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Há um ano, Evandro vencia André Fernandes na eleição mais acirrada da história de Fortaleza
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Guilherme Gonsalves escreve sobre política cearense com foco nas atuações Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) e Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), mostrando os seus bastidores desdobramentos no jogo político e da vida do cidadão. Repórter de Política do O POVO, setorista do Poder Legislativo, comentarista e analista. Participou do programa Novos Talentos passando pelas editorias de Audiência e Distribuição e Economia, além de Política. Também escreve sobre cinema para o Vida&Arte

Há um ano, Evandro vencia André Fernandes na eleição mais acirrada da história de Fortaleza

Entre momentos de tensão, nervosismo e celebração, Evandro diz que nunca deixou de acreditar na virada
Tipo Notícia
Comemoração de Evandro Leitão no comitê da campanha, após a vitória em 2024 (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Comemoração de Evandro Leitão no comitê da campanha, após a vitória em 2024

"Esse um ano pós-eleição me remete a 12 meses atrás, quando foi um dia extremamente tenso, desde quando eu me acordei, desde as primeira horas quando me acordei, fui votar e voltei pra casa. Fiquei em casa aguardando o início da votação", relatou Evandro Leitão (PT).

O político costumeiramente, em dias de eleição, passava o domingo rodando a cidade de Fortaleza para acompanhar de perto movimentações, sentimentos das ruas, mas não desta vez. Para se resguardar e pelo nervosismo, o então candidato a prefeito passou dormindo as horas mais tensas da eleição.

"Não acompanho a votação. Fico muito nervoso, confesso a você que eu dormi", afirmou à coluna em entrevista exclusiva no Paço Municipal. As horas entre o fechamento das urnas até o fim da apuração foram minutos eternos e apreensivos.

Evandro Leitão no Paço Municipal, em entrevista ao colunista um ano após a eleição(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Evandro Leitão no Paço Municipal, em entrevista ao colunista um ano após a eleição

A apuração

Fim da tarde de 27 de outubro de 2024, as urnas estavam fechadas e começava a apuração de quem seria o próximo prefeito de Fortaleza. Os olhos nacionais estavam voltados para a quarta maior capital do País. De um lado o bolsonarista André Fernandes (PL) e do outro o petista Evandro Leitão (PT). 

Urnas começam a ser apuradas, e foi voto a voto. Os candidatos trocam de liderança na parcial a cada mudança com poucos votos os separando. A cidade estava apreensiva tensa.

Na escala de cobertura, a mim caberia acompanhar o resultado no comitê de Evandro Leitão, na avenida Washington Soares. No caminho, passei em frente ao comitê central de André Fernandes, no São João do Tauape, e pude ver a chegada dos militantes, confiantes. Pouco a pouco, na apuração, Evandro começava a ampliar uma vantagem ainda muito pequena.

André Fernandes com o pai Alcides, no comitê, após a derrota em 2024(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES André Fernandes com o pai Alcides, no comitê, após a derrota em 2024

"2 mil votos. 3 mil votos. Já era", recebi a mensagem de um interlocutor político. "Vão ficar virando toda hora", respondi. "Já era", voltou a escrever a fonte. Eram 17h48min. Levou quase duas horas até o resultado ser confirmado. Evandro Leitão venceu André Fernandes por 10.838 votos, a disputa mais acirrada da história de Fortaleza. Já houve eleições por diferença de votos menor, em números absolutos, mas o eleitorado era muito menor. Proporcionalmente, foi a eleição mais equilibrada.

Proporcionalmente, a diferença foi de 0,76 ponto percentual. Em números absolutos, a menor diferença de votos foi registrada em 1988, quando Ciro Gomes derrotou Edson Silva com vantagem de 5.317 votos. Como o eleitorado era menor, a diferença foi proporcionalmente um pouco maior: 0,90 ponto percentual. Em 1988, não havia segundo turno e a definição foi em turno único.

Evandro acordou eleito prefeito

Evandro dormia e foi acordado pela família quando o resultado estava definido. O que era tensão, virou alívio e momento de celebração.

"Foi a minha família que entrou no quarto. Eu tava dormindo, todos eles entraram e me acordaram emocionados. Tava em família, com os amigos mais próximos. E a gente celebrou aquele momento, agradeceu a Deus de ter nos dado essa oportunidade de estar governando a cidade que eu nasci, cresci e eu devo tudo da minha vida a Deus, minha família e a minha cidade", relembrou.

