Logo O POVO+
CPMI, um tiro da oposição no próprio pé
Foto de Guálter George
clique para exibir bio do colunista

Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

CPMI, um tiro da oposição no próprio pé

Com encerramento previsto para o próximo dia 17 de outubro, a CPMI que investiga os acontecimentos de 8 de janeiro foi um tiro no pé dos seus propositores, entre os quais o cearense André Fernandes
Tipo Análise
0110gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 0110gualter

.

Caminha para o seu final, porque uma prorrogação a essa altura não parece interessar a qualquer dos lados, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito instalada no Congresso Nacional para investigar o que aconteceu no 8 de janeiro histórico que colocou a democracia brasileira em risco. Foi um tiro no pé da oposição sugeri-la, mesmo que se insista em dizer o contrário, inclusive o bolsonarista deputado cearense André Fernandes (PL), um dos seus propositores.

O oposicionista que for capaz de analisar friamente se funcionou ter um palco que serviria basicamente para "lacrar", produzir aqueles conteúdos que animam a militância e reforçam vínculos ideológicos, a partir de versões fantasiosas sobre o que aconteceu naquele dia triste, concluirá, sem muito esforço, que a ideia fracassou. Aliás, o resultado foi no sentido oposto, porque levou aos holofotes, para permaneceram calados em geral nos seus depoimentos, mas ouvindo muita coisa indesejável, atores e personagens discretos do governo anterior que somente ganharam visibilidade pelo avanço da investigação parlamentar por um caminho que contraria a estratégia inicial dos propositores.

O exemplo mais notório e com maior capacidade de simbolizar o tamanho do problema que a oposição criou para ela própria, em nome de uma tentativa de defesa da era Jair Bolsonaro, envolve o tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens da presidência. Dificilmente ele ganharia o espaço que passou a ocupar no debate sem que fosse lançada a luz de destaque que lhe garantiu a passagem pelo Congresso, como depoente.

E o que possibilitou isso? Exatamente o detalhamento de suas ações que foi chegando aos parlamentares pelo compartilhamento das investigações e a possibilidade que a circunstância ofereceu à bancada governista de fechar o cerco sobre ele. Foi na CPI, em especial, que pareceu mais claro ao militar que era (e é) real o risco de a situação toda envolver gente que lhe é próxima, em especial, o pai, Lorena Cid, um respeitado general com carreira no Exército até então inatacável. Foi por onde começou a ser pavimentado o caminho da deleção dele.

A previsão é de que o relatório final da Comissão seja apresentado no próximo dia 17, ou seja, faltam poucos dias. Sessões para tomar depoimentos e deliberar sobre alguma coisa serão apenas mais duas, indicando que o essencial já aconteceu. É esdrúxula demais, para ser emplacada na vida real, a tese oposicionista de que os ataques às sedes dos poderes aconteceram dentro de um engenhoso plano nascido em laboratórios do próprio governo atual para estabelecer um caos que, ao final, lhe favoreceria. Não se consegue identificar, racionalmente, um ponto qualquer que sinalize ganhos para Lula ao se levantar os escombros deixados por uma turba ensandecida que agia mobilizada por uma esperança alimentada basicamente por Bolsonaro e suas palavras irresponsáveis acerca da disputa eleitoral do ano passado, recusando-se a aceitar sua derrota e a dá-la por encerrada.

Frustrou-se, é a única verdade palpável, a expectativa de emparedar o governo através da CPMI, com a tese esquisita de que aqueles acontecimentos violentos e antidemocráticos interessavam ao petista pela possibilidade que lhe seria oferecida de adotar medidas duras, extravagantes etc. Uma história que chega a ser infantil considerando que um dos problemas graves iniciais da gestão atual, que até ainda não se pode dar como inteiramente superado, reside, exatamente, na falta de controle que há sobre os militares, que formam um segmento que segue muito identificado com a gestão anterior. Com quais Forças Armadas contaria Lula para levar adiante uma ideia de estabelecer uma espécie de regime de exceção?

