Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
É forçoso admitir que faz parte mais do calendário jornalístico do que da vida prática das pessoas os balanços parciais das gestões públicas que buscam entender se elas estão dentro das expectativas, se o prometido em campanha está sendo entregue etc. Um mandato de quatro anos precisa ser visto na perspectiva dos quatro anos, não há dúvida, deixando-se que ao final as urnas falem quanto à sua aprovação ou desaprovação.
Dito isso (pausa para risos), vamos a um balanço dos primeiros seis meses da experiência inédita de Elmano de Freitas como governador e da volta de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. A data exata seria no começo de julho, mas, como estaremos de férias no período, antecipemo-nos aqui. Tentarei fazê-lo sem a paixão das militâncias, seja para dizer que o sucesso está garantido, seja para anunciar o fracasso consolidado.
Primeiro Elmano, que ainda tenta se localizar no cargo e é preciso que se tenha isso como normal, considerando que a possibilidade de ser governador surgiu de repente em sua trajetória, não parecia algo programado. Ao contrário dos adversários que derrotou, Roberto Cláudio (PDT) e Capitão Wagner (União Brasil), ambos mobilizados há mais tempo pela ideia de comandar um projeto político em nível estadual. Para o petista, a coisa começou a ser considerada, de fato, apenas a partir de quando, rompida a aliança com os pedetistas, teve o nome escolhido para simbolizar a continuação. Talvez por isso o termo "lentidão" chegue aos seis meses (daqui a 12 dias, mais exatamente) como um dos mais pronunciados quando se pede para apontar alguma marca atribuível ao governo Elmano.
É uma situação que se confirma, por exemplo, no número ainda alto de cargos na máquina estadual à espera de preenchimento, o que costuma gerar problemas no âmbito político porque são espaços costumeiramente utilizados para segurar uma base de apoio sólida no parlamento. Ainda mais quando a gestão se vê obrigada, por circunstâncias externas e internas, a segurar gastos, ou seja, não atendeu os aliados no período naquela dimensão que eles esperavam quanto aos seus pleitos por recursos.
Coisa legítima, nada demais. Acontece que Elmano de Freitas apresentou-se à campanha como representante de um modelo de governar que garantiria a quem viesse um quadro de equilíbrio nas finanças. Em tese, pronto para manter um ritmo forte, algo que não tem conseguido tornar realidade. Aqui é onde ganha tons de vantagem o que parecia ser um problema com relação à perspectiva de volta de Lula na Presidência da República.
Ao contrário de Elmano, Lula, em condições normais de temperatura e pressão, estaria mais legitimado a pedir um tempo para arrumar as coisas ao seu modo. Afinal, passara a campanha dizendo que estava tudo errado com o governo anterior, o que gerava a expectativa natural de que na concepção dele havia muito por ser consertado e uma certa compreensão de que os resultados das mudanças nem sempre apareceriam no período curto de seis meses.
Teoria, apenas, porque na realidade dos fatos e da política, tudo que Lula não teve no primeiro semestre de governo foi tranquilidade para fazer os ajustes. Ou, mostrar resultados. A transição foi agitada, pode-se até dizer que na prática não aconteceu, algumas ações precisaram ser antecipadas por falta de interesse do governo de então de resolver problemas e, claro, havia a atmosfera de ruptura institucional que redundaria naquele 8 de janeiro dramático em Brasília, no qual as sedes dos poderes da República foram invadidas, vandalizadas e depredadas por uma turma mobilizada pela pauta da "não aceitação do resultado eleitoral".
O paradoxo é que os ataques malucos daquele domingo de janeiro, histórico pelas razões negativas que apresentou, meio que demarca o começo efetivo do terceiro governo Lula. Hoje, quando nos aproximamos dos primeiros seis meses, dá pra dizer que, na comparação com o que havia antes, aconteceu uma melhora objetiva. O primeiro aspecto, por simplório que seja, é que se consegue perceber um presidente da República preocupado em reunir equipe ministerial para avaliar o que está acontecendo, que circula pelo mundo inserindo o País nas discussões que valem a pena, que se encontra com setores da economia e da sociedade para discutir cenários e saídas. Tudo que Jair Bolsonaro, com seus defeitos que todos vemos e as virtudes que muitas vezes apenas seus apaixonados defensores enxergam, não oferecia.
O barulho de ontem do PT de Fortaleza em torno de evento que organizou para discutir a situação da capital cearense e suas perspectivas é a melhor resposta àqueles que, como eu, acreditam que a tendência maior é de o partido não insistir em candidatura própria no próximo ano e que a preferência seria por aproveitar o momento para reaproximar aliados. Luizianne Lins, ex-prefeita e hoje deputada federal, vai mesmo tensionar no rumo de haver uma chapa petista, valendo-se do cenário competitivo que estariam apontando pesquisas. Internas e externas.
Enquanto a coluna, semana passada, especulava sobre os caminhos do PL em Fortaleza para as eleições de 2024, a cúpula nacional intervinha pra resolver pendências eventuais. Está decidido que André Fernandes vai mesmo comandar a executiva municipal, que Carmelo Neto fica com a secretaria geral e, ainda mais importante, que o deputado federal será o nome do partido para brigar pela sucessão do prefeito José Sarto. Um lembrete para ele ir ajustando o seu discurso de campanha: as urnas, a preço de hoje, continuarão sendo as eletrônicas.
Talvez já seja momento de o presidente da Assembleia, Evandro Leitão (PDT), dar um tempo nos planos de se viabilizar candidato ano que em em Fortaleza para chamar os colegas a uma conversa naquela discussão de todo ano eleitoral municipal acerca do uso que se deve fazer da tribuna, dos microfones e dos meios de comunicação da Casa. As brigas regionais, não sendo contidas, podem tornar inviável a convivência comum no ambiente do parlamento em muitos casos. Por enquanto, seria apenas um alerta, uma advertência.
A cearense Augusta Brito vai ganhando espaço no Senado, onde ocupa uma das cadeiras destinadas ao Estado, e no próprio disputado ambiente político de Brasília. Sua indicação para a vice-liderança do PT demonstra que ela, recém-chegada, já conquistou confiança suficiente para receber missões mais espinhosas. Lembrando-se que o fato de ser mulher costuma impor dificuldades extras para quem se movimenta naquele espaço, o que torna o feito de relevância ainda maior.
O tom das críticas do deputado federal José Airton (PT), ao colega de partido e de bancada, José Guimarães, aumenta à medida em que os dias passam. A ideia de deixar a base governista, inclusive, já é considerada abertamente por ele, queixando-se do fato de "bolsonaristas" estarem sendo mais beneficiados do que petistas e aliados de Lula na distribuição de cargos federais no Ceará. Sua leitura é de que Guimarães transformou o projeto de candidatura ao Senado numa obsessão e está usando a força de líder do Governo para viabilizá-lo.
Tenho boas e más notícias para meus leitores: estarei de férias por alguns dias e, com isso, a coluna deixará de ser publicada pelos dois próximos domingos. Cada um que leia a nota e decida se a informação é boa ou ruim. Até a volta.
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