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A democracia, concordo, não é relativa
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A democracia, concordo, não é relativa

1102gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 1102gualter

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Sem querer estragar a folia de ninguém, vou pedir àquele leitor que é admirador do ex-presidente Jair Bolsonaro, em especial, que aproveite a pausa na vida normal que nos é oferecida pelo período para fazer uma reflexão sobre o que andou acontecendo, passados alguns dias daquela espetacular operação da Polícia Federal que chegou ao núcleo militar do grupo que andou pensando em melar o jogo eleitoral e democrático no País. Estivemos muito próximos de um golpe de Estado, não há outra forma de interpretar o que tem sido descoberto pelos investigadores desde o começo, uma etapa após a outra.

Muita coisa ainda precisa passar por uma checagem, há cruzamento de dados por fazer, confirmação de um ou outro registro etc, enfim, a caminhada ainda está acontecendo. O direito à defesa e a presunção de inocência devem estar garantidos a todos os cidadãos, embora na realidade cotidiana brasileira seja comum que os ignoremos a depender de quem seja o beneficiário. Voltando às provas obtidas, porém, elas são robustas, documentos prontos ou pré-prontos, reuniões de conteúdo grave disponível até em vídeo, fatos públicos, transmissões on line, declarações abertas, confissão de quem viveu as coisas por dentro, testemunhando e fazendo, enfim, tudo muito palpável, assustador em vários aspectos de tão evidentes.

Nesse sentido, é especialmente inaceitável a postura adotada pelos que detêm cargos públicos, conquistados através do voto direto do eleitor, mesmo que aliados ou correligionários do ex-presidente. Destes, mais do que uma reflexão, precisamos cobrar uma atitude de defesa concreta e objetiva do ambiente democrático que dá sentido à posição em que se encontram. Quem está senador, deputado, governador, prefeito ou vereador, independente do lado da balança ideológica para o qual penda, tem um compromisso maior e inegociável, que é o de rejeitar qualquer movimento que tenha no seu foco principal desmoralizar o processo eleitoral. Sem o qual não há democracia.

Com seus erros e exageros pontuais, que acontecem, de fato, e precisam ser evitados, a investigação sobre o comportamento do então presidente Jair Bolsonaro e de uma turma boa (no tamanho) que o cercava em meio ao processo eleitoral de 2022 se torna mais necessária e justificável à medida em que novas descobertas aparecem. Concluir o contrário representa chancelar uma declaração infeliz do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tão justificadamente explorada por aqueles que lhe fazem oposição, na qual ele fala da democracia como algo "relativo". Não, não é, o que tira a lógica, também, do grito dos últimos dias de parlamentares que saíram a minimizar o que tem sido descoberto na investigação da tentativa clara de golpe que houve, com especialidade nas buscas e apreensões da semana passada.

Aquele que acha o processo eleitoral brasileiro falho ao ponto de não expressar o que realmente quer a maioria da população precisa afastar-se dele, como gesto inicial de legitimação de uma desconfiança pessoal quase extrema. É incoerência pura que se faça uso de um espaço de destaque garantido pela posição obtida graças aos votos que a urna eletrônica captou e registrou para, num gesto que denota certa traição ao que ajudou a validar com sua participação na disputa, reforçar um movimento que tem como objetivo central questionar a segurança e eficiência do sistema. Sendo assim, o que mantém esses senhoras e senhoras nos mandatos aos quais seguem abraçados?

"Estou sem clima. Estou em casa, não vou pescar, não vou fazer nada" Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, ao jornal O Estado de S. Paulo, dizendo esperar até agora por maiores informações dos seus advogados sobre a operação da Polícia Federal contra ele e vários dos seus aliados

A herança e o legado

O Capitão Wagner (União Brasil) garante que trará muita coisa para campanha eleitoral de Fortaleza do legado expressivo que diz ter deixado na sua experiência como secretário de Saúde de Maracanaú, cargo que ocupa desde fevereiro de 2023 e entrega no próximo dia 29. Sinceramente agradecido ao prefeito e correligionário Roberto Pessoa, ele evita debate público sobre a situação que encontrou na pasta ao chegar e que lhe obrigou a gastar parte do tempo inicial em medidas de organização básica das coisas. Um resumo de mais fácil compreensão: o quadro que encontrou, vindo já de gestões sequenciadas do atual prefeito e seu grupo, parecia muito bagunçado. Não pergunte sobre isso ao Capitão, porém, porque ele, elegante, tergiversará.