"Muita gente na CPMI age como torcedor fanático. Entretanto, na CPMI, não sou torcedor, sou juizo" Arthur Maia, deputado do União Brasil-BA, presidente da Comissão e falando da dificuldade que tem sido se equilibrar entre posturas extremadas para manter a investigação na linha

.

O que mira Luizianne

A deputada federal Luizianne Lins, ex-prefeita de Fortaleza e que se coloca agora como pré-candidata, nega, reagindo a uma análise feita na coluna anterior, que tenha Camilo Santana como "alvo" crítico nas suas movimentações, internas e externas, de olho em 2024. "Não estou mirando em ninguém, apenas na candidatura a Prefeita de Fortaleza", esclareceu. Aliás, ela corrige um ponto da abordagem anterior que merece, este sim, uma reparação objetiva: seus números finais em 2022, como candidata vitoriosa a vaga na Câmara, na verdade superaram os 182 mil votos. "Livres", ressalta.

A saúde do filho pródigo

Na mesa do baturiteense governador Elmano de Freitas uma confusão daquelas grandes envolvendo o seu Maciço de origem. Qual município, de uma lista com 15 opções, sediará o Hospital Regional que se anuncia para breve? Uma das possibilidades é Baturité, claro que já escolhida pelo coração do filho agradecido, mas acontece que outros 14 prefeitos, com seus pesos políticos e apoios devidos, tamém se acham no direito de ficar com o equipamento público. A ideia agora é ir cozinhando o assunto, ou a decisão, até o limite em que seja necessário bater o martelo. A missão de encontrar uma saída para o impasse mobiliza também o presidente da Assembleia, Evandro Leitão (PDT), aliado do Abolição e de Elmano.

O lado de Bolsonaro

Agora não há mais dúvida, se dúvida havia: o queridinho do ex-presidente Jair Bolsonaro numa perspectiva de candidatura do PL à prefeitura de Fortaleza é o deputado federal André Fernandes. Os dois estiveram lado a lado durante quase toda a agenda cumprida pelo líder na cidade, nos últimos dias. O deputado estadual Carmelo Neto, que disputa a atenção de Bolsonaro com o correligionário local, foi visto com alguma raridade e sem grande protagonismo ao lado do venerado líder durante o cumprimento da agenda. Como a política é feita muito à base de sinais, eles aí estão para nos mostrar em que pé as coisas estão no partido.

A visível eleição "invisível"

Merece mais atenção do que a que tem recebido - inclusive nossa, da mídia - a eleição que acontece hoje para renovação de mandatos nos conselhos tutelares. É uma instância que, funcionando bem, apresenta-se fundamental para a luta da sociedade de todo dia para proteger nossas crianças e adolescentes. Fortaleza, claro, concentra a maior atenção, e preocupação, com 60 vagas por ocupar e 171 candidaturas registradas. A cidade terá 89 locais disponíveis para os dispostos a contribuir com a escolha, lembrando-se que o voto, nesse caso, não é obrigatório. Aspecto que lhe dá peso ainda mais expressivo. 

Leia também>>

Eleição de conselheiros tutelares: veja quem são os candidatos em Fortaleza

Confira a lista dos locais de votação para escolha dos conselheiros tutelares

Uma suplente bem atuante

A senadora cearense Augusta Brito, do PT, segue chamando atenção pelos espaços que vai ocupando no Congresso desde quando lá chegou, em fevereiro, como suplente de Camilo Santana, de licença para comandar o Ministério da Educação. Na semana, a petista foi eleita para presidir Comissão Mista, que reúne também deputados e deputadas, portanto, de Combate à Violência contra a Mulher. Não é pouca coisa, inclusive pela visibilidade do tema, e deve-se lembrar que ela também integra a linha de frente da defesa do governo Lula como uma das vice-líderes no Senado. Para quem está chegando numa Casa cheia de cobras, diz algo.

Fui ali, mas volto

Quem procurar minha coluna nos próximos dois domingos não precisa se desesperar por não encontrá-la nas páginas. Ou, também há disso, não deve correr a comemorar. Trata-se do sagrado direito às férias, que estarei cumprindo, legalista que sou, pelos próximos 15 dias. Até a volta.

 

Foto do Guálter George

A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?