
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Caiu como uma bomba dentro do governo do Ceará, e não poderia ser diferente, o assustador resultado da atualização do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que aconteceu na quinta-feira passada, dia 24. Não que as autoridades tenham sido surpreendidas pelos dados, dos quais já tinham conhecimento, mas choca perceber, quando as informações estão inseridas no contexto nacional e são quantificadas numa perspectiva comparativa, que o quadro seja tão alarmantemente ruim.
A indesejável liderança de Maranguape como a cidade com os piores índices de mortes violentas do País, dentre aquelas com mais de 100 mil habitantes, é uma péssima marca para uma gestão. O Brasil, que está longe de ter estatísticas civilizadas quando se trata de homicídios, cravou ano passado uma média de 20,8 registros a cada 100 mil habitantes, contra 79,9 do município da Grande Fortaleza, que seu filho ilustre Chico Anysio levou à fama nacional com tanta simpatia e bucolismo ao longo da carreira. Infelizmente, parte de um passado que o presente não honra.
Não dá, são números e estatísticas que ninguém pode aceitar. Claro que a agenda eleitoral está dada e a oposição não pode ser atacada caso jogue luz no tema e o explore no debate de campanha, muito embora pareça justo que se cobre dela alternativas reais de mudança do cenário. Apenas apontar que as coisas estão ruins pode ajudar à conquista de voto, na circunstância em que nos encontramos, mas não indicará o caminho de saída do quadro que é o que realmente interessa ao conjunto da população.
São números ruins, preocupantes, mas, abalos políticos à parte, ainda insuficientes para levarem a uma mudança de rumos na política que tem sido tocada na área. A leitura feita dentro do governo, que me parece correta, é de que os resultados têm acontecido, apesar de andarem longe de alterar o entendimento popular majoritário de que as coisas parecem erradas. Governar, muitas vezes, é ter convicção do que está fazendo e ser resiliente na opção por persistir em determinados caminhos acreditando que ele levará aos melhores resultados.
Certo é que algo precisa ser feito no imediato para chegar à sensação das pessoas, já que não se consegue perceber as tais melhorias estatísticas no quadro geral do Ceará. Foi o argumento que sacou o principal (e melhor) porta-voz que tem o governo atualmente, o secretário Chagas Vieira, da Casa Civil, assim que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública apresentou seus trágicos números do ano passado. Segundo ele pontuou, uma atualização mais recente, que considere o primeiro semestre de 2025, mostra, no caso de Maranguape, uma queda de 29% nos homicídios.
Lembrando-se que Maranguape é o objeto desta discussão pela indesejável liderança nacional entre cidades do mesmo porte, mas há outros representantes cearenses: Caucaia, com média de 68,7, Maracanaú, com 68,5, Itapipoca (63,8) e Sobral (53,9) são os outros representantes cearenses na desonrosa lista dos 20 mais violentos na faixa populacional analisada.
O que se discute nos laboratórios governistas, algo que faz muito sentido, é encontrar uma forma de despolitizar a discussão. Talvez assim se consiga espaço para fazer as pessoas verem que existe evolução dentro de um cenário bastante ruim e com estatísticas ainda longe do aceitável. A conclusão à qual se está chegando é que o secretário de Segurança Pùblica, Roberto Sá, que realiza um trabalho totalmente aprovado no âmbito interno, precisa ser trazido ao debate público para dar-lhe um pouco de verniz técnico onde se acredita que os dados oficiais positivos mais recentes podem encontrar espaço para ajudar na mudança de percepção do cearense sobre o que está acontecendo. É questão apenas de convencê-lo a trocar mais o gabinete pelas ruas.
O deputado Felipe Mota, do União Brasil, é quem mais tem demonstrado decepção pública com a mudança de rota do PL cearense, através de sua futura direção, ao anunciar candidatura própria ao governo do Ceará, meio que esvaziando a frente de oposição unida que se formava. Havia até disposição de manter uma agenda animada no recesso, segundo ele, mas desde a manifestação de André Fernandes ninguém tocou mais no assunto. Uma hipótese que o parlamentar começa a projetar é que os partidos fiquem livres agora para lançar nomes próprios, com acerto prévio de estarem juntos no segundo turno, caso aconteça. Era mais ou menos o que se imaginava que aconteceria em 2022, mas, como sabemos, a realidade atropelou.
