúvida, que a turma das contas trabalha para dirimir, é se cabe dentro de uma estrutura fiscal que deixa pouco espaço para brincadeiras de qualquer tipo sem gerar desequilíbrios.

O cearense Mauro Benevides Filho, deputado federal pedetista licenciado e hoje na equipe de secretários do governador petista Camilo Santana, é um dos líderes do grupo. Aliás, novidade real na equipe econômica que Ciro pretende levar à sua nova campanha é Paulo Rabello de Castro, aquele que presidia o BNDES no governo de Michel Temer, ali no começo, e acabou perdendo o cargo quando respaldou a política do banco na era PT em relação a investimentos no exterior e no apoio à criação dos chamados "campeões nacionais". Na verdade, ele simplesmente defendeu que uma auditoria não encontrara qualquer irregularidade.

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