Evandro Leitão é entrevistado no Paço Municipal pelo colunista Guilherme Gonsalves(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Evandro Leitão é entrevistado no Paço Municipal pelo colunista Guilherme Gonsalves

"A gente ganhou por menos de 11 mil votos. E ali a gente teve um momento de extravasar, porque não foi fácil você reverter a situação. No primeiro turno, o nosso adversário ganhou por 180 mil votos e você virar 180 mil votos não é fácil", disse.

Desafio da virada

Duas semanas antes do segundo turno, André tinha terminado o primeiro turno com quase seis pontos percentuais acima de Evandro. Fernandes "atropelou" as candidaturas do então prefeito José Sarto e de Capitão Wagner. Ele recebeu apoio de Wagner e de grande parte do PDT, então partido de Sarto, em união contra o PT.

"Até porque ele pegou toda a base do ex-prefeito e do terceiro, quarto e quinto colocado. Ele pegou praticamente todo mundo. Ele ficou com 90% da base do Sarto, de vereadores e lideranças, ele ficou com 100% do Wagner e o quinto lugar foi o (Eduardo) Girão (Novo) que ele também deve ter ficado com 100%", declarou Leitão.

Apesar da ampla vantagem conquistada no primeiro turno e com os apoios recebidos, Evandro admite que não se surpreendeu com a diferença e que em nenhum momento durante a dura campanha em busca da virada ele deixou de acreditar.

"Em nenhum momento eu fraquejei, achei que iríamos perder. Claro que numa campanha acirrada como foi, tensa como foi. Uma outra situação te entristece, uma posição ou outra de A e de B, isso é normal. Mas deixar de acreditar que a gente ganharia eu nunca deixei. Eu sempre que a gente pudesse ganhar essa eleição", disse.

"E terminamos ganhando da forma como foi. Acho que ainda teve um gostinho melhor", afirmou dando um sorriso durante a entrevista.

A festa do alívio

Cheguei ao comitê de Evandro ainda sem resultado definido. A militância chegava ao comitê vitorioso aos montes. Após a confirmação, todos celebravam e aguardavam o prefeito eleito. Deputados estaduais e federais e vereadores iam direto para o palco. "Deu certo", disse um, aliviado. "Eu que virei esses votos aí", brincou outro. A maioria chegava e passava esbaforida.

Evandro Leitão chega carregado ao palco no comitê de campanha após a vitória(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Evandro Leitão chega carregado ao palco no comitê de campanha após a vitória

Evandro Leitão chegou em um carro dirigido pelo ministro da Educação, Camilo Santana (PT). Os dois foram levados ao palco nos braços dos apoiadores. Bastante emocionados, Evandro e Camilo desabaram em chorar, desabafar soltando falas fortes contra os adversários. "Vencemos todos os arrogantes do Estado", exclamou Leitão.

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Ao relembrar, em conversa com a coluna, os episódios de um ano atrás, Evandro disse que os sentimentos das ruas eram mais favoráveis do que a ondas de apoio que o adversário recebeu entre o primeiro e segundo turno, inclusive com o ex-prefeito Roberto Cláudio entrando de cabeça na campanha.

"E foi isso o que aconteceu no final. A gente conseguiu reverter o quadro, conseguimos uma grande vitória, uma vitória que foi a resposta da população frente aí a uma onda da extrema direita, do bolsonarismo na nossa capital", declarou.

A responsabilidade de comandar Fortaleza

Evandro Leitão teve 716.133 votos de fortalezenses, sendo assim o prefeito mais votado da história na disputa mais acirrada. Ao final da longa conversa, ele falou de como o sentimento da vitória foi de felicidade, mas trouxe o senso de responsabilidade.

"Foi um motivo de muita alegria e muita responsabilidade. Tenho a compreensão da responsabilidade de estar à frente de Fortaleza com tantos problemas que nós temos. Eu amanheço cada vez mais reenergizado e eu quero retribuir com muito trabalho", contou.

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Ele admite que esperava receber a situação da gestão em desordem, mas foi pior do que as expectativas. Apesar disso, a delicadeza o coloca no desafio, assim como sua equipe, de superação. Ele acredita estarem dando conta da missão.

"Um primeiro ano muito desafiador, mas estamos conseguindo superar. Foi muita desorganização. Extrapolou aqui que eu achava. Mas quanto maior o desafio, mais vontade eu tenho de trabalhar. Bom que a gente explora nossa capacidade de superação", afirmou.

"E toda equipe da gente tem se superado muito. Eu tenho uma equipe muito aguerrida, muito talentosa, de secretários, gestores em todas as áreas. Trabalham e são extremamente comprometidos. Um ou outro destoa. Mas a média e a grande maioria das pessoas são extremamente comprometidas", completou.

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