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O anfitrião cearense do jantar da pacificação
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O anfitrião cearense do jantar da pacificação

Na véspera da leitura da CPI da Covid, o senador cearense Tasso Jereissati promoveu jantar em sua residencia para tentar conciliar as tensões no núcleo duro da comissão
Tipo Opinião
 Mayra Pinheiro falou à CPI do Senado em maio (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado  Mayra Pinheiro falou à CPI do Senado em maio

As tensas últimas horas na CPI da Covid, especialmente no núcleo popularizado como G7, determinante até então para o avanço persistente das investigações diante da má vontade do governo e das tentativas dos bolsonaristas de atrapalhar os trabalhos dentro da própria Comissão, fizeram emergir a figura de "um bombeiro político". Seu nome? Tasso Jereissati, o tucano cearense que fez parte do núcleo e que, ontem à noite, após um dia de muitas conversas, foi anfitrião de um jantar em sua residência de Brasília para o qual convidou os senadores que seguem dispostos a votar, e aprovar, um texto final que sintetize o resultado dos meses de investigação acerca da trágica atuação do governo brasileiro no combate à Covid-19. A água no feijão precisou ser reforçada porque, além dos sete parlamentares que compõem o grupo, também foram chamados senadores e senadoras que, mesmo sem fazer parte da CPI, destacaram-se pela presença nas sessões e por participações que, em vários momentos, demonstraram-se fundamentais para avanços registrados. Casos de Simone Tebet (MDB-MS), Eliziane Gama (Cidadania-MA) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE), citando-se apenas os mais notórios.

O clima anda azedo entre o presidente Omar Aziz (PSD-AM) e o relator Renan Calheiros (MDB-AL), dois políticos experientes e que certamente sabem o tamanho do prejuízo que seus comportamentos determinam ao esforço que foi trazer a CPI até aqui com seus resultados. Para começo da conversa, o lado governista tem feito a festa com a perspectiva de o G7 apresentar-se desunido exatamente na hora decisiva de votar o relatório final. Renan tem sido muito cobrado pela história do vazamento do relatório, havendo irritado bastante os senadores aliados dele a descoberta 15 dias atrás de que jornalistas, em Brasília, já naquele momento circulavam com o texto em mãos. Tasso procurou quase todos os senadores do grupo nos últimos dias, alguns em abordagens presenciais, diretas, para sugerir a conversa na busca de uma pacificação necessária ao momento estratégico. É possível que tenha usado o menu para atrair o máximo de gente à conversa e que uma boa comida, uma bebida leve e apreciável, mais a disposição de evitar engasgos com um minúsculo mosquito, depois de meses engolindo sapo gigantesco, alivie o clima para o que se espera que acontecerá hoje no Senado. Não será um dia fácil.

Quanto à versão final do relatório de Renan Calheiros que será apresentado hoje, com a leitura esperada de um resumo das 1.178 páginas, ela circula de mãos em mãos desde a manhã de ontem. Já não se pode atribuir este vazamento ao parlamentar alagoano com tanta facilidade, visto que ele distribuiu cópias para os colegas ainda na noite de segunda-feira. Talvez por esperteza. Já tratando do conteúdo, em si, Renan carrega tintas contra a médica cearense Mayra Pinheiro, que segue Secretária de gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, sugerindo seu indiciamento como parte de um conjunto total de 70 nomes. O presidente Bolsoinaro entre eles, inclusive. A partir da página 46, onde ela aparece pela primeira vez, e ao longo de vários trechos do documento, Mayra é apresentada como um dos personagens centrais à batalha que o governo decidiu travar para impor o tratamento precoce, a defesa da tal imunidade de rebanho e até o questionamento à eficácia das vacinas. Certamente, a tucana de ontem e entusiasmada bolsonarista de hoje já esperava algo parecido como resultado da conclusão dos trabalhos da CPI, onde ele esteve depondo uma vez. Para os governistas saiu-se bem, politicamente; o que não significa dizer que sua passagem por lá também não tenha sido muito satisfatória e produtiva para a investigação, tecnicamente.

CEARENSE Mayra Pinheiro ganhou o apelido de "Capitã Cloroquina" por fazer defesa do medicamento sem eficácia contra a Covid(Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado CEARENSE Mayra Pinheiro ganhou o apelido de "Capitã Cloroquina" por fazer defesa do medicamento sem eficácia contra a Covid

Enquanto isso, Bolsonaro
estará de novo entre nós

Para quem está olhando muito para Brasília devido à movimentação esperada nessa quarta-feira em torno da CPI da Covid, lembro que teremos por aqui, no dia de hoje, o presidente Jair Bolsonaro. Vem cumprir agenda relacionada à política de águas do seu governo, o lançamento no município de Russas de edital para construção do Ramal do Salgado, ultimo trecho cearense da obra da Transposição do São Francisco, e chama atenção por ser a sua terceira passagem pelo Ceará apenas no ano de 2021. Para quem quer saber se é muito, lembro que nos dois anos anteriores do período que vem desde a posse dele no cargo haviamos tido o prazer de recepcionar uma caravana presidencial liderada por Bolsonaro apenas uma vez. Talvez tenha a ver com a temporada eleitoral que se aproxima.

 

Foto do Guálter George

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