Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
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O PL apresentava números no Ceará, ao fim do processo eleitoral do ano passado, indicadores de um potencial otimista quanto ao futuro, apesar da derrota da candidatura presidencial de Jair Bolsonaro em sua tentativa de reeleição. Afinal, saíram da legenda os mais votados entre os eleitos nas disputas por vagas na Assembleia Legislativa (Carmelo Neto) e na Câmara Federal (André Fernandes), dois representantes entre os mais legítimos do movimento conservador.
O que acontece, passado um tempo, é que a realidade pinta menos colorida do que permitia imaginar aquele cenário de pós-urnas. É ver o caso de Fortaleza, cidade estratégica e onde, em tese, seria importante apresentar um nome competitivo para entrar na briga pela prefeitura. Para além das intempéries políticas que vêm de fora, crises internas atuam hoje numa perspectiva de expor um quadro de mais desentendimentos do que de acertos entre as forças que decidirão como o PL pretende disputar, com qual nome e defendendo qual agenda.
O desafio externo maior é a peleja na justiça para reaver os mandatos dos quatro deputados estaduais eleitos, dentre eles o campeão Carmelo Neto já citado, devido à cassação da chapa inteira pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por ilegalidades no esforço de atendimento à cota exigida de candidaturas femininas. É um baque que deixará a sigla sem representação no principal parlamento local e que pelo histórico disponível enfrentará grandes dificuldades de ser revertido em Brasília. Este é um problema que vem de fora.
O quadro na economia interna do PL parece igualmente confuso. O presidente estadual, Acilon Gonçalves, prefeito de Eusébio, não pode ser definido como, exatamente, um "bolsonarista raiz", como o são, para citar as duas referências mais evidentes, o próprio Carmelo e André Fernandes, também já citado acima. Por isso administra com paciência e sem extremismo situações envolvendo deputados federais da sigla, na bancada cearense, que andaram votando com o governo Lula na Câmara, contrariando a orientação geral de ser intransigentemente contra qualquer iniciativa de interesse do Palácio do Planalto.
Sua defesa sutil de não se fazer nada contra a turma permanece escorada, por enquanto, na transferência de qualquer decisão acerca do problema para a cúpula nacional, sob alegativa de que é um fato federal, observado em Brasília. Boa tentativa, embora não se tenha certeza de que vá colar, muito menos de que seja sustentável por muito tempo, inclusive pelo ponto em que os episódios de "pouco oposicionismo" de alguns dos parlamentares cearenses do PL, no padrão exigido pelo jeito bolsonarista de fazer política, vão se sucedendo à medida em que o tempo passa.
O esforço local de esvaziar o poder de Acilon é antigo e experimenta motivações novas, também, com a próxima fase eleitoral que está chegando. Uma ideia fixa de agora é mudar o comando da executiva de Fortaleza, hoje sob controle da vereadora Ana do Aracapé, aliada do presidente estadual. André Fernandes quer a posição, de onde comandaria o processo de escolha de candidato, claro que direcionando-o em favor do seu nome. É sua ideia comandar o palanque majoritário da capital onde o partido vai estar no próximo ano.
Um problema para ele: Carmelo Neto, outra voz bastante ouvida no âmbito interno, talvez não concorde tanto com isso. É tão evidente que os dois não dividem a mesma ideia de futuro que André Fernandes se mantém um tanto distante da briga dos deputados estaduais pela recuperação de seus mandatos, muito embora um dos atingidos seja o seu próprio pai, Alcides Fernandes. Há silêncios que valem por mil barulhos.
"Tem muita gente pedindo, que não confiam hoje nem na situação nem na oposição. Preferem um nome novo"
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A sucessão fortalezense em 2024 já passou, como assunto, pelo gabinete do presidente Lula. Seu recado aos interlocutores, até agora, tem sido claro: o ideal é buscar acordo com os aliados até as últimas possibilidades. Gente do PT que o procura querendo apoio ou conselho tem sido orientada a se juntar ao esforço pelo acerto possível. Enquanto isso, o PT de Fortaleza toca as coisas e, inclusive, programa para o próximo fim de semana encontros na periferia para discutir prioridades, ou seja, a candidatura própria segue na agenda.
Por falar em agenda, o ex(e futuro?)-presidenciável Ciro Gomes volta à sua rotina de palestras na próxima quinta-feira falando, a convite, no Câmara de Diretores Lojistas (CDL) de Fortaleza. O tema central será o momento econômico do País, prevendo-se que aproveite para realçar as diferenças entre o que propunha na campanha em relação à dívida das pessoas, no sentido de zerá-las, e o que está previsto nesse sentido no programa "Desenrola" que o governo Lula acaba de anunciar. Aliás, sem qualquer menção ao fato de ter-se inspirado no debate que o pedetista levantou na campanha. É feio, isso.
Quem começa a ganhar com mais força os holofotes nacionais é o cearense Camilo Santana, hoje ministro da Educação. Amanhã, por sinal, ele estará sentado na cadeira destinada aos entrevistados no prestigiado programa de entrevistas da TV Cultura, Roda Viva. Claro que não são apenas flores, haverá muitos questionamentos por temas vinculados à área que têm gerado tensão, como a reforma do ensino médio, mas, no geral, o senador licenciado segue sendo identificado como um dos mais atuantes membros da equipe de primeiro escalão montado por Lula.
Procuradores e procuradoras da República cumprem, dia 21 próximo, o ritual de votos para manifestarem preferência quanto à sucessão de Augusto Aras no comando do Ministério Público federal. Inexiste obrigação legal de seguir a tal lista - aliás, isso aconteceu apenas nos governos do PT, com Lula (nas duas primeiras gestões dele) e Dilma Roussef, mas há indicações de que a intenção agora é outra. O cearense José Adonis Callou, no que depender dos colegas, aparece firme entre os cotados e estará na lista tríplice a ser apresentada.
É crescente a pressão sobre o governo Elmano de Freitas para se instalar no âmbito estadual o que já é realidade no plano federal: as emendas impositivas. Entre os deputados que mais insistentemente tratam do tema destaca-se o Sargento Reginauro (União Brasil), que pressiona a mesa diretora para colocar o assunto em debate pra valer. No argumento mais consistente, destaca que o Ceará é o único estado do Nordeste que resiste à novidade, recusando-se a reduzir o peso político nas decisões que o Executivo toma ao liberar recursos vinculados à ação dos parlamentares.
A ideia de entregar o comando do PDT no Ceará ao senador Cid Gomes vai ganhando força e mais adeptos à medida em que o tempo passa. A manifestação na semana em favor do nome dele, da deputada estadual Lia Ferreira Gomes, agrega um outro valor considerando-se a irmã que há por trás (ou à frente) da parlamentar. A crise, mais do que meramente partidária, é também familiar, aspecto em que Cid vai abrindo uma boa vantagem diante da resistência do outro irmão Ciro, verbalizada pelo ex-prefeito Robeto Cláudio, a qualquer mudança no comando. A executiva regional pedetista é presidida hoje pelo deputado federal André Figueiredo.
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