Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Quase duas semanas depois de comunicar a aliados que havia rompido com o governador Elmano de Freitas (PT), o senador Cid Gomes (PSB) se mantém em silêncio. Dele não se conhece palavra que indique nem que continua na base do Abolição, nem que passou ao outro lado do balcão. E isso importa a esta altura, com a troca de candidato ao comando da Assembleia Legislativa já concluída com algum sucesso (saiu o petista Fernando Santana, entrou o pedetista Romeu Aldigueri) e a página supostamente virada?
Apenas se se considerar que, durante toda essa crise fabricada internamente, não houve gesto público do ex-governador que sinalize que o recuo na definição do nome para presidir a Alece atenuou divergências que, me parecem, não têm relação apenas com a corrida pela cadeira onde hoje se senta Evandro Leitão (PT). Ou seja, Cid não disse exatamente o que o levou a ameaçar ruptura com Elmano, tampouco se a escolha de Romeu o contempla totalmente, a ponto de fazê-lo reconsiderar o que afirmara a interlocutores.
O buraco, então, é mais para baixo. Por conveniência, sabe-se que o bloco governista e o senador devem levar a situação assim até quando for possível, simulando normalidade.
Romeu e o "caminho natural"
Escolhido para capitanear a mesa-diretora da Alece, Romeu Aldigueri assegura: não deve se filiar a outra sigla que não a de Cid e Eudoro Santana, dirigente pessebista. "A ideia é todos irem para o PSB. Deve ser o caminho natural", respondeu o deputado à coluna após questionamento sobre seu futuro partidário. A declaração põe fim aos rumores de bastidor segundo os quais o ainda pedetista tinha em mente outro endereço, o PT, seja por relações pessoais com a legenda, seja para se cacifar em projetos futuros numa estrutura com mais musculatura. Sua migração para o partido de Elmano e Camilo Santana, no entanto, faria o jogo na Assembleia voltar à estaca zero, já que a origem da queixa de Cid era (ainda é?) o que o parlamentar considera como concentração excessiva de poder no PT.
A briga pelo União Brasil
Hoje sem filiação, o deputado federal Júnior Mano (cuja esposa foi apoiada a prefeita por Camilo contra nome do próprio PT em Nova Russas) fez movimento em direção ao União Brasil. A intenção, conforme relatos, era capturar a sigla para a esfera do governismo - mas sem sucesso. Atual presidente estadual do União, Capitão Wagner está garantido no posto até 2027, como informou. Para ele, a investida de Mano tem DNA "200% do governo". Não é a primeira vez que o Abolição empreende esforços para atrair o UB.
Antes de o diretório local cair nas mãos de Wagner, ainda em 2022, houve disputa apertada com Chiquinho Feitosa, que postulava a mesma função, de modo a levá-lo para o arco de sustentação de Camilo. Lá como agora, a operação foi malfadada. À coluna, Mano negou que tenha mantido tratativas com o União. "Não houve (procura por ingresso) em nenhum momento", respondeu, acrescentando que, "até onde sei, quem irá é Roberto Cláudio".
Sarto e o risco de desmonte
Constituem motivo de preocupação os sinais emitidos pela gestão do prefeito José Sarto (PDT) na reta final de uma administração que, embora rejeitada nas urnas em 2024, tem bom cardápio de realizações a deixar como legado. O caso do IJF é apenas o mais agudo por tudo que implica e por se tratar da maior unidade de trauma do Estado. Há, todavia, o do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), cuja desativação foi sustada somente por força da pressão do Ministério Público. De todo gestor, sobretudo os não reconduzidos, o que se espera é que conclua seus trabalhos com o mesmo zelo com que lhes deu início.
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