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Há muito morador de bairros fortalezenses, especialmente de regiões periféricas, que até hoje espera o cumprimento pelo deputado federal André Fernandes (PL) da promessa que ele fez no discurso pós-derrota de, mesmo derrotado, continuar circulando pela cidade como uma espécie de acompanhamento crítico da gestão do prefeito Evandro Leitão (PT), que o derrotou ano passado numa apertada disputa eleitoral. Não há notícia de que isso esteja acontecendo, até porque, ficou demonstrado na semana mais uma vez, a disposição do jovem parlamentar segue concentrada nos atos de adoração ao ex-presidente Jair Bolsonaro. É meio patética a imagem dele ajoelhado ao lado do líder, quase que chorando pela tornozeleira eletrônica que a justiça lhe impôs. Acertadamente, ao meu ver.
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Parece interessante a iniciativa que estão tomando os dirigentes de Câmaras de Vereadores de municípios caririenses para uma ação articulada, como embrião de uma espécie de parlamento regional. Programa-se para os dias 21 e 22 de agosto próximo uma conferência no Centro de Convenções do Cariri para uma troca de ideias e experiências que pode, sendo a ideia bem conduzida, fortalecer bastante o trabalho dos legislativos. Claro que haverá diferenças ideológicas e partidárias a serem desconsideradas como forma de baixar o risco da ideia ser desviada do seu objetivo, especialmente diante do fato de estarmos às portas de mais uma temporada eleitoral.
Vamos combinar, há aspectos nos quais o Congresso Nacional está virando uma bagunça e isso não é democraticamente saudável. A gente tem um senador, Marcos do Val (Podemos-ES), que simplesmente ignora uma decisão judicial e faz uma viagem internacional, mesmo sabendo que está proibido. No âmbito da Câmara, um deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), se instala no exterior para, de lá, atuar explicitamente contra o interesse nacional, vangloria-se disso, ataca colegas de parlamento e autoridades, nem ai para as obrigações institucionais que o mandato lhe confere. Como ônus, não por opção. Davi Alcolumbre (PSD-AP), pelo Senado, e Hugo Motta (Republicanos-PB), em nome da Câmara, estão obrigados a tomar atitudes severas quanto aos dois casos. Um não pode seguir senador, outro nem tem como (talvez nem queira mais) continuar deputado.
A Política na Horizontal
PREFEITOS - Roberto Pessoa (União Brasil), prefeito de Maracanaú, é, reconhecidamente, um dos políticos cearenses que mais devotam admiração pelo Padre Cícero. Um dos gestos mais recentes nesse sentido foi a inauguração de estátua de 13 metros no município da Grande Fortaleza que, numa estrutura germinada, homenageia o religioso juazeirense e o Monsenhor Murilo de Sá Barreto.
Quando Pessoa era deputado federal e coordenava a bancada do Nordeste, as reuniões semanais do grupo eram marcadas por uma imagem destacada do religioso, como que pedindo sua proteção. Por isso, seu choro quase incontrolável ao receber recentemente do prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos), o título de Embaixador do padre Cícero.
DEFENSORIA - Elizabeth Chagas anunciou candidatura ao comando da Defensoria Pública Geral do Ceará, no caso dela representando uma tentativa de volta ao cargo, que já ocupou duas vezes em mandatos anteriores. Seria um segundo nome de oposição à atual ocupante do posto, Sâmia Farias, que tentará reeleição. A outra opção da turma do contra será Adriano Leitinho.
O modelo reproduz aquele que é posto em prática no caso da escolha do Procurador Geral de Justiça. Faz-se uma lista tríplice com os mais votados e a escolha final caberá ao governador, sem qualquer obrigação da parte dele de seguir a linha de preferência apontada, no voto, pelos defensores. Um colegiado de 368 nomes, muita gente, portanto.
SOBRAL - Oscar Rodrigues (União Brasil), quando candidato, era implacável nas críticas à prefeitura de Sobral pelo que denominava "indústria de multas" na área de trânsito. Imaginava-se, por isso, que chegaria mudando tudo na estrutura existente, considerado o compromisso de investir mais na educação e menos nas punições. Quem acreditou nisso anda frustrado.
A oposição diz que o novo prefeito, tão crítico antes com tudo, agora prorrogou o contrato com a empresa responsável pelos fotossensores por mais 12 meses, aumentou o valor mensal de pagamento para ela em 24,4% e adicionou mais 11 faixas para monitoramento eletrônico. Ou seja, o bicho que de longe parecia tão feio, de perto até que se demonstrou bonitinho. É o velho choque de realidade.
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