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O PDT entre Ciro, Cid e o futuro
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O PDT entre Ciro, Cid e o futuro

A remontagem da estrutura interna do PDT no Ceará, mantendo-o na trilha das grandes legendas, vai dar muito trabalho aos que estarão envolvidos na liderança deste processo
Tipo Opinião
1610gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 1610gualter

A remontagem da estrutura interna do PDT no Ceará, mantendo-o na trilha das grandes legendas, vai dar muito trabalho aos que estarão envolvidos na liderança deste processo. Como primeira demonstração disso houve o bate-cabeça meio público entre o senador Cid Gomes e o deputado federal reeleito André Figueiredo, que preside a executiva regional, naquela situação em que um (Cid) anunciou que os pedetistas que comporão a futura bancada na Assembleia caminham para compor a base do governo do petista Elmano de Freitas e o outro (André) correu a esclarecer que o assunto nem chegou ainda à pauta das conversas. Uma espécie de desmentido.

O começo da dúvida sobre o amanhã pedetista tem uma origem doméstica, porque há necessidade de esperar que os irmãos Ciro e Cid Ferreira Gomes, além de Ivo, prefeito de Sobral, e de Lia, eleita deputada estadual, se entendam entre eles. Feridas familiares seguem abertas porque o encaminhamento que se deu ao processo eleitoral cearense gerou uma inédita divisão entre eles, não seria correto chamar de briga, e, em consequência, ao quase isolamento familiar do então candidato à Presidência da República pela decisão que tomou no Ceará de enfrentar resistências para bancar o nome de Roberto Cláudio à disputa pelo governo estadual.

A coluna teve algumas conversas nos últimos dias e, como média do que apurou, pode dizer que o incêndio não está completamente debelado. Roberto Cláudio, que não é da família, embora de origem sobralense, se recolheu a uma praia depois da derrota eleitoral em primeiro turno e evita dar qualquer opinião. No entanto, é possível dizer que se mantém bastante chateado com Cid Gomes, que ausentou-se por completo da campanha estadual do PDT, e tem a expectativa de que Ciro assuma protagonismo interno e exerça influência para posicionar o partido no espaço em que o eleitor o colocou através do voto: na oposição.

Cid Gomes (dir) e Camilo Santana: a remontagem da aliança passa pela reorganização do próprio PDT(Foto: Aurélio Alves O POVO)
Foto: Aurélio Alves O POVO Cid Gomes (dir) e Camilo Santana: a remontagem da aliança passa pela reorganização do próprio PDT

Aqui a coisa começa a encrencar um pouco mais, apesar do tom firme do presidente André Figueiredo ao indicar que não existe sequer discussão sobre o assunto acontecendo hoje. Nos números, o PDT terá a maior bancada oposicionista da próxima composição da Assembleia, com 13 dos 46 eleitos; na realidade política, cinco deles já são identificados em conversas internas como "elmanistas". Traduzindo os números em nomes, apenas os reeleitos Queiroz Filho, Cláudio Pinho, Guilherme Landim, Lia Ferreira Gomes, Sergio Aguiar, Antonio Henrique, Marcos Sobreira e Oriel Filho constam como sendo aqueles que ficaram até o fim com Roberto Cláudio, mesmo num cenário em que, a partir de dado momento, o fracasso nas urnas já se desenhava.

O comportamento que tiveram já durante a campanha os demais pedetistas eleitos - Evandro Leitão, Salmito Filho, Romeu Aldigueri, Osmar Baquit e Jeová Mota - indicaria disposição deste grupo de integrar a base aliada do futuro governo. No entanto, o que parece é que haverá disputa de posição, a preço de hoje, e não será assim tão fácil fazer o encaminhamento.

Quem for defender lá na frente uma postura de distanciamento do governo petista que se instalará em janeiro de 2023 acredita que terá a favor a voz de Ciro Gomes, indicando um novo embate entre os irmãos que nos últimos anos deram as cartas na política do Ceará e conseguiram fazê-lo sem grandes divergências entre si. É ver como isso será administrado com a sensível diferença que representa o fato de a máquina de governo estar sob controle de outras mãos.

O espaço das mulheres

A agenda de Elmano de Freitas está, hoje, totalmente voltada para a campanha nacional de segundo turno, porque o planejamento de sua gestão dependerá muito da briga que ainda acontece pela presidência da República. Com Lula é uma coisa, com Bolsonaro será outra, e, claro, seu interesse é de ver o correligionário vitorioso. No entanto, currículos de mulheres já estão sob análise porque entre as decisões tomadas de início está a de respeitar o compromisso assumido em campanha de garantir paridade na ocupação dos cargos de primeiro escalão.

O favorito e o suplente

Por falar em futuro secretariado, é possível que tenha a ver com essa perspectiva a rápida manifestação de Leônidas Cristino em favor de Lula para o segundo turno. Claro que parte disso é resultado mesmo de suas convicções pessoais e políticas, ex-ministro de governos petistas que foi. Porém, ajuda a estimular decisões do futuro governador que possam beneficiá-lo, diante dos rumores de que Idilvan Alencar pode voltar à secretaria da Educação, o que abriria vaga ao primeiro suplente do PDT na Câmara. Seu nome? Leônidas Cristino.

E as propostas?

Reeleito deputado federal, agora pelo União Brasil, o cearense Danilo Forte puxa, com razão, as orelhas dos candidatos ao comando do País a partir de 1º de janeiro de 2023, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. O que, afinal, eles apresentam de proposta objetiva para aproveitar o potencial do Nordeste? O parlamentar está certo na queixa feita estes dias ao fato de a região entrar no debate eleitoral apenas através de gestos vazios de apoio e amor ou por manifestações xenofóbicas, estas últimas como resposta do presidente à pífia votação obtida no primeiro turno.

O palanque legislativo

A semana deixou claro que o plenário da Assembleia será utilizado por bolsonaristas e lulistas para aqueles últimos esforços de convencimento do eleitor cearense para o voto no dia 30 próximo. O presidente Evandro Leitão já fez um apelo para que continuem prevalecendo as boas regras de convivência entre divergentes que, segundo ele, marcaram o funcionamento da Casa nos últimos quatro anos. Infelizmente, a tendência é que o apelo caia no vazio e a temperatura política aumente à medida em que a data decisiva se aproxime caso continue o quadro atual de proximidade entre os dois candidatos nas pesquisas.

Clima de campanha

Forças políticas de Iguatu começam a se movimentar de olho numa eleição suplementar que deverá ser realizada com o afastamento do atual prefeito, Ednaldo Lavor (PSD), já decidida pela justiça eleitoral e somente ainda não efetivada em função de recurso. Esgotado tudo, é questão apenas de o TRE marcar a data. Pois bem, o deputado estadual Agenor Neto (MDB) que acaba de ser reeleito para Assembleia, já circula na cidade com o filho Ilo Neto pelas mãos, apresentando-o como candidatíssimo. Certo mesmo é que haverá disputa, não se sabe anda com quem.

Novo desafio à vista

Outro assunto que começa a ganhar corpo ainda sem que as urnas estejam totalmente fechadas em 2022 é a sucessão de Fortaleza, que acontece apenas dentro de dois anos. Zezinho Albuquerque, com a força de quem comanda o PP no Ceará e que abraçou desde o começo o projeto de candidatura de Elmano Freitas ao governo, já deu o recado de resistência ao nome do atual prefeito pedetista José Sarto. Há muita água por correr debaixo da ponte, mas qualquer tentativa de reaproximar os aliados de até outro dia a partir da próxima disputa na capital exigirá, de novo, muito esforço.

 

Foto do Guálter George

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