Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Há um certo sentido pedagógico, politicamente falando, na crise da vez que abala o cenário cearense a partir de uma séria denúncia apresentada pela ex-prefeita de Canindé, Rozário Ximenes (Republicanos), às autoridades do Ministério Público e da Polícia Federal. O que ela trouxe a público é um caso grave, envolvendo pelo menos 51 prefeituras cearenses e que colocaria como figura central o deputado federal Júnior Mano, acusado de deslanchar o processo de corrupção a partir de uma manipulação das tais emendas parlamentares.
É didático, no sentido pejorativo que o termo se permita absorver, porque o deputado que agora podemos definir simploriamente como socialista, por estar entrando no PSB, há bem pouco tempo era identificável como bolsonarista. Viagem rápida e direta, de um polo ao outro do mundo ideológico, sem escala.
O anúncio de filiação dele ao PSB aconteceu no final do ano passado, apenas, e pode-se dizer que sua trajetória de dois mandatos em Brasília está mais marcada por um alinhamento à direita. No entanto, naturalmente, o peso de encarar o escândalo recai sobre a sigla na qual está ingressando agora, sob pompas e circunstâncias.O que dá sentido à cobrança para quem alguém do partido diga algo sobre o que está acontecendo.
Eis um dos vários problemas derivados da nossa frouxidão ideológica, predominante nos partidos e entre os políticos, o que acaba por minar a força da própria democracia. É impossível exercê-la a pleno quando o movimento de troca de sigla acontece sem qualquer preocupação com a busca de localizar identidade programática, agregar forças que somem alguma identidade real entre si. Faz-se o cálculo político-eleitoral e ele parece suficiente para definir a conveniência ou inconveniência de cada movimento.
Claro que as denúncias feitas contra o parlamentar que chega agora ao PSB ainda precisam ser comprovadas. Sua versão de defesa, e não poderia ser diferente, refuta as duras acusações da ex-prefeita e reduz tudo a uma ação inescrupulosa de adversários sem votos. Pode ser, garanta-se a ele a presunção de inocência que nos serve a todos como ponto de partida, embora chame atenção a disposição que tem sido demonstrada pela ex-prefeita. Ao custo, diz ela, de pôr em risco sua integridade pessoal.
"Quando a gente se destaca, tem pessoas que torcem contra e fazem maldade para tirar a gente do caminho
"
Há consistência no que ela tem apresentado e o que se sabe é que a investigação tem permitido alguns avanços importantes e através delas foram obtidas provas que corroboraram o que está denunciado. Ou seja, a coisa já se encontra num estágio mais avançado do que apontavam as informações iniciais graves oferecidas pela denunciante. Lembremos, por exemplo, que o prefeito reeleito de Choró, Bebeto Queiroz (PSB), foi impedido de tomar posse e segue foragido porque está com a prisão decretada pela justiça por envolvimento com este caso.
A coluna, que espera uma apuração rigorosa e rápida de tudo, até como forma de provar logo a inocência dos inocentes, quer voltar ao foco específico que se propôs analisar, relacionado ao que ela expõe de fragilidade da nossa estrutura partidária. Um problema que tinha tudo para ser dos bolsonaristas e do bolsonarismo cai no colo do governismo representado pelo PSB devido à ânsia por atrair quem tem voto, algo, é inegável, que Júnior Mano apresenta até com sobras. O problema, conforme se percebe, está nos efeitos colaterais, que não serão superados apenas com o silêncio absoluto que até agora tem sido adotado.
Mesmo que tenha apenas o seu voto, o que é realmente possível, o cearense Eduardo Girão (Novo) confirma-se pré-candidato à presidência do Senado Federal. Com propostas até ousadas, do ponto de vista de quem olha de fora, mas bastante antipáticas àqueles que as observem de dentro. O problema, aqui, é quem decide a parada são estes últimos, exatamente os que usufruem dos privilégios que Girão promete acabar no ritmo da motosserra do argentino Javier Milei. E claro que está na sua pauta, se presidente da Casa, facilitar o caminho de julgamento de ministros do Supremo Tribunal Federal na perspectiva de afastá-los do cargo.
