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A crise que temos vai dos homens às instituições
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A crise que temos vai dos homens às instituições

Ministro da Educação, Abraham Weintraub (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Ministro da Educação, Abraham Weintraub

Dois pontos a serem observados em acontecimentos nacionais das últimas horas e dias que indicam o tamanho do enrolo no qual estamos envolvidos, moradores que somos de um País onde há autoridades sem a mínima noção do tamanho político do cargo que ocupam. E, ao mesmo tempo, em que órgãos públicos fundamentais ao equilíbrio institucional agem sob a desconfiança de estarem a serviço de um interesse "x", não necessariamente aquele que seria do Estado. É tudo isso muito ruim.

A autoridade sem noção é o ministro da Educação, Abraham Weitraub, um reincidente na arte de se demonstrar pequeno demais para a gigantesca tarefa a ele entregue junto com o cargo que exerce desde 8 de abril. As universidades públicas diante de uma crise que ameaça paralisá-las a qualquer momento, demandando soluções para ontem, e o senhor Weintraub ocupando-se de ir às redes sociais para fazer comentários inconsequentes e irresponsáveis, porque pautados apenas no aparente viés ideológico dos envolvidos, sobre ganhadores da Mega Sena em função do vínculo profissional que apresentam, funcionários que são do gabinete da liderança do PT na Câmara dos Deputados. Um debate pautado na molecagem e compreensível, às vezes, quando feito sob a visão desequilibrada dos extremistas militantes que não têm diante deles desafios como o que deveria exigir uma preocupação mais focada do agente público em questão.

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O Brasil estivesse em seus dias de normalidade a cadeira de ministro da Educação teria ficado vazia assim que o primeiro de sua série de posts sobre o assunto ganhasse as redes sociais. O que acontece, porém, é que não vivenciamos um momento de sanidade institucional, o que dá a Weintraub o direito de atitudes próximas à infantilidade política e tira muito da expectativa geral de que seja ele capaz de reencaminhar a educação brasileira no rumo de algo que sinalize o futuro. Sobre isso, tem-se hoje o mais absoluto vazio.

O cenário que naturaliza extravagâncias como as que Weintraub acumula no Ministério é o mesmo que torna necessário discutir as razões que levaram a Polícia Federal, com autorização de um ministro do Supremo Tribunal Federal, a mais uma vez invadir o Congresso Nacional para escacaviar as gavetas de um parlamentar. O limite tênue do equilíbrio entre os poderes se vê ameaçado, parece inevitável, nem fazendo diferença que o caso da semana envolva um senador grande, Fernando Bezerra Coelho, que hoje ocupa o cargo de líder do Governo. Ou seja, o que sua expressividade política impõe é que se abra um debate ainda mais agudo, considerando variáveis complementares, como o diálogo esfumaçado entre o presidente Jair Bolsonaro e setores importantes da Polícia Federal e do Ministério Público. Pergunta-se, com razões fundadas, até que ponto se pode dissociar a ação extrema da quinta-feira do incômodo aberto de agentes, delegados e procuradores com o comportamento invasivo institucionalmente do atual Chefe do Executivo?

É um quadro desalentador, por um lado, e assustador, pelo outro. Nos vemos cercados por gente de dimensão política claramente inferior ao tamanho da missão que o momento delicado do País impõe, restando esperar que a sociedade cumpra sua parte e aja dentro de sua competência para obrigar ao restabelecimento de uma ordem institucional. Não é questão ideológica, é política.

O "NÃO" À PALAVRA NÃO

O empresário Beto Studart, que promete agora mergulhar nos negócios depois de quatro intensos anos de vida pública como presidente da Fiec, deixará algumas marcas importantes, para além dos feitos políticos à frente da poderosa entidade cuja gestão acaba de transferir para Ricardo Cavalcante. O entorno que com ele trabalhava mais diretamente sentirá falta da obsessão contra o que ele entende como "negatividade". Por exemplo, o termo "não" é permanentemente excluído de suas conversas e de seus discursos.

É DEPUTADO OU PREFEITO?

É notória a mudança de espírito do deputado José Sarto (PDT) e de quem o cerca quanto aos planos para 2020. Uma fonte que não acompanha muito atentamente as coisas da política e, outro dia, teve a oportunidade de participar de evento ao qual o parlamentar estava presente, surpreendeu-se ao ver muita gente tratando-o de "prefeito". Não uma ou duas pessoas, várias, de acordo com o relato.

TIRE O VEREADOR DESSA

Alguém tinha que perguntar sobre o o assunto a Sarto, por curiosidade que fosse. "O quê", reagiu em tom interrogativo o parlamentar; "a história das pessoas chamarem o senhor de prefeito", devolveu a curiosa fonte da coluna; "não notei, mas devia ser com o Henrique", tentou escapar o deputado pedetista, referindo-se ao presidente da Câmara, Antônio Henrique, seu correligionário e aliado. Este sim, sem ter nada a ver com a história.

O TRABALHO NA JUSTIÇA

Um dos parlamentares com menos espaço vazio na agenda hoje em Brasília, relator-geral do Orçamento da União para 2020, o deputado federal cearense Domingos Neto (PSD) recebeu a cúpula da Justiça do Trabalho e ouviu apelo para que não seja feito mais nenhum corte na proposta encaminhada ao Congresso. O presidente do TST, ministro Brito Pereira, e o vice, ministro Renato Paiva, consideram que os números representam o limite possível para manter as coisas funcionando.

A ECONOMIA TEM LIMITE

Domingos Neto, acompanhado do senador Marcelo Castro (MDB-PI), presidente da Comissão de Orçamento do Congresso, não ouviu apenas pedido. Foi-lhe apresentado na ocasião um memorial com todas as medidas de economia interna adotadas para cumprir a lei do teto de gastos, desde a simplória redução de despesas com energia elétrica e água até a suspensão de projetos que demandam investimentos. A tarefa do parlamentar - por este e outros exemplos, em geral justos - não será das mais fáceis.

BATE PRONTO

Na Assembleia, sem dúvida, o grande responsável por manter o equilíbrio em meio a brigas de vários lados dentro da base será o deputado Júlio César Filho (Cidadania), líder do governo. Para ele, inclusive, o trabalho já começou, conforme ficou demonstrado na movimentada quinta-feira de tensão na bancada por pautas ligadas aos costumes, das quais, nesse momento, a turma do Abolição quer distância. Vejamos o que tem a dizer o parlamentar:

O POVO - O governo se saiu bem, na avaliação do senhor, do teste da quinta, com votações que dividiram a base?

Júlio César Filho - As últimas votações não trazem consequências para a base do governo na Assembleia. As divergências ideológicas entre os parlamentares são naturais. Por isso, na última quinta-feira, a base ficou livre para se posicionar conforme a consciência de cada um. Acredito que os autores dos projetos saíram ganhando com a aprovação das matérias.

OP - Será possível conciliar os interesses de tantos deputados até o final da campanha sem baixas pelo caminho?

Júlio César Filho - Acredito ser natural a disputa regional entre os parlamentares. Vários deputados disputam nas eleições municipais. Não acredito que a situação causará danos à base governista. Tenho certeza que o governador Camilo tratará a situação de forma republicana e democrática. Já em municípios onde um candidato é da oposição a dedicação do governador será, inevitavelmente, maior.

OP - Como líder do governo, qual o senhor entende que será seu papel para reduzir tensões dentro da Assembleia?

Júlio César Filho - Temos priorizado o diálogo com os parlamentares. O diálogo é também uma marca do governador Camilo Santana. O meu papel é fazer essa intermediação entre Executivo, Legislativo e sociedade civil.

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