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Os silêncios de Sarto e Elmano
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Os silêncios de Sarto e Elmano

O governador Elmano de Freitas abriu as portas de seu gabinete para o prefeito José Sarto, de Fortaleza, para um pacto de não agressão
Tipo Análise
Os silêncios de Sarto e Elamo (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Os silêncios de Sarto e Elamo

É perceptível que o noticiário político ficou bem menos agitado desde aquele dia de agosto em que o governador Elmano de Freitas (PT) abriu as portas de seu gabinete para o prefeito José Sarto (PDT), de Fortaleza. Por uma razão que talvez apenas os próprios consigam decifrar melhor nos detalhes, a temperatura que andava nas alturas, desde então, desceu a um nível suportável. Mesmo que ainda distante daquele alinhamento pleno de algum tempo atrás entre os dois grupos políticos que representam.

O que se sabe é que dali saiu, entre Sarto e Elmano, um pacto de não agressão. Notícia ruim para nós, jornalistas, no que depender apenas da ação direta deles dois chegou ao fim aquele tempo das declarações bombásticas, que geram manchete e apresentam potencial de fazer barulho de verdade. "Perdemos", portanto, fontes primárias e legítimas que têm sido fundamentais para manter o ambiente político com a animação que gostamos. E, falemos a verdade, boa parte do público também.

Isso significa que está tudo bem? Claro que não. Nos entornos de ambos, tanto do governador como do prefeito, há mais incômodo do que comemoração diante do novo momento de armistício político. Especialmente porque os problemas seguem vivos e já não é mais tão fácil e natural apontar o dedo em direção ao outro como meio rápido de se livrar de uma situação inconveniente. Pelo menos na responsabilização eventual por alguma situação crítica, como aconteceu na polêmica recente da Ponte dos Ingleses.

A questão, voltando aos personagens iniciais, é que o prefeito e o governador acumulam um tempo bom de experiência na política. Os dois sabem, portanto, que evitar a crise exigiria muito pouco de cada um, era apenas abrir um diálogo direto possível, nem precisaria de ser um encontro físico, presencial. Uma conversa telefônica resolveria muita coisa antes até do problema surgir. Até porque, ambos ressaltam isso o tempo todo, quando parlamentares juntos, na Assembleia, a convivência entre eles foi sempre a melhor possível.

O que pega é a turma do entorno. Para baixo e ao lado, onde estão aliados e equipes de assessorias muitas vezes aflitas com a necessidade de segurar posições para atender estratégias políticas, e, o que é ainda mais difícil de administrar, na estante de cima, ocupada por lideranças que, ao contrário de Sarto e Elmano, para ficar no caso, não lidam nesse momento com a necessidade de resolver pepinos práticos cotidianos de uma gestão. Municipal, com o tamanho que tem Fortaleza, ou estadual, com a complexidade que o Ceará impõe àquele que a governa.

O fato de a fase dos cutucões mútuos aparentemente ter sido superada cria um certo impasse para os estrategistas, segundo relatos semelhantes que chegaram à coluna dos dois lados, porque adota-se um cuidado que antes não era observado para tratar como "mentira" aquilo que como mentira se entenda. De novo, foi como um tratou a versão do outro na confusão da, já citada, obra de recuperação da Ponte dos Ingleses, na orla fortalezense.

O resumo da história: o acordo foi feito, está sendo respeitado e, no que depender dos dois personagens mais diretamente envolvidos, manterá a calma possível no ambiente político comum no qual trafegam. Agora, o que não falta de um lado e de outro é gente que prefere sangue e que defende a ofensiva, sempre, como a melhor estratégia. Em outras palavras, segurar a paz entre PT e PDT no Ceará, hoje, é um desafio diário para quem está nas linhas de frente. Elmano de Freitas e José Sarto que o digam.

