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Memes, fake news e cheiro de campanha
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Memes, fake news e cheiro de campanha

Anda em alta a "indústria" do meme, da montagem capciosa, da informação deformada para atingir objetivos muito específicos, da mentira em situações mais claras. Há muito fogo cruzado, em que uma ideia de candidatura é atacada num certo contexto e aparece contra-atacando em outro
Tipo Opinião
1003gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 1003gualter

O mundo paralelo da política encontra-se a mil, em Fortaleza e na maioria dos municípios cearenses. Talvez seja possível dizer que o fenômeno é nacional considerando que teremos, em 2024, disputas locais pelo poder em 5.570 municípios brasileiros. Apenas o Distrito Federal poderá assistir de camarote aos acontecimentos eleitorais da temporada.

Significa dizer que anda em alta a "indústria" do meme, da montagem capciosa, da informação deformada para atingir objetivos muito específicos, da mentira em situações mais claras. Há muito fogo cruzado, em que uma ideia de candidatura é atacada num certo contexto e aparece contra-atacando em outro, porque o momento ainda é de decisões por serem tomadas no âmbito interno de alguns partidos e agrupamentos. Fogo cruzado e, em alguns casos, também "amigo".

O mais notório deles diz respeito à definição do candidato da aliança liderada pelo PT em Fortaleza. Uma parte dessa briga interna está expressa no noticiário político aberto que o público acompanha diariamente, mas uma outra, talvez até mais movimentada no momento atual, circula freneticamente no mundo virtual e chega em grande volume nos últimos dias aos telefones dos jornalistas, principalmente via WhatsApp, através de fontes que cuidam de espalhar as peças para fora dos ambientes restritos nos quais circulam agora sob a perspectiva de gerar influência no debate sobre a melhor opção de candidatura.

Claro que há muito mais acontecendo e que a coisa vai além da disputa petista ou, em certo sentido, do bloco governista. Denúncias chegam e saem o tempo todo disparando para todos os lados, algumas bem humoradas e se pode dizer que engraçadas, em geral circunscrevendo-se ao campo da atuação política dos "alvos", enquanto outras parecem graves bastante e merecedoras de uma apuração rigorosa diante do quadro apontado de desvios de recursos públicos. O anonimato é a marca da maioria delas, o que dá sentido à opção da coluna por falar do milagre sem qualquer referência ao santo, reforçando-se, apenas, que o cenário é generalizado e envolve, a essa altura, a maioria das forças que se organizam para as disputas eleitorais de outubro próximo no Ceará. A lista de poupados e poupadas é curtíssima.

 Por que, então, seria importante levantar o problema diante da decisão de não expor nomes? Pelo ponto em que a situação anuncia o que teremos na temporada oficial de campanhas que se aproxima, na forma de uma exploração dos instrumentos modernos de comunicação no limite do que são capazes de oferecer e, dentro do que deve preocupar mais, nem sempre respeitando a fronteira da ética e da responsabilidade política. A justiça eleitoral, que sabe bem disso, procura se armar dos instrumentos necessários, legais, materiais e institucionais, para fazer frente à insubstituível tarefa de garantir uma resposta do Estado na dimensão do desafio que terá pela frente. Oremos.

Luz amarela no Congresso

O deputado federal José Guimarães segue sendo uma das vozes mais influentes no PT do Ceará para as decisões eleitorais de 2024, sobre alianças, candidaturas e estratégias. Porém, Brasília começa a exigir mais sua presença no Congresso para, líder do governo Lula na Câmara, encarar melhor uma oposição que se mostra articulada. Foi uma semana ruim no campo político e começa a ficar cansada a ideia de que tudo é culpa do ministro da Articulação Política, Alexandre Padilha, de quem o poderoso Arthur Lira não parece gostar. Ninguém está conseguindo aceitar que o PL tenha emplacado dois bolsonaristas radicais nas estratégicas comissões de Constituição e Justiça e de Educação. A articulação que falhou no caso está na Câmara e não no Palácio do Planalto.