Nota boa na primeiro teste

Nas anotações da turma de cima, ganhou mais alguns pontos no quesito liderança e habilidade política o vereador Gardel Rolim (PDT), depois do tenso primeiro dia de trabalhos na Câmara de Fortaleza na delicada temporada política que teremos em 2024. Na avaliação do prefeito José Sarto, de Roberto Cláudio e de Ciro Gomes (em especial deste último), o presidente do legislativo municipal saiu-se bem da confusão toda, que teve gritos entre vereadores, empurra-empurra, denúncia de agressão, choro etc, acalmando o que precisava ser acalmado e enfrentando o que exigia enfrentamento. A expectativa é de que haverá muitos capítulos iguais ao longo do ano, o que dá importância estratégica ainda maior à cadeira na qual Rolim está sentado.

O mapa petista do Crajubar

A decisão tomada no PT indica participação nas eleições dos três municípios do Crajubar com candidatos próprios. O deputado federal José Guimarães esteve por lá recentemente e deixou a coisa mais ou menos arrumada. Em Barbalha tudo parece resolvido e o atual prefeito Guilherme Saraiva, recém filiado, disputará reeleição sem qualquer resistência interna. No caso de Juazeiro do Norte, as chances de Fernando Santana ser o nome petista crescem a cada dia um pouco mais, só que há detalhes por definir com os aliados e a recomendação é de esperar ainda um tempo antes de bater o martelo. Problema mesmo está no Crato, onde o vereador Pedro Lobo avança nas conversas com aliados, inclusive com gente da oposição, sem ter a simpatia do atual prefeito, Zé Ailton Brasil, que fala de uma lista com sete nome para escolher a melhor opção. Aqui vai ser difícil fugir da realização de prévias, com tudo de problema que elas costumam deixar.

O PSB quer conversar

Declarações na semana da deputada Lia Gomes e do prefeito (de Sobral) Ivo Gomes parecem indicativos fortes de que no novo cenário o PSB, agora reforçado pelas adesões recentes, quer protagonismo nas eleições de 2024 em Fortaleza. A possibilidade de uma candidatura própria na sucessão de José Sarto, por exemplo, cresceu bastante e a crítica "educada" do senador Cid Gomes à ideia de hegemonismo do PT, que viria pela tentativa de conquista também da capital, indica um interesse real de discutir a aliança numa outra perspectiva. Com essa nota já sei que um amigo (fonte) irá me procurar para reforçar o que vem me dizendo faz algum tempo: "não desconsidere o Cid entre as candidaturas possíveis em Fortaleza". Já adiantando, não desconsiderei.

De Milei a Mileinator

Recomendo uma olhada mais atenta ao que acontece na Argentina para quem estranha a forma agressiva como Jair Bolsonaro, quando presidente, lidava com quem entendia oposição. Javier Milei, no poder lá desde 10 de dezembro do ano passado, refere-se a quem não for aliado como "narco", "delinquente", "criminoso", dentre outros termos da mesma família gramatical, inclusive nas referências aos governadores e intendentes (prefeitos). Irritado no limite com a situação que enfrenta no Congresso, onde não consegue fazer tramitar superdecreto que apresentou numa tentativa de quase reescrever a Constituição do País, usou suas redes sociais para reproduzir um meme no qual aparece matando (do verbo matar) vários dos desafetos, inclusive ex-aliados e aliadas, nominalmente citados na peça. A esse nível não lembro de termos chegado por aqui.

Novos Talentos

O curso de Novos Talentos é, hoje, a porta de entrada no Grupo de Comunicação O POVO. Há muita gente boa espalhada pelo mercado que foi selecionada e lapidada através do projeto, aliás, trabalho com dois destes exemplos e posso testemunhar nesse sentido tranquilamente. Dito isso, informo que as inscrições para nova turma estão abertas até o próximo dia 14. Exclusivamente on-line, elas devem ser feitas pela página oficial do programa: fdr.org.br/novostalentos. Exige-se que o estudante esteja cursando a partir do 4º semestre de Jornalismo em qualquer faculdade de Fortaleza, prevendo-se que os aprovados finais tenham aulas práticas nas editorias do O POVO.

 

Foto do Guálter George

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