Para quem não está lembrado disso, ou não sabe, o secretário de Governo de Evandro Leitão em Fortaleza, Junior Castro (PT), segue presidente da Aprece, entidade que reúne os prefeitos cearenses. Sua despedida oficial do cargo se dará em evento que está organizando para os dias 28 e 29 próximos em Fortaleza, no Centro de Eventos, voltado para os novos gestores, que tomaram posse no primeiro dia do ano. Junior Castro encerrou dia 31 de dezembro o segundo mandato à frente de Chorozinho e também comanda a Aprece na condição de reeleito.
Nem aí para a lógica consagrada de que em time que está ganhando não se mexe, o novo prefeito de Sobral, Oscar Rodrigues (União Brasil), radicalizou e exonerou todos os diretores de escolas da rede municipal de ensino. Claro que boa parte de sua vitória na disputa contra o grupo dos Ferreira Gomes e a forte candidatura de Izolda Cela (PSB) se deve ao discurso de oposição e à perspectiva de mudanças que ele apontava. Será equivocado, porém, interpretar isso como indicativo de que estava tudo errado e nada poderia ser aproveitado, incluindo as pessoas. O município cearense, queira ou não seu novo prefeito, registrou avanços importantes na área, especialmente quanto às primeiras séries, e o resultado eleitoral do ano passado não apagará essa realidade.
Dois movimentos da semana indicam o tamanho do problema que terão os responsáveis por conduzir a conversa que pode levar a uma composição de consenso na chapa majoritária que o governismo do Ceará quer lançar em 2026. Uma partiu do PT, onde o deputado federal José Guimarães mandou um recado duro: "minha candidatura ao Senado é inegociável". Seu argumento é que já abriu mão de ser candidato duas vezes, anteriormente, e que chegou a hora dele ser o beneficiado da tese do entendimento. Outra questão a resolver mais adiante é que o Republicanos também já adianta que Chiquinho Feitosa será candidato, sem espaço para outra conversa. Como são duas vagas em disputa e ainda há os interesses do PSB (Cid Gomes vai à reeleição?) e de Eunício Oliveira (MDB), a conta não tá fechando. Na matemática e nem na política.
Há coisas que acontecem no governo Lula que seria interessante descobrir como nascem a partir da ideia. Por exemplo, quem terá bolado a programação da última quarta-feira para marcar o segundo aniversário do trágico 8 de janeiro em Brasília e conseguiu convencer os demais de que conviria realizar um evento de massas? Mesmo com a sociedade, infelizmente, desmobilizada em relação ao tema, o que tornaria fácil prever que o risco de esvaziamento era grande. Os acontecimentos ainda estão frescos em nossa memória, mas, talvez também por isso, está faltando a consciência na sociedade de que estivemos por um fio de assistir um retrocesso institucional. Ainda bem que do ponto de vista das instituições o interesse de investigar, julgar e punir segue no ritmo que o desafio impõe.
Aliás, calhou de o novo ministro das Comunicações, Sidônio Palmeira, ter o nome anunciando em meio a mais uma tormenta que o governo enfrenta por problemas na forma descuidada como anuncia seus feitos e medidas. A oposição conseguiu emplacar sua versão de que as mudanças no Pix que passaram a vigorar em 1° de janeiro representam uma taxação nas operações mensais acumuladas de R$ 5 mil (pessoa física) e R$ 15 mil (pessoa jurídica), algo que não está no texto. A realidade cuidará de mostrar o que é fato e o que é (desculpem o termo) narrativa, mas, até lá, prevalecerá o desgaste, não havendo certeza de que ele será recuperável no todo. Sidônio terá muito trabalho pela frente e, aparentemente, sabe disso.
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