 

"O governador e eu fomos deputados juntos, a gente tem convivência no parlamento e sabe que tem que escutar muito para poder agora, como Executivo, ele e eu tentar render ao máximo"
"

José Sarto (PDT), prefeito de Fortaleza, defendendo a conversa como saída para a crise de convivência com o PT e o governo estadual

 

A liberdade conveniente

Para reflexão do senador cearense Eduardo Girão (Novo): faz sentido convocar, por que o requerimento também é dele, um fotojornalista para constrangê-lo numa CPI devido ao fato de estar no meio da bagunça e da violência institucional de 8 de janeiro, documentando-a, como é seu trabalho? O que deu-se com a presença, terça-feira passada no Congresso, de Adriano Machado, da Reuters, não faz o menor sentido, até com cobranças a ele para que desse voz de prisão às pessoas que em transe vandalizavam o patrimônio público como ato político. A menos que o enfático discurso em defesa da liberdade de expressão seja, espremido pelos fatos, apenas um discurso.

O equívoco era flagrante

A coluna sempre avaliou que a tal CPMI de 8 de Janeiro seria um erro estratégico da oposição. Ou, por outro lado, o que se apostava é que o governo seria capaz de inviabilizar a investigação parlamentar, deixando o caminho livre para os críticos investirem no discurso do "medo", do "teme porque deve" etc. Como fracassou a tentativa do governo, que até houve, de evitar a instalação da Comissão, a estratégia mudou, a articulação do Palácio do Planato conseguiu controlá-la e já se pode dizer, hoje, que foi um tiro dos oposicionistas no próprio pé. É sÓ ver o que aconteceu na quinta-feira passada.

Com Cid, sem Cid

No ritmo em que vai, o senador Cid Gomes devolverá um PDT ao presidente estadual, deputado André Figueiredo, no começo do próximo ano, mais fortalecido do que aquele que recebeu para um comando interino, um mês e meio atrás, aproximadamente. Sua agenda está intensa, com muitas viagens pelo Interior e tratativas bem encaminhadas, algumas concluídas, com lideranças e grupos que se organizam para a disputa eleitoral do próximo ano. Está programada uma volta breve ao Cariri, onde se encontrará com o prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra, para conversa sobre uma possível filiação. Não seria pouca coisa.

Crise lá, solução cá

O pessoal local do União Brasil acompanha os desdobramentos da crise nacional do momento, que tem como figura central o ex-presidente Jair Bolsonaro, sob expectativa de que ela leve a uma reflexão dos seus aliados cearenses quanto à melhor opção para disputa de 2024 em Fortaleza. Acredita-se que um efeito possível seja uma mudança na intenção inicial de ter um candidato do grupo, hipótese que mantida pode atrapalhar projeto do Capitão Wagner, que tentará a prefeitura da capital pelo UB. Uma aliança já no primeiro turno seria um reforço de peso para o ex-deputado, atualmente secretário de Saúde de Maracanaú.

Companheiros prefeitos

O chororô geral de prefeitos, brasileiros e cearenses, se transformará na mobilização ampla anunciada para o dia 30 próximo, quando deve acontecer uma espécie de "greve". Funcionarão, no dia, apenas os serviços considerados essenciais nos municípios como instrumento de pressão sobre Brasília, Congresso e governo, para que a situação seja revista com urgência. Aponta-se uma queda de 34% nos repasses de julho de 2023, na comparação com o mesmo período do ano passado. Uma pergunta: se algum sindicato de trabalhadores entender a "greve" como ilegal pode recorrer à justiça?

Um cearense 5 estrelas

Agora sim, a escalada da crise política nacional coloca um personagem cearense no centro dela: o general Paulo Sérgio Nogueira, que orgulhou seu (e meu) Iguatu natal, quando anunciado comandante do Exército e depois ministro da Defesa, está com o nome apontado entre as figuras-chave da lambança que se fez em 2022 para melar o processo eleitoral. Era ele o ministro quando o hacker (meu Deus!) Walter Delgatti ganhou passe livre para ter acesso ao local e arquitetar uma farsa contra as urnas eletrônicas. Recluso, até agora, o militar tem mandado dizer que nega tudo, mas espera-se que disponha de algo além das palavras para sustentar sua versão.

 


Foto do Guálter George

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