Logo O POVO+
Ciro fala e a aliança treme
Foto de Guálter George
clique para exibir bio do colunista

Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Ciro fala e a aliança treme

O pré-candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes, tem apresentado discurso a cada dia mais agressivo com o aliado (local) PT e, mais recentemente, fazendo referências claras e diretas a nomes estaduais
0506gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 0506gualter

Há uma preocupação muito forte na turma que vai encaminhar a decisão final da aliança governista no Ceará, no sentido de apontar se ela continua e com quais candidaturas, com o comportamento mais recente do pré-candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes, com discurso a cada dia mais agressivo com o aliado (local) PT e, mais recentemente, fazendo referências claras e diretas a nomes estaduais. Ou seja, sequer parece mais possível justificar tudo alegando que faz parte de uma disputa nacional, que ele não tem obrigação de passar a mão na cabeça de adversários etc e tal. A tarefa de manter todo mundo unido vai ficando mais difícil para os comandantes Cid Gomes (pedetista) e Camilo Santana (petista).

A paz local sempre dependeu de uma estratégia, até hoje exitosa, que previa isolar a realidade cearense das grandes confusões politicas nacionais. Assim é que no discurso para o País o MDB sempre foi "uma quadrilha" na voz de Ciro Gomes, mas enquanto era aliado o núcleo estadual parecia poupado das palavras mais fortes (e põe fortes nisso) do atual pré-candidato ao Palácio do Planalto. Mesmo admitindo-se que o próprio sempre demonstrou incômodo com o fato de ter Eunício Oliveira, por exemplo, como companheiro de palanque, a verdade é que contribuiu com sua resignação para, enquanto foi possível, tê-lo reforçando o projeto governista.

Como alegou à coluna fonte consultada para entender a repercussão que poderá ter na aliança governista a opção de Ciro por dobrar a aposta nos seus ataques a Lula (seu adversário no caminho pela presidência da República) e aos petistas locais, não se conseguiu entender ainda o que ele imagina que poderá ganhar com a estratégia. O esperado impacto positivo na campanha nacional não tem aparecido, em pesquisas externas ou internas, e, como efeito colateral, conversas deixam de acontecer ou tornam-se difíceis em função do péssimo clima que o comportamento alimenta, entendendo-se como agravante o fato de pela primeira vez não estar funcionando o mecanismo de isolamento do Ceará. Ao contrário, a opção agora tem sido de jogar a realidade e os atores locais no meio da confusão.

Aliás, a mesma fonte, simpatizante do Ciro e um apoiador de sempre dos Ferreira Gomes, considera que o pedetista perdeu boa chance de repercutir em seu favor durante a semana o que aconteceu domingo na Colômbia, onde o resultado do primeiro turno contrariou uma ideia de polarização entre apenas as candidaturas de Gustavo Petro (esquerda) e Frederico Gutiérrez (direita) que marcou todo a campanha. Com isso, Petro disputará o segundo turno com Rodolfo Hernandéz, que sempre aparecia nas pesquisas num distante terceiro (ou até quarto) lugar, mesmo que a tendência de crescimento de sua campanha na reta final tenha sido captada.

Uma situação que poderia servir ao discurso do pré-candidato, no seu esforço de furar um bloqueio que lhe tem impedido de chegar aos patamares de Lula e de Bolsonaro, mas que ele optou por ignorar solenemente na sua estratégia, ocupando-se na semana em redobrar ataques e acusações ao PT. Resultado? É crescente a insatisfação e ganha força, internamente, o discurso de que o projeto dos Ferreira Gomes pode ter chegado à sua fase de esgotamento no Ceará. Dai para buscar um outro caminho é um pulo.

Céu de brigadeiro, ainda

 Anac ainda não homologou aeroporto de Sobral
 Anac ainda não homologou aeroporto de Sobral (Foto: © TIAGO STILLE/ GOV. DO CEARA)

Ninguém fala em viés político e, ao contrário, o discurso na prefeitura é de que o comportamento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) tem sido sido, até agora, totalmente técnico. Mas, o fato é que a esperada homologação do recém entregue aeroporto Luciano de Arruda Coelho, em Sobral, ainda não aconteceu devido a um conjunto de exigências apresentadas pelo organismo, sendo a principal delas a sinalização de duas linhas de energia localizadas a 3 quilômetros da pista de pouso. Caso tudo dê certo se acredita que a aprovação sai em julho permitindo, se acontecer, uma festa grande já com cheio de campanha eleitoral no ar. No reduto principal dos Ferreira Gomes, o que não seria pouca coisa.

