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A "nova" política que não é nova e nem sadia
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A "nova" política que não é nova e nem sadia

Tipo Análise
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A semana definiu o fracasso da turma que chegou à política, como novidade, para salvá-la. Nas minhas contas, o ex-deputado Jair Bolsonaro nunca fez parte da equação, considerando os vários mandatos exercidos na Câmara com práticas iguais às dos colegas ou, no mínimo, com opção clara por um conivente silêncio diante de erros e desmandos. Mas, reconheço, a amplíssima maioria deles, entre os que foram eleitos no PSL para o Congresso e para Assembleias Legislativas espalhadas País afora, chegava com o crédito de ter pouco, ou nada, a ver com o quadro que trouxera ao descrédito quase absoluto da classe política brasileira.

Com menos de dez meses completos da era Bolsonaro, porém, o que se assiste acontecer é a mais aberta demonstração de despreparo para o poder que um grupo político seria capaz de oferecer. Todas as pessoas envolvidas nos imbróglios dos últimos dias, lembre-se, têm compromisso com a governabilidade e deveriam trabalhar, mais do que quaisquer outros no Congresso e no Executivo, por um ambiente político estável. Inclusive, e principalmente, a família Bolsonaro, quando, ao contrário, este foi o sobrenome que mais alimentou e animou a crise. Na verdade, a própria origem de tudo é uma observação desnecessária e gratuita do presidente da República durante inocente selfie com um admirador.

Recordando: o jovem fazia a foto ao lado de Bolsonaro e citou o nome de Luciano Bivar, presidente nacional do PSL, sendo-lhe sugerido que esquecesse o deputado pernambucano e não citasse seu nome, porque ele estava "queimado". Incompreensível, pelo menos no aspecto em que leva à rua uma questão que poderia ser tratada no âmbito interno, especialmente quando considerado o interesse do governo que ele foi eleito para liderar e do País que lhe cabe governar no momento. A sequência que veio depois, com tentativa de derrubar o líder na Câmara, manobra para dar o posto ao próprio filho, áudios terríveis captados e divulgados na imprensa, punições, bate-boca e uma baixaria generalizada, coloca muito em xeque a qualidade do que essa turma agregou à política brasileira.

No capítulo cearense, meu Deus do céu, outros vexames! Os deputados Heitor Freire (federal) e André Fernandes (estadual) já protagonizavam sua briga particular, faz algum tempo, e, claro, foram chafurdar também no lamaçal dos últimos dias, o primeiro, inclusive, suspeito de ser o parlamentar que vazou conversa com Bolsonaro (o presidente) que poderá lhes trazer muitos problemas. Ele nega. A coluna teve acesso a uma mensagem de Heitor na qual referia-se a André, em meio à confusão da semana, de uma forma desqualificada no nível mais baixo que o termo comporta.

Certamente, o incauto eleitor apostou em nomes novos ao votar no histórico 2018 sob a expectativa de que eles trariam uma renovação concreta nas práticas políticas. O resultado deve ser frustrante para quem apostou nisso, até agora, porque o debate não melhorou e o faz-tudo pelo poder permanece intacto, apenas com a substituição dos protagonistas.

LIMITE DE UMA BOA AÇÃO

O vereador Plácido Filho (PSDB) quer vedar ou revogar a concessão de isenção, incentivo ou benefício fiscal de iniciativa da prefeitura de Fortaleza a empresa envolvida em corrupção de qualquer espécie ou ato de improbidade administrativa. Ideia boa, mas, para que, para virar realidade, precisa mais do que ser votada e aprovada pelos colegas do tucano na Câmara.

O PRIMEIRO PASSO

É que, tratando-se de matéria tributária, a competência exclusiva para legislar é do Executivo. Ao vereador cabe, como é o caso, apresentar um projeto de Indicação, articular sua aprovação na Câmara e depois negociar com o prefeito para que ele aceite transformá-la em lei. Dá trabalho, mas Plácido diz estar disposto a cumprir toda a desafiadora caminhada.

JAPÃO À VISTA

Lembrando que a crise viajou.

VAI COM DEUS

O vereador Edyr Lincon, de Tauá, obteve algo bastante raro na política: uma autorização formal e legal do seu partido, o MDB, para deixar os seus quadros. Com direito a elegante carta de anuência, assinada de próprio punho pelo presidente da executiva estadual emedebista, o ex-senador Eunício Oliveira, marcada por elogios à trajetória de ética e de respeito às normas partidárias enquanto filiado foi.

A BONDADE ESTRATÉGICA

O contexto: Doutor Edyr é irmão do deputado Audic Mota e cotado para disputar a prefeitura de Tauá, contrapondo-se a uma candidatura do grupo de Domingos Filho. Este, o alvo real de Eunício com o gesto benevolente, pois ele anda às turras com o ex-aliado e ex-correligionário, hoje principal líder estadual do PSD e que comanda uma ofensiva de novas filiações na qual o MDB tem sido alvo destacado.

BATE-PRONTO

Há gente envolvida naquela onda avassaladora de 2018 que levou à vitória de Bolsonaro que, hoje distanciada, não esconde a decepção com o que acontece no entorno do governo. No PSL, com especialidade. É o caso do advogado Aldairton Carvalho, um operoso, influente e discreto dirigente do partido na época da campanha e que decidiu "se afastar do projeto". Ele analisa o cenário dos últimos dias e apresenta suas razões à coluna:

O POVO - Por que o PSL parece tão desunido?

ALDAIRTON CARVALHO - Quando aceitei o desafio de trabalhar a favor de uma agenda liberal, onde o Estado interviria cada vez menos na vida do cidadão e em que o mercado iria regular parte do desenvolvimento do País, confesso que me empolguei com os atores envolvidos no processo, Gustavo Bebianno, Paulo Marinho, Paulo Guedes entre outros, mas, no pós-eleitoral, com o protagonismo deles sendo diminuído e a influência de "aventureiros de plantão" eleitos pela onda Bolsonaro, assumi que o que está acontecendo hoje, era previsível, ao ponto de me afastar voluntariamente do projeto.

O POVO - Essa situação não pode prejudicar o governo?

ALDAIRTON CARVALHO - Não só ao governo, mas ao País. No sistema constitucional brasileiro, o Executivo depende organicamente do Legislativo, no caso, Câmara e Senado, e partir para uma governança, com sua própria base, que já era pequena, dividida, não só dificulta a sustentabilidade do governo, como também inviabiliza qualquer projeto de reforma, essenciais ao crescimento de nossa estagnada economia.

O POVO - Na briga entre as correntes do Ceará, o senhor tem lado?

ALDAIRTON CARVALHO - Dentro do PSL não tenho mais lado, mesmo porque não o considero mais o meu partido. A única coisa que me vincula ainda é a amizade e admiração que tenho pelo deputado Heitor Freire. Continuo acreditando que ele pode fazer muito por nosso Estado, em virtude do seu caráter e da sua disposição para o trabalho... No geral, falta "senhorio" aos representantes do PSL no Ceará.

Foto do Guálter George

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