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Há os números e há os fatos
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Há os números e há os fatos

O que revelam os primeiros dados para as eleições à Prefeitura em Fortaleza
Tipo Opinião
3004gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 3004gualter

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Surgiram os primeiros números acerca do cenário eleitoral de Fortaleza para 2024. Muito cedo? Talvez, para quem olha tais situações sem o cuidado de entender que a leitura das informações extraídas de consultas do gênero envolve um exercício sofisticado, que enxergue muito além dos números em si. Ainda mais quando se prefere dar atenção maior, quase única em determinadas situacões, àquelas montagens estimuladas, com pré-candidaturas inventadas, muitas delas construídas a partir de interesses não necessariamente estatísticos, muito menos informativos etc. A motivação é política, simplesmente.

Pois bem, o que há de relevante no levantamento realizado em Fortaleza pelo instituto Paraná Pesquisas e que teve os resultados divulgados na semana? A importância dele, considerada a questão tempo, está no ponto em que confirma os nomes dos atores e das atrizes da política que tendem, na cabeça do eleitor, a influir de verdade na decisão de voto a ser tomada apenas no segundo semestre do próximo ano. Parece distante, mas o calendário dos políticos, com seu ritmo próprio, torna o tempo mais curto do que nós "mortais" muitas vezes imaginamos.

Aliás, o que aconteceu na última temporada eleitoral, em 2022, talvez incentive mais, até, que no âmbito das articulações as coisas sejam aceleradas. O ex-prefeito Roberto Cláudio, que é um dos personagens fortes apontados para próxima campanha, com boa performance quando se tenta captar a manifestação espontânea dos consultados, acreditou durante boa parte do tempo de pré-campanha, na época, que caminhava para ter o nome homologado como candidato de consenso da forte aliança governista de então, o que significaria colocar em seu palanque Camilo Santana e (unidos) os irmãos Ferreira Gomes. Esta combinação, mais a força da máquina, como o resultado final confirmaria, parecia imbatível. O fator Lula, no caso, seria mitigado pela presença dos petistas locais na arrumação política final.

É evidente que isso não significa que os partidos e os políticos devem virar as costas para o trabalho. Pelo contrário, mergulha-se nos números para tirar dali, descontados todos os aspectos descontáveis, o que for de interesse para a estratégia que começa a ser montada por cada grupamento político. É uma ação inteligente, num processo que vislumbra-se complexo, em que ex-aliados não parecem dispostos a facilitar uma reaproximação nos lados governistas (Estado e prefeitura), enquanto nas oposições faltam sinais de como o bolsonarismo, que segue vivo, projeta sua presença na disputa para entender o potencial, por exemplo, de um nome como o Capitao Wagner.

São movimentos, de todos os lados, que, como dito, exigem inteligência e paciência. A pesquisa é importante no aspecto em que mostra que a parte dos fortalezenses que já começa a pensar novamente em eleição consegue perceber por onde as decisões passarão, quem terá poder para traçar caminhos, o que não necessriamente se deve confundir com candidatura. A questão é saber se existe disposição para agir de acordo com o que ouvi, na semana, de um calejado e vitorioso político cearense, falando sobre os momentos em acontecem as conversas mais definidoras na política. "Nessas horas a gente precisa colocar o coração no bolso", disse ele, admitindo que já o fez em muitas situações, obrigando-se a relevar situações do passado que teimavam em incomodá-lo.

Haverá, voltando à pesquisa, quem reclame pelo fato de o texto chegar ao fim sem apontar os números que ela colheu. Vá por mim, eles são irrelevantes, como bem demonstra o fato de uma maioria bastante expressiva no próprio levantamento informar que ainda não pensa no assunto. Aliás, recorro de novo ao ano de 2022 como exemplo factual de que valorizar demais um cenário muito prévio pode ser um problema para quando se estabelece a hora verdadeiramente decisiva. Uma pergunta simples, para encerrar: alguma pesquisa incluía o nome de Elmano de Freitas, hoje governador do Ceará, quando estávamos a um ano, cinco meses e 12 dias da eleição? Pense nisso.

