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Um só palanque para direita em Fortaleza
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Um só palanque para direita em Fortaleza

Há um ritmo frenético de conversas acontecendo no ambiente nacional, entre as cúpulas partidárias, que visam precipitar o processo e possibilitar uma aliança dos dois já para a fase da disputa de 6 de outubro próximo
1407_Guálter (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos 1407_Guálter

Por aqui a coisa segue tranquila para os pré-candidatos André Fernandes (PL) e Capitão Wagner (União Brasil), cada um na sua, acenando-se mutuamente para uma perspectiva de apoio em segundo turno em Fortaleza. No entanto, há um ritmo frenético de conversas acontecendo no ambiente nacional, entre as cúpulas partidárias, que visam precipitar o processo e possibilitar uma aliança dos dois já para a fase da disputa de 6 de outubro próximo.

O diálogo político que se realiza em Brasília envolve basicamente dois personagens importantes: Valdemar Costa Neto, pelo PL, e Antonio Rueda, pela UB, exatamente os presidentes das respectivas executivas nacionais. Caso a decisão estivesse nas mãos deles a gente já poderia dar o acordo como fechado, projetando um palanque único e um só candidato, seja ele Wagner ou André. Aqui o quadro ganha outra forma e a confusão começa.

A preço de agora, o maior interessado no desfecho feliz das conversas entre os dirigentes é o Capitão Wagner, de olho na força representada pelo movimento bolsonarista que André Fernandes encarna e representa. Um bloco político que sempre teve ao seu lado nas campanhas anteriores e sabe ele o quanto isso pesou para suas performances exitosas no primeiro turno, o que significa um risco objetivo de uma diferença negativa para sua campanha de 2024 prestes a começar.

Rueda, novo comandante nacional do UB, é muito próximo de Wagner, esteve em Fortaleza naquele evento de pré-lançamento da candidatura que aconteceu em junho e é, de verdade, quem mais tem insistido por um acordo imediato. A questão que se tenta colocar em pauta é o risco de uma divisão no chamado campo conservador abrir espaço para que a disputa acabe polarizada entre o prefeito José Sarto, do PDT, e seu desafiante do PT, Evandro Leitão, havendo quem calcule como muito possível, no contexto de uma direita apartada, irem os dois adversários ideológicos para um segundo turno. O pior dos mundos.

O que pode pegar, então? O bolsonarismo decidiu que precisará de um palanque nas principais cidades do País para defesa clara de suas ideias e, quando necessário (parecendo evidente pelos últimos dias que ele precisará muito), proteger a honra e a imagem do polêmico ex-presidente. É algo que vai além do PL original e do seu presidente nacional, Valdemar de Costa Neto, que, sobrevivente na política, está abraçado a Jair Bolsonaro apenas enquanto ele lhe servir aos propósitos de se dar bem.

Não é o caso de André Fernandes, disposto a comprar qualquer briga em nome de Bolsonaro. Cá entre nós, também há muitas dúvidas quanto à disposição real do Capitão Wagner, mesmo que haja um acordo e que o PL decida se vincular ao seu palanque já agora, de absorver 100% das causas e do estilo bolsonarista em sua campanha. Rueda e Valdemar seguem conversando, até demonstram algum otimismo, mas sabem de antemão que haverá muita dificuldade para levar às ruas o que for acertado nos gabinetes, entre as cúpulas. Agora, aceite-se como real a ameaça de a divisão tornar possível um avanço de Sarto e Leitão sobre espaços que antes lhes pareceriam inacessíveis.

A liberdade do senador

Paladino da luta pelo direito pleno a se expressar no Brasil, o senador cearense Eduardo Girão (Novo) anda devendo alguma manifestação pública de apoio aos jornalistas do O Estado de S. Paulo e da CNN Brasil, expulsos e até agredidos no encontro da direita brasileira realizado domingo passado em Santa Catarina. Sem que se saiba, afinal, quais "crimes" cometeram além de estar ali cumprindo uma pauta jornalística. Uma sugestão para ele, que preferiu ocupar seu tempo na semana convidando para mais um ato na Avenida Paulista, hoje, que terá como pauta principal a defesa da liberdade e de anistia para o pessoal que tentou golpear a democracia no começo do ano passado: aproveite seu momento de fala neste domingo, caso tenha, e diga algo em defesa dos profissionais da comunicação atacados. Talvez possa perceber ali como o conceito de liberdade é o que está na cabeça de cada um.

