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O dia em que o discurso derrotou Ciro Gomes
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O dia em que o discurso derrotou Ciro Gomes

O mais correto de sua parte seria, se realmente concluiu ter sido injusto com o Capitão Wagner nas acusações contra ele, fazer um mea culpa honesto ao invés de transferir responsabilidade para o irmão, Cid Gomes
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CIRO Gomes discursa com Caiado, ACM Neto, Rueda e RC  (Foto: João Paulo Biage)
Foto: João Paulo Biage CIRO Gomes discursa com Caiado, ACM Neto, Rueda e RC

É de uma fragilidade assustadora a linha argumentativa que Ciro Gomes apresenta hoje para justificar os ataques graves que fazia, no passado, quando adversário dele, ao Capitão Wagner. Alegar, a essa altura e com toda a vivência política que acumula, ter sido mal influenciado pelo irmão, senador Cid Gomes, expõe uma pobreza retórica que não parece à altura de sua capacidade reconhecida de defender com competência pontos de vista nem sempre fáceis de sustentar.

O mais correto da parte dele seria, se realmente concluiu ter sido injusto com o Capitão Wagner ao acusá-lo de envolvimento com milícias, de financiar práticas criminosas com interesses políticos etc, fazer um mea culpa honesto e assumir que errou. Chega a ser ridículo que transfira a responsabilidade do que disse para o irmão, que segue sem fazer reparo à ideia negativa que tem sobre o que representa o comportamento do ex-deputado e presidente estadual do União Brasil para a política e o Ceará.

Um outro problema do novo discurso de Ciro em relação a antigos adversários, que costumava atacar ao seu estilo pessoal agressivo e definitivo, é o aspecto em que coloca em dúvida para o futuro aquilo que ele passou a dizer hoje. As mudanças de posição fazem parte da dinâmica política e, claro, alguém criticado agora pode ganhar elogios amanhã, e vice-versa, não chega a ser um problema.

O caso envolve mais do que apenas uma crítica, porém, há acusações graves que eram feitas e que não podem ser anuladas apenas por um discurso, por melhor que seja ele, de sentido político e objetivo eleitoral.

Pergunta-se, então: de quais informações novas Ciro Gomes dispõe para concluir, neste 2025 em que decide mudar de lado na estrutura política cearense, que os "condenados" de ontem são os "inocentes" de hoje? Faz sentido que ele, ao lado de uma figura como Antonio Rueda, presidente nacional do União Brasil, ataque e critique o irmão, e seus ex-aliados, por permanecerem ao lado de políticos sob investigação, acusados sim de malfeitos com dinheiro público, mas que ainda estão numa fase de defesa e lutando para demonstrar inocência?

Na política funciona assim, Ciro sabe disso mais do que eu e a média das pessoas. O Rueda que ele aceitava tranquilo e feliz ao seu lado enquanto falava mal dos novos antagonistas, é investigado pela Polícia Federal pela suspeita de ser dono oculto de jatos executivos utilizados no transporte de líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), com evidências muito fortes contra ele, não é coisa de disse me disse. O acusado nega, mas, por igual raciocínio, qual dos atacados no discurso de agora assume os próprios malfeitos?

Foto do Guálter George

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