"No primeiro ano da gestão, nos dedicamos ao enfrentamento da pandemia. Depois, tivemos um ano eleitoral, em que o foco das pessoas ficou muito voltado para os cenários estadual e federal" José Sarto, prefeito de Fortaleza e provável candidato à reeleição, relativizando sua performance na primeira pesquisa acerca do cenário eleitoral de 2024

Sobre a pesquisa, ainda

De qualquer forma, é interessante entender quais os impactos de um cenário como este apontado no trabalho do Paraná Pesquisas, por exemplo, sobre o ânimo do prefeito José Sarto (PDT), pretenso candidato à reeleição e que tem um índice de aprovação baixo, na faixa de 26,2% na soma de "bom" e 'ótimo". Aqui já não é um dado necessariamente do campo político-eleitoral, embora com desdobramentos inevitáveis sobre ele. Tranquilo, ele diz à coluna ter certeza de que a tendência a partir de agora é de o fortalezense, com pandemia controlada e sem a fumaça eleitoral de 2022, "ter uma percepção mais nítida do trabalho e das várias conquistas dessa administração. A aprovação tende a melhorar".

Sobre a pesquisa, de novo

Em outro ambiente, onde está o PT, a leitura é diferente e mais celebrativa com a pesquisa. Guilherme Sampaio, deputado estadual que preside a executiva municipal, avalia que, no geral, confirma-se um quadro de enraizamento do partido na capital e de força na liderança da ex-prefeita, hoje deputada federal, Luizianne Lins. Para ele, consolida-se um quadro que praticamente exige a apresentação "no próximo ano de um nome que represente uma alternativa para o povo de Fortaleza, alinhado com os projetos dos governos Lula e Elmano". Será?

Cid Gomes levou lousa e giz para criticar juros praticados pelo BC(Foto: Reprodução/TV Senado)
Foto: Reprodução/TV Senado Cid Gomes levou lousa e giz para criticar juros praticados pelo BC

Exagero à parte, Cid foi bem

Dois dos senadores da bancada cearense "brilharam" em Brasília na semana passada. O primeiro deles foi Cid Gomes (PDT), que a coluna já ressaltou vir demonstrando que recuperou seu ânimo com a política depois de um tempo de ausência e distanciamento. Numa sessão com muitas "estrelas", o pedetista destacou-se na forma como questionou duramente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos, valendo-se de uma tradicional lousa e um eficiente giz para dar-lhe uma lição sobre taxas de juros e economia real. Talvez fosse dispensável apenas a história do "pegue o boné etc etc".

O ministro e o senador

Outro cearense do Senado que se destacou na semana, em sentido menos edificante, foi Eduardo Girão, do Novo. Sua tentativa de "performar" diante do ministro Silvio Almeida, conforme termo por este mesmo utilizado, foi frustrada de uma maneira crítica, dura, mas civilizada, do titular da pasta de Direitos Humanos e Cidadania, que recusou a réplica de um feto de onze semanas que o parlamentar pretendia lhe entregar em mãos. Como aconteceu foi uma humilhação, este é o fato, embora Girão, para o seu público, tenha se saído bem no episódio, restando entender se este mundo inventado lhe basta diante de uma realidade concreta que diz o contrário.

Eles brigam, eles querem

A gente vê aquelas tensões de todo dia e quase toda hora no Congresso, dedos em riste, acusações pra cá e prá lá, ameaças, tentativas de agressão enfim, uma bagunça, e imagina que espaços de controle, como a Corregedoria, estejam abarrotados e com o ritmo a mil. Ledo engano, diz o cearense Domingos Neto (PSD), recém instalado na cadeira de corregedor, informando que há apenas duas representações protocoladas: uma contra Nikolas Ferreira (PL-MG) e outra fruto de um desentendimento entre parlamentares indígenas. Resumo da história: a briga interessa aos brigões e, possivelmente, o clima seguirá tenso no Congresso Nacional.

Um cearense na relatoria

Talvez esteja recebendo menos destaque do que mereceria, especialmente no âmbito local, a escolha do cearense Danilo Forte, deputado do União Brasil, como relator do Orçamento da União para 2024. Não é uma posição qualquer e coloca o escolhido numa condição estratégica, mais ainda no contexto em que o governo Lula se prepara para adequar recursos e investimentos às suas prioridades já que neste 2023 trabalha com um documento preparado na gestão Bolsonaro. Foi um gesto forte do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a escolha feita para um posto que era cobiçado por muitos, entre aliados e opositores. Forte diz que não é uma coisa e nem outra.

 

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