Cid e Ciro já estiveram em lados opostos em outras eleições no Ceará
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Cid e Ciro já estiveram em lados opostos em outras eleições no Ceará
É possível que, em 2022, Ciro e Cid estejam novamente adotando posturas diferentes e divergindo sobre os rumos do grupo em mais uma eleição, sobretudo num cenário de polarização entre a governadora Izolda Cela e RC?
Embora irmãos e parte do mesmo grupo político, o senador Cid Gomes e o presidenciável Ciro Gomes, ambos do PDT, já estiveram em lados opostos em disputas eleitorais anteriores.
A primeira foi ainda em 2008, na campanha à reeleição de Luizianne Lins (PT), à época prefeita de Fortaleza. Candidata a novo mandato, a petista descartou um vice do próprio partido para acolher uma indicação que representasse Cid, governador do Estado, na chapa.
O nome escolhido foi o de Tin Gomes, que acabaria sendo eleito vice-prefeito, ainda no primeiro turno, ao lado da chefe do Executivo municipal.
Ciro, porém, lançou outro candidato naquela disputa – melhor, uma candidata. Senadora da República e ex-esposa do então deputado federal pelo PSB, Patrícia Saboya entrou no páreo contra Luizianne e Moroni Torgan (DEM), mas terminou a eleição com apenas 15,47% dos votos, em terceiro lugar.
Ao fim do pleito, e com a derrota da aliada já dada como certa, o deputado se queixaria de que Luizianne soubera tirar proveito da força de Cid e do então presidente Lula (PT).
Em 2010, nova divisão. Enquanto Cid, candidato à recondução ao Palácio, adiou um possível entendimento com o senador Tasso Jereissati (PSDB), que pleiteava novo mandato, Ciro tentava costurar um acerto. Sem sucesso.
Pressionado, de um lado, por Lula, que cobrava apoio a José Pimentel (PT) e a Eunício Oliveira (MDB), e, do outro, por Tasso, que desejava selar uma aliança, Cid deixou o tempo correr, adotando estratégia bem a seu modo.
Foi então que o próprio parlamentar tucano se encarregou de romper o pacto com os irmãos, de quem só se reaproximaria 12 anos depois.
Reeleito governador com folga, Cid comandou a máquina estadual até 2014, ano em que faria do secretário de Cidades, Camilo Santana, o seu sucessor no Abolição.
Nesse meio tempo, ainda elegeu o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (2012), após rejeitar o nome apresentado por Luizianne para a sua sucessão no Paço (Elmano de Freitas, do PT).
Em 2018, os Ferreira Gomes também acabariam assumindo posições diferentes no bloco aliado. Candidato ao Senado, Cid manteve encontros sistemáticos com Eunício, que buscava a reeleição. Neles, apalavrou apoio ao emedebista, que não se concretizaria na prática, segundo relatos, por oposição de Ciro.
Eunício, como se sabe, não seria reeleito naquele ano. As duas vagas de senador para o Ceará foram preenchidas por Cid e Eduardo Girão (Podemos). De acordo com ele, a culpa por seu revés nas urnas se deve unicamente a Ciro e a Roberto Cláudio, que não teriam cumprido acordo firmado.
O histórico do clã de Sobral fala por si. Em sua trajetória, houve momentos de coesão, mas também de demonstração aberta de discordância – como foi em 2008, quando tomaram caminhos diversos nas eleições, mas também em 2010 e em 2018.
Em nenhuma disputa, porém, a preservação do poder político do grupo esteve sob ameaça como está agora. Nem nunca o processo decisório esteve envolto em tanta tensão, que se potencializa com o desempenho ruim de Ciro na corrida presidencial até aqui.
Talvez isso explique que, mesmo eventualmente alinhando-se com pré-candidaturas diferentes (Izolda e RC), os irmãos tenham preferido manter esse racha no âmbito privado. E que, para evitar desgastes com o mais velho da família, Cid tenha submergido.
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