Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
O que apareceu semana passada nas investigações da Polícia Federal é muito grave e apresenta como único caminho, se tudo devidamente comprovado ao final, uma punição dura e exemplar de quem tiver responsabilidade com tudo aquilo que aconteceu. E, especialmente, com a tragédia política que se descobre agora que esteve muito perto de acontecer. Havia um plano de atacar a democracia brasileira que envolvia, até, ações violentas contra autoridades, incluindo assassinatos, e que certamente nos levaria ao caos institucional.
É preciso, de início, identificar o papel de Jair Bolsonaro na sua importância real e, independente do que ainda for comprovado pelos investigadores quanto à sua participação concreta e direta, há evidência objetiva de que lhe cabe uma responsabilidade maior pelas tragédias registradas e também por aquelas, mais graves, que estiveram na iminência de ocorrer. Sua postura pessoal e política explica muito do que houve nos últimos anos em termos de instabilidade social, com os vários efeitos preocupantes que derivam disso.
Um gesto de Bolsonaro, simples, prático e que não lhe custaria qualquer esforço, teria, lá no final de 2022, acalmado o ambiente político nacional quase que de maneira imediata. O que normalmente se espera de um democrata que valha o nome ao participar de um processo eleitoral e sair dele derrotado é que reconheça a vitória do adversário e vá cumprir o papel a ele destinado pelo eleitor, ou seja, fazer oposição ao governo que se instale - e a mais dura e firme que tiver capacidade de oferecer. A equivocada opção, no entanto, foi por continuar animando aliados, correligionários e militantes, agindo ou omitindo-se, para que mantivessem uma postura de resistência ao resultado e de mobilização, inclusive com violência. Pelo que se sabia indefensável desde sempre.
Assim é que tivemos toda sorte de confusão derivada do mero inconformismo, desde fins de outubro de 2022, quando a eleição foi dada por encerrada e a justiça apontou Luiz Inácio Lula da Silva como vencedor da disputa presidencial. Vias interrompidas de maneira agressiva por manifestantes Brasil afora e adentro, pessoas transtornadas pelas ruas apelando livremente por uma intervenção militar, congressistas amigos atuando para agitar ainda mais uma gente incauta e, em torno de tudo isso, um governo e um presidente que insistiam em discutir saídas que buscavam levar à reversão de algo que se sabia irreversível. A menos que uma ideia de rompimento estivesse na mesa e sabe-se hoje, pelo que a investigação policial acaba de revelar em detalhes, que havia mesmo uma opção traçada de ir pelo caminho da violência como solução para o impasse artificialmente criado.
Claro que há necessidade de entender até onde ia o conhecimento do então presidente da República acerca dos planos criminosos do grupo que o cercava quando estava no cargo e tinha a responsabilidade de comandar o País. Portanto, também de zelar por sua institucionalidade. No entanto, o próprio silêncio e sua descarada omissão já bastam, diante do papel histórico a ele reservado pela situação, como indicativos de que a lista de punidos somente será justa tendo o nome de Jair Bolsonaro a encabeçá-la.
"Nada está perdido"
Jair Bolsonaro, em 9 de dezembro de 2022, falando às pessoas que seguiam mobilizadas nas ruas dia depois do encontro que teria tido com o general Mário Fernandes, conforme relato deste captado em mensagem interceptada pela Polícia Federal, na qual teria autorizado a execução de um plano que previa uma ruptura institucional no País
Deu-se aquilo que os mais experientes sabiam ser muito possível no processo de disputa pela cadeira na qual ainda está sentado hoje o deputado estadual Evandro Leitão (PT), que dia 1º de janeiro assume como prefeito de Fortaleza: Fernando Santana, também petista, não sustentou sua candidatura, apesar do apoio anunciado de até 39 deputados, dentre 46 no total. Era muita força concentrada numa só sigla e sabiam disso os envolvidos, o que torna a insistência na ideia ainda mais incompreensível. Até onde apurou a coluna, a melhor aposta agora é mesmo no nome de Romeu Aldigheri (PDT cidista), a opção que melhor encontra um ponto de confluência entre os interesses em jogo.
A transição em Fortaleza não está transcorrendo no clima que se esperava de colaboração e boa convivência. As primeiras reuniões foram até boas, mas à medida em que a turma que chega foi aumentando suas queixas com as informações que chegavam, avaliando-as como incompletas ou insuficientes, o desgaste passou a acontecer. Nem aqueles sorrisos contidos das primeiras reuniões aparecem mais nos registros oficiais distribuídos para a imprensa. Nada fora do roteiro, considerando que a memória das eleições segue viva entre eles.
Onde o clima também anda pesado, depois de um início até tranquilo, é em Sobral. Futuro chefe de Gabinete do prefeito eleito Oscar Rodrigues (União Brasil), José Crisóstomo Barroso Ibiapina, o Zezão, queixa-se da falta de transparência nas conversas com a equipe designada pelo atual ocupante do cargo, Ivo Gomes (PDT). Nesse caso, na verdade, trata-se de um grande avanço que se tenha conseguido pelo menos montar uma ideia de passagem de poder depois de uma campanha muito tensa e fortemente marcada pela troca de acusações. Mais até do que em Fortaleza.
O deputado federal André Fernandes (PL) pretende apresentar uma candidatura de seu agrado na disputa pelo comando da Câmara de Vereadores de Fortaleza, em janeiro de 2025. Caso seja com intenção de marcar posição, tudo ok, faz parte, mas caso sua intenção seja de fato ganhar a disputa contra um nome a ser apontado pelo prefeito eleito Evandro Leitão (PT) como expressão de um consenso, parecerá uma indicação de que aquele político centrado da época da campanha pela prefeitura ficou por lá mesmo e está de volta o voluntarioso que acha que pode tudo. Nesse sentido, tem a aprender com a turma de aliados da Assembleia, que responde positivamente a acenos de governistas e tende a se compor para integrar a futura mesa diretora da Casa.
Prestes a vivenciar sua primeira experiência pessoal na política como prefeito de Iguatu, Roberto Costa Filho (PSDB) começa a montar equipe e os primeiros nomes anunciados foram bem recebidos. No caso, o médico Leonardo Mendonça para secretaria de Saúde, a professora Maria Louzanira para pasta da Assistência Social e Clidenor Teixeira Filho para estratégica Chefia de Gabinete. Tudo gente da terra, que sabe onde está pisando e que se demonstra preparado para uma jornada que, promete o eleito, tem como ideia sacudir politicamente o município. Será o único prefeito tucano, com origem exitosa na iniciativa privada e há uma aposta de que lidere um processo de renovação de lideranças no partido.
Um craque reconhecido do direito eleitoral, o advogado Djalma Pinto lançou na semana seu livro "O direito e o comprovante impresso do voto". Sua ideia, basicamente, é "tirar a paixão do debate", em primeiro lugar, para, depois, no contexto de uma discussão elevada e acadêmica, justificar sua defesa de que o comprovante impresso do voto garantiria mais segurança ao processo eleitoral brasileiro. O que não dá, alega, é que o mundo siga, para qualquer assunto, dividido entre "bolsonaristas" e "petistas" a depender da posição que se tenha. O lançamento, quinta-feira passada, no Centro de Convivência da Unifor, foi bem prestigiada. Mais pela turma da direita, diga-se, embora não apenas por ela.
A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.