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Eleições 2022: Distritão, a panaceia da vez
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Eleições 2022: Distritão, a panaceia da vez

Mais um debate debate casuísta para as eleições 2022: a substituição do modelo de quociente eleitoral para o de vagas proporcionais pelo sistema direto do distritão
Tipo Opinião
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O estilo Bolsonaro, com os barulhos e as inconsequências que carrega, está agravando um problema que é histórico no comportamento dos congressistas brasileiros: praticar casuísmos a cada processo eleitoral. Há sempre um pacote de novidades que deputados e senadores aprovam que têm a ver com as circunstâncias e que buscam beneficiar aquele que detêm o poder no momento. Assim surgiu entre nós, por exemplo a figura hoje execrável do direito à reeleição, criticada agora inclusive por quem propôs lá atrás sua introdução no modelo brasileiro. Patrono da causa, quando presidente da República, Fernando Henrique Cardoso está fazendo agora um mea culpa envergonhado daquela situação que animou, inclusive através de meios hetedoroxos, para tirar proveito próprio de um momento.

A batalha insana de Bolsonaro e trupe para trazer de volta o atraso do voto impresso, mesmo que caminhe para o insucesso, abre espaço para outras agendas de quem olha para a próxima temporada eleitoral buscando imaginar como sua vida pode ser facilitada. Por exemplo, da bem encaminhada ideia de lançar de paraquedas no processo de 2022 a substituição de um modelo que estabelece quocientes eleitorais para definir os vencedores na disputa por vagas proporcionais pelo sistema direto do distritão.

Há simpatia à ideia, da parte dos incautos, pelo ponto em que ela facilita demais a compreensão de quem sai vencedor nessas horas. Numa explicação básica, se são 22 vagas para bancada federal cearense, imaginando-se o Estado como um dos tais distritões, destaca-se o mapa de apuração até o 22º nome mais votado e ali estarão os vencedores, esquecendo-se para efeito de definição de eleito o partido ou coligação que integre. Sem necessidade daquela complicação de dividir votos efetivos pelo número de cadeiras em disputa, somar o que cada aliança acumula, em alguns casos observar sobras, enfim, admita-se que uma metodologia complicada dá lugar a uma outra que, de início, não exige qualquer cálculo.

O que acontece é que o debate não pode vir isolado, desconsiderando um contexto do qual fazem parte outros elementos importantes. Fortalecer individualmente os nomes dessa forma, sem discutir o papel e a relevância dos partidos, poderá representar um tiro no pé no nosso modelo de organização política. Numa situação em que hoje já reclamamos da falta de vida orgânica à maioria destas agremiações, de falta de perfil ideológico ou de inexistência de compromisso com o que seus programas defendem, como ficaria depois dos filiados perceberem que a importância aparente que resta à legenda é apenas a de validar seus projetos de candidatura? Onde imaginar que isso poderia fortalecer uma democracia que já não vive seus dias mais saudáveis?

A discussão da forma como hoje se faz no Congresso, com aquela pressa que o momento determina pela necessidade de votar qualquer mudança para vigorar já em 2022 até pelo menos um ano antes do dia programado para o eleitor ir às urnas, ou seja, 2 de outubro, serve basicamente aos maus intencionados. Apenas garantir que os mais votados chegarão aos parlamentos está longe de representar um passo efetivo no sentido de criarmos um sistema político confiável e a discussão precisaria ser muito mais profunda. E, certamente, haveria hora melhor apropriada para fazê-la considerando todas as pontas de um processo mais complexo do que faz crer a opção por uma mudança específica, isolada e que deixaria ainda muitas dúvidas quanto à capacidade que teria de ajudar a sanear um ambiente permeado por tantas desconfianças e descréditos.

Surpresa até entre tucanos

Há uma surpresa entre os tucanos cearenses com a inclusão, pelo presidente estadual Luiz Pontes, do Doutor Cabeto, secretário estadual da Saúde, na lista de nomes a serem considerados para as eleições majoritárias de 2022 no Ceará. Consultada, uma fonte, sem esconder que o assunto entrou meio de graça na história, posto que nunca chegou a ser discutido internamente, avaliou que talvez valha como lembrança para uma vice, vaga sobre a qual inexiste discussão hoje na aliança governista. Para uma cabeça de chapa, a reação foi seca e dura: "esquece".

À vontade, cada vez mais

Enquanto isso, no mesmo campo político, são cada vez menos sutis os movimentos do deputado estadual Evandro Leitão, presidente da Assembleia Legislativa. Pedetista, como Roberto Cláudio, ele não perde chance, especialmente nas converas que acontecem fora dos holofotes, de realçar sua forte proximidade com o petista Camilo Santana, de quem foi líder e de quem teve apoio decisivo para estar na cadeira onde senta atualmente. Os dois, Camilo e Leitão, reforçaram entrosamento entre si ao cumprir agenda juntos no Cariri (logo lá) recentemente.

O pacto de Evandro Leitão

A institucional decisão do presidente da Assembleia de sair em debate pelo Ceará, a pretexto de um pacto estadual contra o coronavírus, é vista como institucional apenas até a página 2. Dai em diante, vira oportunidade para se fazer mais conhecido e popular, razão pela qual, inclusive, a ideia é que Evandro Leitão esteja presente às 14 etapas que o projeto contempla. De qualquer forma, não há novidade nisso, o próprio antecessor Zezinho Albuquerque tentou o mesmo com o Pacto contra as Drogas. Não deu muito certo, é verdade.

Uma vaga guardada para alguém

Tenta-se entender movimentos recentes do vereador Lúcio Bruno, do PDT, sugerindo a colegas da Câmara de Fortaleza que não se comprometam, por enquanto, nos apoios a candidatos a deputado federal no próximo ano. O mais fiel aliado do ex-prefeito Roberto Cláudio, que é dado como nome preferido da cúpula pedetista para disputar a sucessão do governador Camilo Santana, quem conversou com ele não entendeu muito bem para quem está, de fato, guardando espaço de segurança na renhida briga pelas 22 vagas que cabem à bancada cearense.

A briga com os números

É frequente no discurso dos governistas e até do "independente" Luiz Eduardo Girão, este até com mais ênfase do que aqueles, a ideia de que a CPI da Covid instalada no Senado perdeu a credibilidade. Uma tese que, agora, também precisa brigar com pesquisa oficial realizada pelo DataSenado, órgão de pesquisa da Casa, divulgada na sexta e que aponta expressivos 66% dos ouvidos definindo como "muito importante" o trabalho de investigação realizado até o momento. A consulta ouviu 1.471 brasileiros, por telefone, nos dias 13 e 14.

A esperteza e o esperto

A coluna tratou como "jogada de mestre" do presidente Felipe Santa Cruz, semana passada, a convocação do Conselho Federal para a OAB decidir, no próximo dia 20, se apoia a abertura de processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). É o contrário, parece, já que as eleições internas, trunfo dele, acabaram transformadas em argumento definitivo para a maioria decidir, na última quarta-feira, que o momento seria inadequado e transferir a pauta para depois que CPI da Covid no Senado concluir sua investigação e apresentar conclusões.

NÚMEROS NADA RELATIVOS

A CPI da Covid, que dará uma parada nas duas próximas semanas e volta somente no dia 3 de agosto, acumula estatísticas espantosas após dois meses e meio de funcionamento no Senado. Eis algumas delas

1.100

requerimentos apresentados

1.800

ofícios encaminhados

33

depoimentos tomados

1

terabyte de material digital acumulado para análise

* Para se ter uma ideia, a CPI das Fake News acumulou meio por cento disso, ou, 5 gigabytes no seu arquivo

 

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