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Os caminhos cruzados entre Bolsonaro e os ministros que o condenaram
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Guilherme Gonsalves escreve sobre política cearense com foco nas atuações Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) e Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), mostrando os seus bastidores desdobramentos no jogo político e da vida do cidadão. Repórter de Política do O POVO, setorista do Poder Legislativo, comentarista e analista. Participou do programa Novos Talentos passando pelas editorias de Audiência e Distribuição e Economia, além de Política. Também escreve sobre cinema para o Vida&Arte

Os caminhos cruzados entre Bolsonaro e os ministros que o condenaram

O ex-presidente foi julgado e considerado culpado por "pior governador" e pelo indicado por Temer, mas único voto a favor dele veio de nomeado pela Dilma
Tipo Análise
Alexandre Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin compõe a 1ª Turma do STF (Foto: Rosinei Coutinho e Luiz Silveira, ambos do STF)
Foto: Rosinei Coutinho e Luiz Silveira, ambos do STF Alexandre Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin compõe a 1ª Turma do STF

Jair Bolsonaro (PL) foi condenado a 27 anos e três meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por cinco crimes, entre eles, liderar uma organização criminosa para tentar permanecer por meio de um golpe de Estado.

Os que o julgaram foram os ministro da 1ª Turma do Judiciário. Como o roteirista brasileiro é mais criativo do que Quentin Tarantino, há algumas curiosidades e caminhos cruzados dos magistrados até darem uma sentença ao ex-presidente. 

Alexandre de Moraes: o algoz

Alexandre de Moraes é o principal alvo de ataques dos bolsonaristas e do próprio ex-presidente. Ele já chegou a chamar o ministro de "canalha", e proferir falas como "pede pra sair", "seja homem". Porém, Bolsonaro ajudou indiretamente com que Moraes chegasse ao STF. Recapitulo.

O governo de Dilma Rousseff (PT) enfrentava crise atrás de crise e surgiu a figura do então deputado federal Jair Bolsonaro, alçado como "mito" pelo Brasil, surfando nessa onda de críticas ao PT.

O Congresso Nacional aprovou o impeachment da Dilma em 2016, tendo Bolsonaro sido uma das vozes mais ativas contra a presidente. Assumiu o vice-presidente, Michel Temer (MDB)

Temer escolheu como ministro da Justiça Alexandre de Moraes, que era filiado ao PSDB, partido que começou os movimentos "fora Dilma" após Aécio Neves ter sido derrotado pela petista em 2014.

Morreu o ministro do STF Teori Zavascki, relator da Lava Jato, em um acidente de avião. Com isso, Temer fez uma indicação para a vaga. Ele escolheu Moraes, que foi aprovado contra a vontade do PT e se tornou magistrado na Corte. O resto é história.

Cristiano Zanin: Vade Mecum

Após o impeachment de Dilma, o PT ainda viu Luiz Inácio Lula da Silva ser preso pela Lava Jato pelo então juiz federal Sergio Moro, que viria a ser ministro da Justiça de Bolsonaro. O advogado do petista foi Cristiano Zanin.

Em 2020, o advogado protocolou no STF o pedido de habeas corpus que culminou na anulação das condenações de Lula, por entendimento da Corte de que os processos não deveriam ser julgados por Moro, incompetente no caso. Posteriormente, foi declarada ainda parcialidade do hoje senador.

Em 2023, Zanin foi indicado por Lula para ministro do Supremo Tribunal, com a aposentadoria de Ricardo Lewandoski, atual ministro da Justiça. Ele se tornou o presidente da 1ª turma, que julgou e condenou Bolsonaro.

Flávio Dino: "O pior"

Bolsonaro se tornou presidente em 2019. Na época, Flávio Dino era governador do Maranhão. Ainda naquele ano, o comandante da República criticou Dino em uma fala xenofóbica contra nordestinos e disse para um ministro seu "não dar nada pra ele".

“Daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada para esse cara”, afirmou o presidente, em conversa captada por microfones.

Na eleição presidencial seguinte, Bolsonaro foi derrotado por Lula, que indicou para o cargo de ministro da Justiça o senador eleito do Maranhão, Flávio Dino. Com aposentadoria de Rosa Weber no STF, Dino foi nomeado pelo presidente e aprovado para integrar a Corte.

Cármen Lúcia: a decisiva

Cármen Lúcia deu o voto decisivo para condenar Jair Bolsonaro em duas ocasiões que mudaram o rumo político e social da jovem democracia brasileira.

Em 2023, ela formou maioria no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para tornar o ex-presidente e o seu vice na chapa presidencial de 2022, o general Braga Netto, a oito anos de inelegibilidade, isto é, impedido de concorrer nas eleições. O placar final terminou 5 x 2 para a condenação.

Já em 2025, a ministra Cármen também deu o voto decisivo, desta vez para considerar Bolsonaro culpado por cinco crimes. Terminou o placar em 4 x 1.

Luiz Fux: o discordante

O único ministro do STF que integra a 1ª Turma que votou para absolver o ex-presidente de todos os crimes, considerando aliás, a corte como incompetente para julgar os processo, foi Luiz Fux.

Ele foi indicado ao cargo no Supremo em 2011 e aprovado com recorde de votos no Senado Federal. Quem era presidente da República naquele ano? Dilma Rousseff.

Resumindo

Fux foi indicado por Dilma. A mesma Dilma do PT, que sofreu impeachment em ondas que levaram Michel Temer à Presidência e ajudaram a alavancar Bolsonaro politicamente.

Temer indicou Alexandre de Moraes. Moraes votou para anular as condenações de Lula. Lula derrotou Bolsonaro nas urnas. Eleito, indicou Cristiano Zanin e Flávio Dino para o STF. Os ataques às urnas por Bolsonaro o tornaram inelegível com voto decisivo de Cármen Lúcia. Cármen Lúcia que deu o voto decisivo para condenar Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão.

Bolsonaro foi condenado com votos de Moraes, Dino, Cármen e Zanin. Fux votou para absolvê-lo.

Foto do Guilherme Gonsalves

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