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União Brasil, 2022 e as eleições no Ceará
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

União Brasil, 2022 e as eleições no Ceará

O novo partido nasce mega, porém repleto de divergências. No Ceará, haverá disputa pelo cpmando da sigla entre caciques ligados a diferentes correntes
Tipo Opinião
Chiquinho Feitosa (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Chiquinho Feitosa

Recém-criado, o União Brasil UB) já nasce sob o signo da divergência - dizer desunião talvez soe exagerado. No Ceará, por exemplo, os planos da megalegenda para 2022 dependem de que o comando do conglomerado partidário se situe na oposição ou na situação em relação à sucessão do governador Camilo Santana (PT). E há possibilidade tanto de um quanto de outro cenário ocorrer.

Chiquinho Feitosa, presidente do DEM estadual, é aliado do PDT de José Sarto, prefeito de Fortaleza cujo grupo inclui o governador petista. A se fiar nas palavras mais recentes do dirigente demista, nada faz crer que abrirá mão facilmente do diretório do UB, que, se aprovado pela Justiça Eleitoral, terá bancada de 82 deputados na Câmara, além de quatro governadores e oito senadores - uma máquina de arrecadação do fundo eleitoral.

À frente do Democratas já há algum tempo, Feitosa mostrou força sempre que esteve ameaçado. Sob risco de queda, manteve-se no posto, assegurando o apoio do DEM ao governismo. Foi assim, por exemplo, quando Capitão Wagner (Pros) tentou fisgar a sigla durante as tratativas que antecederam as eleições de 2020. Naquela ocasião, Feitosa venceu a queda de braço.

Mas agora o quadro é diferente. Wagner não está sozinho. Tem a seu lado o também deputado federal Heitor Freire, que presidiu o PSL até outro dia e ao lado de quem o parlamentar republicano é visto. Interessado na reeleição, Freire cedeu gentilmente o comando do PSL a Wagner, que deve mudar de endereço de olho na disputa pelo Governo.

Ora, o UB veio a calhar. É partidão, sem muita identidade ideológica, livre para se movimentar e disposto a encabeçar candidaturas nos estados, de modo a ajudar a ampliar a força da representação federal, principal critério para distribuição de recursos. O único problema: abriga duas alas cujos projetos são, num primeiro momento, conflitantes, e de cuja resolução o partido pode sair prematuramente dividido.

Uma corrente "ubista", abertamente bolsonarista e da qual Wagner é próximo, pleiteia apoio do novo partido à reeleição do presidente Jair Bolsonaro, ainda sem filiação. Outra, no entanto, postula candidatura própria, a se definir entre os nomes mais fortes que compõem a agremiação nascitura: o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, o presidente do Senado Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e o apresentador José Luiz Datena (PSL).

Acrescente-se ao trio o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro, também cortejado por setores do União Brasil - que, até aqui, não entraram em acordo sobre a necessidade e, mais importante, a conveniência de lançar uma candidatura ao Planalto.

Em comum a Moro, Mandetta, Datena e Pacheco, há o fato de que todos foram aliados de Bolsonaro, mas hoje se colocam do outro lado do balcão. Para um partido que acabou de nascer, ainda sem uma coluna vertebral ou uma feição programática clara, dividir-se radicalmente em dois grupos já na primeira grande disputa eleitoral não é um bom cartão de visitas - e ainda depõe contra o nome da sigla.

Somados os dilemas locais e nacionais, além das dificuldades naturais de acomodar planos tão diversos nos diretórios estaduais (no Ceará, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em ao menos outros sete estados), o que parece uma ideia e tanto pode se revelar uma arapuca.

Até 2022, quando se inicia a janela partidária e cada tribo vai pensar duas vezes onde vai amarrar o seu burro, há ainda tempo. Que o UB é uma força capaz de reconfigurar o quadro partidário e eleitoral dentro e fora do estado, disso não há dúvida. O problema são os inúmeros impasses que a fusão impõe aos principais atores políticos que passam a dividir o mesmo teto.

Foto do Henrique Araújo

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