A visita faz sentido

A viagem à Colômbia do vice-prefeito Élcio Batista (PSDB) e do vereador Gardel Rolim (PDT), presidente da Câmara de Fortaleza, pode até ter sido para atender necessidades diante do calendário eleitoral, deixando-os eventualmente elegíveis para disputa parlamentar de 2024, mas a agenda cumprida pelos dois foi intensa e produtiva. Tanto na capital, Bogotá, como em Medelin, cidades com experiências interessantes no enfrentamento ao crime, a partir de políticas municipais. A expectativa é que alguma coisa do que conheceram por lá seja aproveitado no programa de governo de José Sarto à reeleição, a depender, claro, de como os dois serão integrados à campanha majoritária pedetista. Tem isso.

O empresário e a política

O nome do presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, começa a ser citado com mais desenvoltura para projetos político-eleitorais futuros. Mesmo que ele ainda não tenha sequer filiação partidária e que, por enquanto, tudo aconteça à sua revelia. Na semana, por exemplo, uma ideia de candidatura ao Senado em 2026 do influente líder empresarial - especulação de vez em quando feita em rodas políticas descompromissadas - foi lançada ao debate público pelo prefeito de Senador Pompeu, Antonio Maurício Pinheiro, o "Maurição" (PSB). Segundo sua leitura, a chapa ideal teria como candidatos às duas vagas ao Senado que estarão em disputa o próprio Ricardo Cavalcante e, tentando reeleição, Cid Gomes (PSB). O problema: uma equação do tipo que a essa altura não inclua o nome do deputado petista José Guimarães como uma das sugestões para a disputa pelas vagas no Senado terá pouca chance de avançar na aliança governista. Caso estejamos falando disso.

Voto agora, urna amanhã

Os posicionamentos nos parlamentos começam a considerar de maneira mais direta o efeito de cada um deles sobre a disputa eleitoral de 2024. Assim é que a análise pela Câmara de antipático projeto que anistia os partidos políticos de multas bilionárias, que aconteceu na semana, encontrou apoio em apenas 13 dos 22 deputados da bancada cearense. Por exemplo, André Fernandes (PL) e Dayane Bitencourt (UB), que é casada com o Capitão Wagner, votaram contra, ou seja, ninguém usará seus votos para gerar qualquer constrangimento às campanhas nas quais se envolverão em Fortaleza. Caso alguém, esteja pensando nisso, claro.

O boquirroto e o silêncio

O ministro, senador licenciado e ex-governador Camilo Santana decidiu mesmo pelo caminho do silêncio para responder aos insistentes, e baixos, ataques do ex-aliado Ciro Gomes. Voltou a ignorar o novo desafeto na semana quando, em entrevista ao canal de youtube do site Uol, Ciro chegou a chamá-lo de "rato", denunciando que na época crítica da Lava Jato ele o teria procurado para dizer que pretendia deixar o PT para se desvincular da imagem negativa de Lula, naquele momento. Ficar calado diante de tais situações, inclusive considerando que Camilo e Lula estão hoje mais próximos do que nunca e que na verdade percebível nunca largou a mão do líder petista, é uma forma de reagir e reconheço que costuma irritar bastante o interlocutor. Do ponto de vista da discussão pública, porém, acho que em algum momento haverá necessidade de respostas mais concretas de quem é insistentemente fustigado.

 

"Enquanto houver esperança para diminuir esse número de candidatos (da direita) a gente vai estar trabalhando para que isso aconteça"
" Capitão Wagner, pré-candidato do União Brasil que lidera as pesquisas em Fortaleza e que, claro, seria o beneficiário natural de uma composição entre as forças do seu campo político

Foto do Guálter George

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