A mão aberta do candidato

O discurso que Brasília espalha pelo País de que o preço alto dos combustíveis é responsabilidade dos governos estaduais encontra no Capitão Wagner, deputado federal e pré-candidato ao Abolição pelo União Brasil, um entusiasmado apoiador. Ele considera, por exemplo, que o Ceará poderia contribuir com a luta para conter os aumentos no setor, abrindo mão de receitas do ICMS, destacando que há R$ 11 bilhões em caixa, colchão que permitiria algum sacrifício sem desequilibrar as contas. Já em relação à política da Petrobras que prevê paridade com o mercado internacional na definição dos valores nacionais, efetivamente responsável pelos valores nas alturas, nenhum pio do parlamentar.

Pós-governo e pré-campanha

Enquanto isso, em clima de pré-campanha ao Senado, o petista ex-governador Camilo Santana circula pelo Ceará a pretexto de receber homenagens como reconhecimento, conforme alegam os proponentes, ao trabalho realizado ao longo dos quatro oito anos de gestão. Apenas nos últimos dez dias, para se ter ideia, esteve nas Câmaras de Vereadores de Aurora, Brejo Santo, Ubajara e Pacajus para receber títulos de cidadão honorário, claro, fez muito corpo-a-corpo de olho nos votos que daqui a pouco serão necessários. Diz-se que sua situação eleitoral parece tranquila, mas, político experiente, sabe ele que não existe eleição ganha.

Recontagem e mudança

Mais de um ano depois de oficialmente terminada a eleição municipal de 2020 e ainda não foi possível dar por encerrada, de fato, a dança das cadeiras no Ceará. Na próxima terça-feira deve acontecer a posse do Padre Paulo, do PSD, como novo vereador de Juazeiro do Norte, depois que a justiça eleitoral se obrigou a realizar uma nova totalização dos votos devido à cassação de Davi Araújo, do PTB, por abuso de poder econômico. O novo resultado, considerada uma situação nova de votos, acabou tirando a cadeira de um partido e entregando-a a outro, muito embora na perspectiva do prefeito Gledson Bezerra nada mudou. É tudo partido da base, de qualquer maneira.

Um limite para a farra

O deputado federal cearense Célio Studart, hoje no PSD, decidiu que vai levar até o fim sua briga contra os gastos quase sem controle de prefeituras para o patrocínio de shows. A proposta que apresentou na Câmara, para a qual busca apoio nos corredores apertados e movimentados da Câmara, determina um limite de 1% do orçamento para gastos do tipo, o que impediria o uso de recursos destinados a outras áreas, inclusive educação e saúde. Seria o fim da orgia com recursos públicos exposta na revelação do pagamento de cachês milionários a artistas pela gestão local de municípios que, em alguns casos, negam o básico do básico às suas populações.

O futuro preocupa mais

O Exame Nacional de Ensino Médio caminha para acontecer no ano de 2022 registrando o segundo pior número de inscritos de sua história, com 3.109.800. Superior apenas ao ano passado, o que indica que o País está pagando um preço alto pelo descaso do governo Bolsonaro com a área, a começar pela indicação infeliz de gente incapacitada, uma após a outra, para comandar o Ministério da Educação. A fatura que está sendo cobrada pela passagem por lá de gente como Ricardo Vèlez, Abraham Weintraub e Milton Ribeiro é ainda mais alta porque parte dos impactos aparecerá apenas no futuro. Os números declinantes do Enem, nesse sentido, podem ser apenas um aviso do que está por vir.

"Vou falar com todas as letras. Eu não fico ao lado de bandido em nenhuma circunstância, seja bandido do PT, seja de Bolsonaro. Não faço mais campanha ao lado de bandido" Ciro Gomes pré-candidato do PDT à presidência, durante entrevista ao jornalista Cláudio Dantas, do site O Antagonista, quando perguntado se apoiaria Lula num eventual segundo turno contra o atual presidente Jair Bolsonaro. Portanto, já deu o recado e nem precisa viajar a Paris caso a situação de 2018 se repita

 

Foto do Guálter George

A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?