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Elmano adota discurso "linha-dura" em posse de secretário
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Elmano adota discurso "linha-dura" em posse de secretário

Essa metamorfose no Governo é sintomática da nova diretriz para o setor pretendida por Elmano como resposta a um cenário de crise
 Governador Elmano de Freitas empossa novo titular da SSPDS, Roberto Sá (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Governador Elmano de Freitas empossa novo titular da SSPDS, Roberto Sá

A posse do novo chefe da SSPDS nesta segunda-feira (3) foi recheada de simbolismos, dos quais destaco a conversão de Elmano de Freitas (PT) a um certo discurso linha-dura, mais frequente no vocabulário de uma direita bolsonarista do que propriamente num gestor de partido de esquerda.

Nele, o governador falou em “caçar e prender bandidos”. E não é a ação que importa, mas a forma. Também disse que, nesta “nova fase”, a “segurança pública no Ceará se transforma ainda mais neste momento na prioridade política, orçamentária e financeira” do estado.

Os números da criminalidade até justificam essa guinada – na verdade, exigem. Mais uma vez, a novidade aí é essa modulação política na fala de Elmano.

Sob pressão de uma oposição representada por nomes identificados com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sinaliza para uma estratégia de esvaziamento ou neutralização das críticas, mostrando-se disposto a empregar as armas (retóricas) dos adversários, algo que o governo Lula tem dificuldade em fazer com receio de ferir as suscetibilidades de sua base progressista.

Alçado à cadeira de titular da Segurança, Roberto Sá, por sua vez, recorreu à mesma terminologia bélica, mas fez uma ressalva: “Nós caçaremos (os criminosos) dentro da legalidade, mas os caçaremos, no sentido de buscar onde quer que estejam”.

Essa metamorfose no Governo é sintomática da nova diretriz para o setor pretendida por Elmano como resposta a um cenário de crise, como a coluna havia antecipado.

Não é casual, então, a escolha dessa “paleta linguística”, digamos assim, repleta de palavras cujo sentido apontam para um endurecimento do combate ao crime, sinalizando uma passagem para outro patamar nas políticas voltadas ao segmento. Sai o caráter mais frouxo e um quê de permissividade que imperavam. Entra a lógica do ultimato.

Se o discurso irá se consubstanciar em prática, todavia, são outros quinhentos, mas o desejo no Abolição é de que, como declarou o governador, “precisamos garantir mais presença na rua”. Ou seja, é de efetividade que se trata, mas também de visibilidade. “Nosso povo”, continuou o petista, “tem que nos enxergar na rua para protegê-lo”.

Essa visibilidade, claro, começa desde o ato em si de instituição do novo momento da segurança, com a presença de autoridades dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), mais as lideranças políticas e a base parlamentar em peso, na qual desponta o pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza Evandro Leitão (PT), que preside a Assembleia.

Tirante a posse em si de Elmano no Governo do Estado, a cerimônia de hoje foi a mais importante nesse quase ano e meio de seu mandato como governador.

Há nesse movimento uma mensagem evidente, que pode ser sintetizada como uma tentativa de demonstração de força mediante uma composição de esforços dos entes ali representados e em apoio ao gesto do chefe do Executivo.

Eleitoralmente, o ato de oficialização do secretário no cargo se traduz ainda como um contra-ataque do governo aos adversários de 2024 – e numa linguagem que o eleitorado mais conservador interpreta com facilidade, reconhecendo-a como sua.

Foto do Henrique Araújo

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