O sentido da polarização

É fácil de entender a insistência do presidente Lula em chamar Jair Bolsonaro para o ringue da política o tempo todo: pensando numa perspectiva de reeleição em 2026, e projetado o quadro de hoje, o recomendado parece ser mesmo manter uma polarização entre os dois. Duas das pesquisas ruins para o governo divulgadas na semana quanto à aprovação e popularidade, uma da Quaest e outra do Atlas Intel, confirmam isso em números. A Quaest pergunta aos consultados qual governo considera melhor, entre os dois últimos, e o resultado é: 47% para Lula, 38% para Bolsonaro. Aliás, mesmíssimos números do levantamento anterior, o que indica algum grau de consistência no pensamento da população sobre o assunto. Já o Atlas listou 16 temas e perguntou, entre um e outro modelo de gestão, qual o mais eficiente e o petista foi considerado melhor em todos eles. Faz sentido, assim, a estratégia dos governistas tão questionada.

Janelas escancaradas

A janela está aberta e a perspectiva é de que muita gente com mandato aproveitará o período que vai até o dia 5 de abril próximo para pular fora de onde se encontra abrigado hoje. Para se ter uma ideia, apenas na Câmara de Fortaleza faz-se um cálculo de que 18 vereadores devem mudar de legenda de olho nas eleições que se aproximam. Algo próximo de 40% de uma composição total que é de 43 parlamentares, em mais uma indicação de que há algo de muito errado na estrutura de funcionamento da nossa política partidária. Pior ainda é imaginar que se a oportunidade fosse dada aos deputados nesse momento, com a bancada do PDT em crise e outros problemas localizados, o movimento poderia ser ainda mais frenético.

O que é isso (ex)companheiro?

Ex-companheiros cearenses de luta de Aldo Rebelo, que com ele conviveram longo tempo na causa comunista, desde os tempos da ditadura militar, se diziam constrangidos com as notícias de sua vinda recente a Fortaleza para dar palestra em evento conservador organizado pelo Movimento Mais Democracia, que tem entre seus líderes o ex-governador Gonzaga Mota e a médica Maira Pinheiro, esta última uma estrela do bolsonarismo local. Em São Paulo, onde faz política, Aldo acaba de assumir a secretaria de Relações Internacionais e está cotado para ser o vice do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na sua campanha à reeleição. É difícil não ficar constrangido diante de tanto contorcionismo político, à parte qualquer juízo de valor sobre onde esteve ou onde está.

A dúvida é eleitoral

O deputado federal André Fernandes (PL) foi todo serelepe às suas redes sociais anunciar, ao lado do próprio, a vinda próxima do ex-presidente Jair Bolsonaro a Fortaleza para o lançamento de sua pré-candidatura à Prefeitura. É fato que isso anima e engaja a militância, que em geral precisa de pouca coisa para se motivar, mas ainda falta certeza de que se trate do apoio político que realmente interesse a quem queira ganhar a simpatia do eleitorado da capital. Bolsonaro mantém quase intacta, apesar dos pesares (se é que me entendem), sua capacidade de mobilizar gente em torno dele quando dos deslocamentos que faz País afora, mas não convém confundir isso com capacidade de transferir votos.

O poder do Tribunal

Alívio no Tribunal de Contas do Estado (TCE) com decisão definitiva do STF que lhe dá poder para interromper uma contratação por uma gestão pública, quando, provocado, concluir que o processo ainda em curso apresenta indícios de irregularidades. O caso envolvia uma prefeitura cearense que recorreu à justiça alegando que uma decisão do tipo do TCE estaria sustando contratos administrativos, extrapolando, portanto, o limite de sua atuação. O Supremo, com a unanimidade de votos dos seus 11 ministros, entendeu que cabe sim à Corte de Contas cearense exercer seu poder de cautela e é o que teria feito na situação analisada. A pendenga arrastava-se há anos e, dirimida a dúvida legal, melhora a segurança das decisões a partir de agora.

 

Foto do Guálter George

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